Consumidor busca opção natural, mas comida leve pesa no bolso

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Saúde é uma das cinco maiores preocupações do brasileiro, diz pesquisa


“É uma preocupação que veio para ficar. Na crise, ela permanece, mas leva as pessoas a racionalizarem o consumo para ajustar os gastos ao bolso” Christine Pereira Diretora da Kantar Worldpanel

 A jornalista carioca Marta Spacenkopf vem aumentando o consumo de alimentos saudáveis em seu dia a dia. Prefere produtos que combinam saúde e sabor e não deixa de considerar o custo na hora de escolher. Em sua casa não faltam frutas, legumes e verduras. São todos naturais, mas não orgânicos.

— Os orgânicos ainda não são acessíveis. Então, na casa da minha família, compramos natural, mas não orgânico — explica ela. — Não tenho intolerância alimentar ou questão de saúde que me imponha dieta específica. Mas meu pai é diabético, e minha mãe sempre seguiu uma alimentação mais natural. Então, procuro alimentos mais saudáveis. Evito glúten, tomo iogurte sem lactose e compro alimentos com menos açúcar.

A tendência de encher o carrinho com produtos mais saudáveis é resultado da preocupação do consumidor com a saúde. Um dos cinco principais focos de atenção do brasileiro, segundo pesquisa da Kantar Worldpanel, especializada em comportamento do consumo. A posição da “saúde” nesse ranking varia conforme a situação econômica, mas não sai do topo, explica Christine Pereira, diretora comercial da consultoria.

Em 2013, saúde e estado físico eram a segunda maior preocupação, destacada por 59% dos consumidores, atrás apenas de insegurança e violência (70%). Este ano, recuou para a quarta posição, com 42%, depois de insegurança/violência (53%), aumento de preços (52%) e crise econômica (45%).

— Isso mostra que é uma preocupação que veio para ficar. Na crise, ela permanece, mas leva as pessoas a racionalizarem o consumo para ajustar os gastos ao bolso. Ainda assim, os gastos com saúde estão crescendo. Este ano, equivalem a 7% do orçamento do brasileiro, contra 6% em 2014 — diz Christine.

PESO, COLESTEROL E PRESSÃO

As três maiores preocupações do consumidor com a saúde são o peso (76%), o colesterol (75%) e a pressão arterial (75%). Daí as pessoas buscarem produtos com menos açúcar, gorduras e sódio. Mais da metade (54,2%) das pessoas ouvidas pela Kantar afirmam que estão mudando a alimentação, optando por comidas mais saudáveis.

— Sabemos que 65,2% dos consumidores dizem prestar mais atenção em informações nutricionais nas embalagens; 56% dizem que trocariam a marca que usam se encontrassem uma alternativa mais saudável e 49,9% procuram comprar alimentos fortificados, com vitaminas, fibras, cálcio e minerais. A indústria entende essa demanda e responde com mais opções de produtos e mais saudáveis — explica a executiva.

O consultor Marco Quintarelli destaca que as redes de varejo estão atentas às mudanças na demanda, incluindo opções saudáveis para diversos orçamentos em suas prateleiras. Elas multiplicam a oferta para testar a aceitação dos produtos.

— Em todas as áreas há uma diversificação de produtos, com foco não apenas em saúde, mas atentas ao consumo de indulgência. O mercado tem duas frentes para crescer: em preço e competitividade ou com diferenciação e inovação, que é a ponta que mais avança hoje.

O preço tem peso nessa escolha. Os produtos saudáveis, sobretudo os alimentos orgânicos, ainda são mais caros que os tradicionais. Ming Liu, do projeto Organic Brasil, explica que no caso da produção de orgânicos ainda é preciso ganhar escala para que os preços caiam.

— Então, quanto mais o consumo crescer, melhor é para a formação de preço — afirmou.

Um cardápio elaborado pela nutricionista Rose Vieira mostra que para comprar o café da manhã e o almoço mais saudáveis o consumidor gasta R$ 116,59, contra R$ 85,43 de um cardápio tradicional. Ela pontua, porém, que não necessariamente se gasta mais para comer melhor:

— As mães podem, por exemplo, fazer batata chips assada para os filhos, ao invés de oferecer esses snacks já embalados. Se você comparar esses preços, sem dúvida a alimentação saudável sai mais barata.

A merendeira Selma Guimarães adapta o cardápio de casa. Ela diz que, com sua renda, não é possível comprar orgânicos, por exemplo. Mas substituir o açúcar refinado pelo cristal é uma opção que não pesa no bolso.

— Não consigo comprar açúcar demerara ou orgânico. Mas o cristal dá — contou.

Christine Pereira destaca que a atenção com a saúde na hora de cuidar da alimentação é tendência em todos os níveis socioeconômicos:

— Na classe C, a expansão foi de 5,8%, enquanto na D, de 19%, que cresce mais por ser uma fatia menor.

Ano passado, as vendas de água de coco recuaram 1,4%, segundo a Kantar, um tombo frente à expansão de 44,5% em 2014. Mas a participação de mercado da água de coco no mercado se manteve, mostrando que o brasileiro comprou menos, mas não abriu mão do produto, explica Christine.

AUMENTO ACIMA DA MÉDIA

Valéria Guimarães, especialista em projetos e nutricionista, acredita que as escolhas são importantes até para desfrutar do cardápio não saudável sem culpa:

— Na minha casa, recebemos semanalmente uma cesta de produtos orgânicos da estação. Optamos por alimentos naturais pelo sabor e pelas propriedades e nutrientes que oferecem. Fazemos brigadeiro com biomassa de banana verde. Mas não quer dizer que, numa festa, não vamos comer bolo e brigadeiro de chocolate — conta ela.

A Kantar recorta uma cesta de produtos saudáveis de sua cesta pesquisada regularmente, sempre considerando produtos industrializados. Ela engloba barras de cereal, de proteína e de frutas; biscoitos, cereais e pães saudáveis; sucos; iogurtes; bebidas à base de soja; água de coco; aveia; chás líquido e em pó. O gasto com esta cesta subiu 5% no ano passado, três pontos percentuais acima da expansão registrada na cesta de alimentos considerados não saudáveis.

Veículo: Jornal O Globo


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