Mercado projeta taxa de juro real menor mesmo com desajuste fiscal

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São Paulo - O mercado financeiro reduziu as projeções para a taxa Selic e elevou as estimativas para a inflação nos próximos meses. A perspectiva de uma taxa de juro real menor acontece mesmo com as dúvidas sobre o cumprimento da meta fiscal pelo governo federal.

Divulgado ontem pelo Banco Central (BC), o relatório Focus trouxe novas apostas para a Selic. Os analistas financeiros acreditam que a taxa, atualmente em 9,25% ao ano, chegará a 7,5% ao ano até dezembro de 2017. Na semana passada, a aposta era de que a redução iria até os 8% ao ano. Para 2018, a estimativa também é de Selic em 7,5% ao ano, um pouco abaixo da projeção anterior (7,75% ao ano).

Por outro lado, as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltaram a crescer, puxadas pelo aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis. Para 2017, foi colocado que a inflação acumulada em 12 meses, atualmente em 3%, vai chegar a 3,45%. O esboço da semana passada estava em 3,4%. Para o índice de preços dos próximos 12 meses, foi estimada alta de 4,53%. A aposta anterior estava em 4,52% e a projeção de um mês atrás, em 4,47%.

O mercado vê uma aproximação entre a taxa Selic e o IPCA ainda que o quadro fiscal tenha piorado nas últimas semanas. A mudança da meta para as contas públicas deste ano, com um aumento do déficit primário, passou a ser cogitada pelo governo federal, e a aprovação da reforma previdenciária continua uma incógnita.

De acordo com especialista consultado pelo DCI, o mercado manteve a aposta de que o quadro fiscal não vai piorar muito. "Se as reformas pararem e o déficit primário disparar, teremos uma volta das projeções maiores para a Selic", afirma Miguel Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Ele diz ainda que a expectativa mais alta para o IPCA se deve apenas à elevação do PIS/Cofins. "Como a retomada econômica continua lenta e a inflação está muito baixa, não há grande preocupação com o ritmo do índice, que vai continuar abaixo do centro da meta do governo [4,5%]", afirma.

A situação da economia, inclusive, abre espaço para uma taxa de juro real menor. "Como a retomada parece mais difícil do que era esperado, ganha força a ideia de uma Selic mais baixa", afirma Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para ele, mesmo um aumento do déficit primário não afetaria tanto a trajetória dos juros, já que esse movimento se daria pela frustração das receitas. "As despesas foram contidas, o que garante a confiança na equipe econômica."

O especialista destaca, ainda, o último comunicado do BC. "Com o documento, [o banco] mostrou-se mais flexível em relação à política monetária". Na ata divulgada na última terça-feira, o Comitê de Política Econômica (Copom) sinalizou uma manutenção do ritmo de cortes na Selic. Em sua reunião mais recente, na última semana de julho, o colegiado do BC decidiu por uma redução de 1 ponto percentual na taxa básica de juros.

Entretanto, o Copom voltou a defender a realização das reformas e afirmou que os cortes na Selic vão depender de vários fatores, como a trajetória favorável dos preços no Brasil e a manutenção da estabilidade no exterior.

Freio nos cortes

Para o ano que vem, os analistas de mercado esperam um avanço de 4,2% do IPCA. Dessa forma, com a Selic em 7,5% ao ano, a taxa de juro real ficaria próxima dos 3%, nível historicamente baixo para o Brasil.

Rochlin indica que esse quadro é favorável para o avanço do investimento no País, mas pondera que essa expansão pode acontecer só em 2019. "O juro é apenas uma das variáveis importantes para o investimento. Muitas decisões deverão ser tomadas de acordo com o presidente que for escolhido no ano que vem".

Já Oliveira diz não acreditar em uma queda ainda maior da Selic. "No curto prazo, parece difícil ficar abaixo de um juro real próximo de 3%, inclusive porque teremos eleições no ano que vem, o que deve trazer mais insegurança."

Ritmo da queda

Sobre a próxima reunião do Copom, marcada para a primeira semana de setembro, os analistas de mercado estão divididos. O relatório Focus aponta que a taxa Selic estará em 8,38% ao ano no mês que vem, ou seja, entre o corte de 1 ponto percentual e o de 0,75 ponto percentual. Após esse encontro, o comitê ainda deve se reunir duas vezes, em outubro e dezembro.

Para o grupo top 5, composto pelos analistas que mais acertam as projeções, a taxa básica de juros deve cair ainda mais em 2017, chegando a 7,25% ao ano. Na semana passada, eles acreditavam que a Selic cairia até os 7,5% ao ano. Já para 2018, foi mantida a aposta em 7,25% ao ano.

Os analistas do top 5 também vislumbraram uma inflação mais baixa. Segundo eles, o IPCA deve ficar em 3,31%, neste ano, e em 4,06%, no ano que vem. As projeções da semana passada estavam em 3,1%, para o índice de 2017, e 4,19%, para a inflação de 2018.



Fonte: DCI São Paulo



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