Consumo puxará recuperação do PIB ao invés de investimento, diz ministro

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São Paulo - A recuperação do consumo é o que puxará a retomada da atividade econômica do Brasil. O "excesso" de capacidade ociosa impede uma alavancagem pela via dos investimentos, como se previa no início do governo de Michel Temer.

"Nós teremos uma largada que não é dependente de investimento, embora a médio e longo prazo, o investimento será fundamental para o crescimento econômico", disse ontem o ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira, durante um almoço-debate do Lide - Grupo de Líderes Empresariais, em São Paulo (SP).

O ministro afirmou ainda que o maior desafio do governo é o controle das contas públicas e que a frustração de receitas é o que levará a uma revisão da meta fiscal deficitária de R$ 139 bilhões, fixada para este ano. Oliveira reforçou que o objetivo é aprovar a reforma da Previdência até o final do ano.

Diferentemente do que era esperado pelo mercado e pelo governo federal nos meses iniciais de Temer, a recuperação da atividade se dará mais pela retomada do consumo. Segundo Oliveira, os indicadores relacionados a este componente da demanda agregada estão mais consolidados do que os dados de formação bruta de capital fixo (FBCF, investimento).

Durante a palestra, ele mencionou que hoje, por exemplo, há 2 milhões de megawatts "sobrando" de energia na economia, para destacar a elevada capacidade ociosa das empresas brasileiras.

Por outro lado, Oliveira lembrou que o crescimento da massa salarial total, descontada a inflação, foi de 2% em junho, comparado com o mesmo mês do ano passado. O ministro destacou ainda que, enquanto neste primeiro semestre foram criados 67 mil postos formais, no mesmo período de 2016, a perda de postos celetistas foi de 550 mil.

Segundo Oliveira, os saques de mais de R$ 44 bilhões das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ajudaram os indicadores ligados ao consumo, dando um "um certo alento" ao varejo, principalmente, cujas vendas saíram de uma queda de 9% em maio de 2016 (contra igual mês de 2015), a uma alta de 2,4% em maio de 2017, na mesma base de comparação.

Oliveira citou que o governo prevê crescimento de 0,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 e que parte da retomada da atividade está relacionado com a queda dos juros reais - diferença entre a taxa básica de juros (Selic) e a inflação oficial (IPCA).

"As taxas [básicas] de juros estão caindo e teremos muitos anos de juros historicamente baixos no Brasil. Não quer dizer que teremos taxas menores comparadas com outros países, mas menores do que no nosso passado", acrescentou o ministro do Planejamento, destacando que o recuo dos juros nos próximos anos abrirá espaço para o crédito.

Ele afirmou ainda que o risco Brasil está caminhando para níveis de antigamente, quando o País ainda tinha grau de investimento. Para Oliveira, isso mostra que a leitura do mercado melhorou com relação ao Brasil, mas que não significa que a nota de crédito voltará rapidamente.

Frustração

No entanto, o maior imbróglio do governo federal tem sido o lado fiscal, com destaque para a frustração de receitas. "A composição do crescimento do PIB está muito dependente do agronegócio e da exportação, o qual revela que, do lado da arrecadação não é a melhor composição", disse ele.

"Não há nada contra esses setores - o agronegócio, por exemplo, é um setor drive da nossa economia - mas são segmentos pouco arrecadadores. Isso explica, um pouco, as dificuldades que nós continuaremos a ter na área fiscal, que é fato da recuperação que nós estamos tendo [no agronegócio e na exportação] não gerar receita para o Estado", complementou o ministro.

Segundo Oliveira, essa frustração de receita tem exigido uma reavaliação da meta fiscal. "Não posso assegurar que vai haver mudança. O que temos de certo até o momento é que as receitas têm frustrado e se impõe a necessidade de se fazer reavaliação", ressaltou.

O ministro mencionou ainda a preocupação do governo com os gastos da Previdência e com a necessidade de aprovação da reforma. "Estamos gastando 57% do Orçamento federal com a Previdência, cerca de R$ 435 bilhões. Ou seja, estamos colocando recursos para pagar aposentadorias e muito pouco para investir". O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, dispõe de um orçamento de R$ 26 bilhões. Em um ano, os gastos com a Previdência aumentaram em quase R$ 50 bilhões.


Fonte: DCI São Paulo


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