Crise política deve retardar retomada do varejo por pelo menos mais um ano

Leia em 3min 40s

São Paulo - As incertezas impostas pela nova crise política, que atingiu o governo Temer na semana passada, devem retardar a retomada do varejo. A expectativa do setor agora é fechar o ano com retração. A turbulência fará com que consumidores fiquem receosos e empresários entrem em compasso de espera, segurando os aportes.

 

A avaliação é do presidente do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni, e do diretor geral da consultoria GS&MD, Marcos Gouvêa de Souza. "A recuperação do setor, que já vinha tímida nos primeiros meses do ano, foi fortemente fragilizada. O cenário deve retardar a retomada por um período que ainda não se tem dimensão", afirma Felisoni.

 

Até a semana passada, o instituto tinha projeção de um crescimento de até 1% para o ramo no consolidado do ano. Após os eventos, desencadeados com a divulgação do áudio de conversa entre o presidente Temer e Joesley Batista, da JBS, o executivo diz que é bem provável que o avanço não ocorra.

 

A visão se dá por conta do impacto que a crise política terá na confiança do consumidor e nas perspectivas de investimentos do empresariado. "As pessoas compram com base na renda real e na possibilidade de manter o fluxo de renda. Com esse cenário, aquele que está empregado fica preocupado se vai conseguir manter o emprego, e quem está desempregado tem menos perspectiva de encontrar um posto de trabalho. Tudo isso abala o consumo."

 

O fundador da GS&MD, Gouvêa de Souza, também prevê um impacto negativo no desempenho do setor, que deve variar dependendo dos desdobramentos da crise política. Já no curto prazo ele prevê que o varejo tenha uma retração adicional, invertendo a tendência de curva que sinalizava para uma melhora no volume de vendas. "A situação necessariamente postergará a retomada do setor", afirma.

 

A consultoria ainda não estima a dimensão do impacto para o resultado do consolidado do ano, mas o executivo diz que há uma tendência clara de que o desempenho seja pior do que as projeções feitas anteriormente. "Se será negativo vai depender do tempo para que a solução seja desenhada."

 

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) vai na mesma linha, e aponta que a recuperação do setor, que já vinha lenta, deve demorar ainda mais. "O principal prejuízo é o atraso nas reformas [trabalhista e da previdência], e o ciclo de juros. O BC [Banco Central] estava com uma disposição para reduzir a Selic, mas agora não se sabe mais como será", afirma a assessora econômica da entidade, Juliana Serapio. A CNC, no entanto, ainda não revisou a projeção de crescimento de 1,5% para o varejo no ano. Segundo Serapio, ainda é cedo para ter uma medição precisa do tamanho do impacto.

 

Visão do empresário

Do ponto de vista do empresariado, entidades do ramo mostram preocupação com o cenário, principalmente em relação a aprovação das reformas trabalhista e da previdência, mas dizem que ainda é cedo para mudar as projeções.

 

O presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Antonio Carlos Pipponzi, afirma que o momento é de espera. "Estamos apreensivos, mas sem uma mudança radical nas nossas políticas e nos nossos projetos", diz. A entidade tem como associadas empresas como o Grupo Pão de Açúçar (GPA), Magazine Luiza, Carrefour, Renner, Lojas Americanas, entre outras.

 

O presidente da Associação Brasileiro de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, também afirma que os varejistas ligados à entidade estão em compasso de espera e que o grande receio é em relação a aprovação das reformas trabalhista e da previdência. "Nossa maior preocupação no momento é em como tudo isso pode impactar nas reformas. Porque se elas não passarem, os investimentos vão parar."

 

O presidente do IDV acrescenta ainda que o cenário, que vinha favorável e até com um otimismo renascendo, paralisou. "O aquecimento de novos projetos e investimentos vai ter um freio momentâneo", diz.Assim como a Alshop, a maior preocupação do IDV também é a aprovação das reformas.

 

 


Fonte: DCI São Paulo

 


Veja também

Governo libera R$ 3,14 bilhões em despesas e reduz corte no orçamento de 2017

O governo informou ontem segunda-feira (22) que, após reavaliar as estimativas de receitas e despesas de 2017, de...

Veja mais
Confiança do empresário se recuperava, mas tende a cair

São Paulo - O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), medido na primeir...

Veja mais
IPCA-15 sobe 0,24% em maio, de acordo com IBGE

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflaç...

Veja mais
Consumidores esperam inflação de 7,1% em 12 meses a partir de maio

A mediana da inflação esperada pelos consumidores nos próximos 12 meses ficou em 7,1% em maio, um r...

Veja mais
Mercado financeiro baixa estimativa de inflação para 2017 e 2018

Os economistas das instituições financeiras reduziram sua estimativa de inflação para este a...

Veja mais
Ritmo de corte nos juros deve perder força nas próximas reuniões do BC

São Paulo - As projeções de mercado para a taxa básica de juros (Selic) para o final de 2017...

Veja mais
Fatura para aprovar Previdência chega a R$ 55 bi

Brasília - A fatura para a aprovação da reforma da Previdência, cuja tramitação...

Veja mais
Consumidor deve voltar ao pessimismo

O cenário de incertezas políticas e econômicas devem aumentar o mau humor do brasileiro quando o ass...

Veja mais
De olho na crise política, dólar abre em alta, a R$ 3,284

Rio de Janeiro - Após uma semana tumultuada para o mercado em função da crise política, o d&...

Veja mais