Combustíveis: Avanço sobre este segmento tem a distribuição de etanol como maior atrativo
Os principais grupos distribuidores de combustíveis do Brasil estão focando sua expansão sobre os postos de bandeira branca - aqueles que não têm vínculo com nenhuma empresa e podem comprar produto no mercado livre - e também sobre pequenas redes ou distribuidoras regionais, como forma de aumentar seu portfólio, sobretudo no segmento de etanol.
Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que os postos de bandeira branca no Brasil representam 40% dos 36 mil estabelecimentos espalhados no país. As empresas associadas ao Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas de Combustíveis e Lubrificantes), que representam 80% do mercado nacional de combustíveis (gasolina, etanol e óleo diesel) do país, negociam 75% da gasolina comercializada e entre 55% e 60% do etanol hidratado, segundo Alísio Vaz, diretor do Sindicom. A diferença, até 45%, está nas mãos das redes de bandeira branca.
Com o mercado praticamente consolidado no Sul e Sudeste do Brasil, grandes empresas começaram a buscar sua expansão nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. Para bancar sua expansão, o grupo anglo-holandês Shell tem investido de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões por ano para crescer, seja por meio de bandeiras brancas ou por aquisições regionais, disse ao Valor João Alberto Abreu, diretor de vendas da companhia no Brasil.
Depois de dez anos fora do mercado do Centro-Oeste, a Shell fez parceria com a rede Simarelli, operando os cerca de 50 postos no Mato Grosso. Entre 2007 e este ano, a Shell embandeirou cerca de 650 postos, segundo Abreu. A companhia tem 3 mil postos próprios espalhados pelo país.
O grupo Cosan - tradicional do setor de açúcar e álcool -, que no ano passado adquiriu a multinacional Esso e assumiu a gestão dessa marca, anunciou oficialmente esta semana a compra da Petrosul. Concentrada em São Paulo, essa rede tem maior penetração em Estado no mercado de álcool. Embora seja considerado um negócio pequeno, representando 0,3% do faturamento liquido da Cosan, a expansão do grupo será feita dessa maneira, como forma de se consolidar entre as maiores do país. O foco envolve também bandeira branca.
Segundo Marcos Lutz, presidente da Cosan, o grupo deverá buscar oportunidades para expandir na área de combustíveis. A expectativa de embandeiramento é de 200 postos até o fim da safra 2009/10, que se encerra em março. O grupo, que conta com cerca de 1.700 postos, deve abocanhar outros 150 a 200 postos a partir de 2010/11.
No ano passado, a Cosan, até então a maior companhia de açúcar e álcool do mundo, deu um passo ousado ao pagar US$ 1 bilhão (incluindo dívidas) pela rede Esso no Brasil, que pertencia à companhia petrolífera ExxonMobil. Nesta operação, a companhia desbancou pesos pesados, como o grupo Ultra, que também cobiçava os ativos da petrolífera.
A região Nordeste, que tem um perfil mais pulverizado, deverá ser o foco dessas grandes companhias, que já possuem posição consolidada no Centro-Sul. Mas é nesta região que os postos de bandeira branca dominam grande parte do comércio de etanol.
Seguindo a mesma tática, o grupo Ultra, que controla a rede de postos Ipiranga, com mais de 5 mil pontos de venda no país, incluindo a Texaco - que adquiriu no ano passado -, também vê a região Nordeste e Centro-Oeste como fronteira para sua expansão. Com uma participação de quase 25% no mercado nacional em todos os combustíveis, a empresa mira os embandeiramentos de redes no Nordeste e Centro-Oeste. André Covre, diretor de relações com investidores da empresa, observou, em recente entrevista ao Valor, que cerca de 20% dos combustíveis negociados no país estão em poder de redes de bandeira branca.
Fontes ouvidas pelo Valor afirmam que no caso do álcool esse volume chega a ser mais que o dobro. O mercado do álcool combustível, inclusive, é um capítulo à parte, uma vez que a sonegação do combustível por ano chega a R$ 1 bilhão, de acordo com Alísio Vaz, diretor do Sindicom. As mesmas fontes afirmam que algumas distribuidoras deixam de colher alguns impostos na venda de álcool. O Estado de São Paulo está criando restrição para os sonegadores, afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar).
Para Marcelo Alecrim, presidente da rede AleSat, a tendência é de que distribuidoras pequenas façam aliança para ganhar maior robustez na competição com os grandes concorrentes. A companhia é fruto da união em 2006 entre as redes mineira Ale, controlada pela holding Asamar, e a potiguar Sat. O fundo americano Darby tem 34% da holding que controla a Sat.
Desde o fim do ano passado, a companhia incorporou a rede Repsol e Polipetro. E se a AleSat, que constantemente é alvo de cobiça de grandes grupos do setor, não for incorporada, deverá investir cerca de R$ 200 milhões nos próximos dois anos para promover sua expansão, dos atuais 1.700 postos para 2.500 até 2012, afirmou Alecrim.
Procurada, a BR Distribuidora, controlada pela Petrobras que é a maior rede do pais, com 6 mil postos, informou que não iria comentar sua estratégia nesse setor.
Veículo: Valor Econômico