Campanha açucarada

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                                Coca-Cola financia pesquisa que exime dieta calórica de culpa pela obesidade; especialistas rebatem



A Coca-Cola financia pesquisas que isentam bebidas açucaradas e culpam a falta de exercícios pela obesidade. O financiamento de um grupo de pesquisadores da área de saúde por um gigante da indústria de bebidas açucaradas está gerando controvérsia nos EUA, reavivando discussões sobre os limites éticos entre a aproximação de cientistas e empresas privadas. Conforme revelou o jornal americano “New York Times”, a Coca-Cola está dando apoio financeiro e logístico à organização sem fins lucrativos Global Energy Balance Network. Segundo a linha de pesquisa dessa rede de influentes cientistas, para combater o problema global do sobrepeso e da obesidade, as pessoas devem se preocupar menos em reduzir o consumo de alimentos calóricos e fazer mais exercícios.

Formado ano passado, o grupo vem promovendo a sua mensagem sobre a priorização de atividades físicas em revistas médicas, conferências e mídias sociais, por meio de seus especialistas. Ao mesmo tempo, a Coca-Cola argumenta que preza pela independência dos pesquisadores.

“O foco nos meios populares e na imprensa científica é: ‘Eles estão comendo demais, comem demais, comem demais’, culpando fast-foods, bebidas açucaradas e assim por diante”, disse o vice-presidente do grupo, o epidemiologista especialista em exercícios físicos Steven N. Blair, em um vídeo publicado no site da organização. “E não há realmente qualquer evidência convincente de que, de fato, esta seja a causa”.

DEFESA POR DIETA EQUILIBRADA

Para especialistas em saúde, no entanto, o argumento da entidade americana é controverso diante de inúmeros indícios científicos que mostram o papel essencial de uma dieta equilibrada para a manutenção de uma vida saudável.

— A importância de uma dieta adequada, aliada à prática de exercícios, já está mais do que comprovada por diversos órgãos, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Sociedade Brasileira de Nutrição Esportiva (ABNE) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Não temos dúvida de que se alimentar corretamente, e não apenas praticar atividade físicas, previne e trata doenças como obesidade, diabetes, câncer, depressão e problemas renais e endócrinos — diz a nutricionista Nathália Fonseca, especializada em nutrição esportiva e pediátrica.

De acordo com a médica, “não adianta sair da academia e comer, por exemplo, um cachorro-quente composto por salsicha rica em aditivos, sódio, gordura, calorias e pobre em nutrientes essenciais para uma boa recuperação após o exercício”.

No caso da ingestão de refrigerante, Nathália explica que só não passamos mal com a sua quantidade de açúcar devido ao ácido fosfórico também presente na bebida:

— Esse açúcar vai então para o fígado, onde é transformado em gordura, em um processo bem rápido que aumenta a nossa pressão sanguínea. Não há nutriente algum realmente válido na composição do refrigerante. Trata-se de uma caloria vazia.

A controvérsia chega em um período de crescentes esforços para taxar bebidas açucaradas, removê-las das escolas e impedir empresas de vendê-las às crianças nos EUA. Nas últimas duas décadas, o consumo médio de refrigerantes por americano caiu em 25%. Já no Brasil, os dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2014), realizada pelo Ministério da Saúde, dizem que a ingestão desse tipo de bebida caiu 20% nos últimos seis anos.

Pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (Gota), o endocrinologista Pedro Assed também é crítico à mensagem da Global Energy Balance Network e, principalmente, ao financiamento de atividades médicas por grupos alimentícios:

— Muitos deles são criticados por médicos e tentam contornar essa situação com marketing. No caso da CocaCola, ela tem sistematicamente patrocinado congressos médicos, eventos de educação física e nutrição etc., o que é algo complicado.

Segundo o “New York Times”, a CocaCola tem feito um investimento substancial na nova organização americana, tendo doado cerca de US$ 1,5 milhão no ano passado para o seu início. Desde 2008, a empresa também tem oferecido cerca de US$ 4 milhões em financiamento para projetos de dois dos membros fundadores da organização: Steven N. Blair e Gregory A. Hand, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade de West Virginia. E o próprio site da rede está registrado pela sede da Coca-Cola em Atlanta, que é listada como administradora do site.

COCA-COLA: “HISTÓRICO DE APOIO”

Ao jornal americano, o vice-presidente da Global Energy Balance Network e outros cientistas afiliados ao grupo disseram que a Coca-Cola não tem controle sobre seu trabalho ou mensagem, e que eles não veem problema algum com o apoio da empresa, uma vez que foram transparentes a respeito.

Já a fabricante de bebidas afirmou em nota que tem uma longa história de apoio às evidências de pesquisas científicas relacionadas às suas bebidas, e que considera importante que os pesquisadores com quem trabalha “compartilhem seus próprios pontos de vista e descobertas científicas, independentemente do resultado, e que sejam transparentes e abertos sobre o nosso financiamento”.



Veículo: Jornal O Globo - RJ


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