A disputa entre o uso de diferentes telas - computador, celular, televisão e tablet - tem afetado o mercado de PCs. O hábito de utilizar smartphones para acessar a internet avança e os gastos dos consumidores vêm sendo direcionados nesse sentido. O resultado foi uma retração de 36% nas vendas de computadores no País em 2015. Esse cenário de queda deve se manter até 2020, e no mundo todo, segundo previsão do Internacional Data Corporation (IDC) Brasil.
A concorrência com outros dispositivos é um dos fatores mais importantes na interferência da queda das vendas de PCs no País, aponta o analista do IDC, Pedro Hagge. Para ele, a partir do momento em que os smartphones e tablets entraram no jogo, os PCs começaram a perder mercado.
Segundo o IDC, para 2016 a previsão do mercado é de queda de 18%, depois de o nicho de computadores pessoais ter apresentado uma forte expansão entre os anos de 2004 e 2012, com o pico de vendas em 2011. A partir de 2012, contudo, a queda foi crescente, com retração média de 18,5 % no período.
Enquanto houve redução na procura dos PCs, o mesmo não aconteceu com a presença de smartphones no Brasil. O estudo Consumer Insights, da Kantar Wordpanel, mostra que o segmento cresceu 22 pontos percentuais entre 2014 e 2015 e metade da população brasileira agora tem acesso a pelo menos três telas, nas mais diversas combinações entre computador, celular, tablet e televisão.
Em 2015, outro fator que piorou o ritmo de vendas do setor foi a crise econômica, que fez com que o mercado de PCs voltasse ao patamar de 2005, quando estava em ascensão. "Com o desemprego e o menor poder de compra do consumidor, é natural que ele [o cliente] reduza o interesse por bens de alto custo, como os PCs", afirma o analista do IDC.
A alta do dólar no ano passado também interferiu diretamente nas vendas de computadores pessoais. "Uma grande parte dos componentes dos computadores é importada. Portanto, o aumento do dólar gera crescimento nos custos de produção dos PCs, e no preço final do produto", diz Hagge.
Para o CEO do e-commerce de eletrônicos KaBuM!, Leandro Ramos, a queda nas vendas de computadores se explica pela evolução dos smartphones e pelo fato de, atualmente, as pessoas considerarem desnecessária a troca frequente dos PCs. "Com o crescimento do uso de smartphones, muitas pessoas estão usando menos seus computadores [em especial os residenciais] e acabam considerando a compra de um PC novo ou até mesmo um upgrade no atual desnecessário", diz.
Saídas
A venda para clientes corporativos pode ser uma saída para o setor, já que é um mercado mais protegido. "No mercado corporativo, ainda não surgiu um produto que substitua o PC. E como as empresas necessitam dessa ferramenta para o trabalho, as vendas tendem a cair menos", afirma o diretor de pesquisas da IT Data, Ivair Rodrigues.
O executivo lembra que existem alguns nichos no mercado de PCs que continuam fortes, apesar das dificuldades do setor. A venda de computadores para games, principalmente desktops de alto desempenho, não caiu em 2015, e segundo a IT Data teve aumento de cerca de 2%. O CEO da KaBum! afirma que este nicho representa a maior fatia de sua receita, o que explica um crescimento de 120% nas vendas de desktops na empresa, em 2015.
Segundo Ramos, os consumidores de tecnologia estão cada vez mais exigentes e buscam produtos de melhor qualidade e desempenho. "O boom dos PCs na última década ocorreu quando redes varejistas, tradicionalmente de linha branca e até mesmo hipermercados, começaram a focar na comercialização de computadores devido a incentivos fiscais", lembra.
Para o analista do IDC, Pedro Hagge, o fim da Lei do Bem, que isentava de impostos os produtos eletrônicos, também ajudou na retração do mercado. "Isso fez com que as fabricantes tivessem que repassar o aumento."
Fabricantes
Os diversos fatores que acabaram interferindo negativamente no resultado das fabricantes de PCs em 2015 são analisados pelas empresas. A Positivo, por exemplo, teve retração de 33,6% nas vendas de desktops e notebooks no terceiro trimestre de 2015, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Já as vendas de smartphones da empresa registraram recorde trimestral, com alta de 581% em comparação ao terceiro trimestre de 2014. Teria contribuído para o crescimento a incorporação da unidade de negócios Quantum.
Líder global no segmento de PCs, a fabricante chinesa Lenovo tem uma perspectiva positiva para este ano. "Acreditamos que para nós será melhor [que o ano passado]. Estamos trabalhando para ganhar mercado", afirma o presidente da Lenovo para o Brasil, Silvio Stagni.
O mercado consumidor ainda deve ver retração em 2016, de acordo com ele, mas o corporativo deve começar a mostrar mudanças. "Dos mais de 4 milhões de computadores que o mercado brasileiro deve vender no ano, 1,8 milhão devem ir para os clientes corporativos", comenta. As apostas da companhia para este ano, segundo o diretor de produto, Hilton Mendes, são os dispositivos 2 em 1, que servem como notebook e tablet. "Em dois ou três anos, 15% das pessoas devem usar esses dispositivos", aponta.
Veículo: Jornal DCI