País tem cerca de 16 milhões de adeptos, que ainda carecem de produtos e serviços específicos para atendê-los. Mercado de itens naturais deve movimentar R$ 55 bilhões até o fim do ano
São Paulo - Com uma comunidade formada por cerca de 16 milhões de pessoas que se declaram vegetarianas (8% da população total), segundo o Ibope, o Brasil é um dos países com o maior número de adeptos dessa filosofia de vida.
No entanto, apesar do número expressivo, a oferta de produtos e serviços voltados a esse nicho ainda é deficitário. Em 2014, a quantidade de restaurantes com esse tipo de alimentação no Brasil era de 205, volume considerado baixo pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). "O número tem crescido nos últimos anos, mas acreditamos que ainda há uma demanda reprimida bastante significativa", diz Guilherme Carvalho, secretário executivo da SVB.
Para Carvalho, a carência por produtos que não tenham origem animal - e que englobam não apenas o segmento de alimentação - pode sugerir oportunidades para a realização de negócios. "Ao abrir uma empresa com essa filosofia, o empresário vai encontrar demanda imediatamente", afirma.
Com apenas um ano de funcionamento, o restaurante vegetariano Barão Natural, localizado em Campos Elíseos, na região central de São Paulo, viu seu faturamento aumentar dez vezes.
Os proprietários decidiram abrir outros dois pontos no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. "Começamos servindo cerca de 30 refeições por dia. Hoje, somando os três restaurantes da rede, servimos cerca de 500 pratos. É realmente um negócio bastante lucrativo", diz Mônica Buava, uma das sócias do Barão Natural.
Produtos naturais
Conceitos associados ao vegetarianismo, como o de comida saudável, reforçam o potencial de negócios nesse segmento. De acordo com a Associação Franquia Sustentável, o mercado de alimentos saudáveis deve movimentar R$ 55 bilhões no País até o final de 2015. "É imensurável calcular quanto dinheiro além desse valor mencionado o mercado pode movimentar, já que o negócio vegetariano vai além da alimentação", diz.
Carvalho acrescenta que, no mercado vegetariano, o empreendedor pode aproveitar parte da demanda por produtos naturais, que também cresce ano a ano. "As pessoas estão, notadamente, buscando se alimentar de forma mais saudável. Os restaurantes vegetarianos absorvem grande parte desse público, por mais que elas tenham o costume de comer derivados de animais, como carne e frango", diz.
Coordenadora do Centro de Empreendedorismo da FAAP, Alessandra Andrade concorda com a percepção de que o segmento vegetariano é uma tendência pouco explorada no País. Mas alerta para a atual conjuntura econômica, que pode atrapalhar negócios em qualquer área. "É um mercado ainda novo no Brasil e que oferece bastante oportunidade, até pelo pensamento sustentável que ele transmite. Mas o momento não é favorável para empreender", alerta.
Para Alessandra, o empresário que está decidido a entrar no mercado deve evitar contrair dívidas ou financiamentos. "Os juros estão mais altos - e as pessoas, gastando menos, consumindo apenas o necessário. É preciso que o empreendedor tenha criatividade na hora de abrir o negócio e, para evitar riscos, possua uma boa reserva financeira", diz.
Segundo a coordenadora, uma boa forma de aproveitar a carência do mercado é entender, dentro do nicho escolhido, o que os consumidores estão procurando. "Explorar algo que ainda não exista no mercado é um diferencial importante para obter sucesso no negócio", aponta.
Tanto Alessandra, da FAAP, quanto Carvalho, da SVB, destacam a alimentação rápida como opção viável de negócio no mercado vegetariano. Além de mencionarem os food trucks e os serviços de alimentação com delivery, eles consideram que o e-commerce voltado a esse mercado ainda carece de opções.
Além dos restaurantes
Há 15 anos, a empresária Clélia Angelon decidiu que o melhor seria investir em cosméticos que não realizassem testes em animais e fundou a Surya Brasil. A marca hoje é reconhecida por criar cosméticos à base de ingredientes naturais e óleos essenciais, livres de substâncias químicas, além de ser certificada com os selos Vegan, que atesta o respeito aos animais, e o Ecocert, para produtos orgânicos.
Para Clelia, além de aproveitar uma carência do mercado, a fundamentação na ética ajudou a expandir os negócios da marca. "Hoje exportamos os nossos produtos para mais de 40 países, inclusive o Japão. Estamos em 95% do território norte-americano. Isso tudo foi resultado de muita pesquisa e muitos desafios", comentou.
Um desses desafios, segundo ela, é buscar matéria-prima que atenda as especificidades que o público vegetariano exige. "A dificuldade nos fez buscar materiais até na Índia", conta. No ano passado, a empresa cresceu 12%. Para este ano, apesar do momento econômico desfavorável, Clélia diz manter uma previsão mais otimista: espera até dobrar as vendas da marca. "Acabamos de abrir um e-commerce no mercado americano e ele tem superado as nossas expectativas. As pessoas estão buscando produtos que não agridam a saúde, que sejam sustentáveis e socialmente justos", afirma.
A fábrica da Surya fica às margens da Rodovia Raposo Tavares, na Região Metropolitana de São Paulo. De acordo com Clélia, todos os produtos exportados e os comercializados no mercado doméstico são produzidos lá.
Veículo: Jornal DCI