Percepção de queda de preços será mais forte em 2018 do que neste ano

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São Paulo - A inflação em 12 meses até julho acumulou alta de 2,71%, a menor taxa para essa base de comparação desde fevereiro de 1999 (2,24%). Porém, os consumidores só devem ter uma percepção mais clara dessa baixa a partir de 2018.

 

Segundo especialistas, as famílias ainda mantêm os hábitos de consumo adquiridos durante os mais de dois anos de recessão, comprando produtos de marcas mais baratas, por exemplo, mesmo com uma queda de preços mais difundida na economia.

 

Somente no mês de julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a registrar variação positiva de 0,24%, após deflação de 0,23% em junho, mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem.

 

Ao comentar o índice do mês, o gerente do IPCA no IBGE, Fernando Gonçalves, destacou que as famílias gastaram menos com alimentação em julho, pelo terceiro mês consecutivo.

 

O grupo Alimentação e Bebidas saiu de uma queda de 0,50% em junho para um recuo de 0,47% no mês passado. Em maio, este componente caiu 0,35%. No total, em julho, o grupo, que responde por 25% das despesas das famílias, deu uma contribuição de -0,12 ponto percentual ao IPCA.

 

"Tem impacto da safra, mas também tem o componente da demanda. As pessoas estão segurando mais para comprar. Alimentação é algo necessário, mas a gente [brasileiros] acaba comprando o que precisa prioritariamente. O consumidor troca a marca da massa que ele consumia, por outra mais barata", explicou Fernando Gonçalves.

 

Hábitos

 

A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Maria Andréia Parente acrescenta que os consumidores podem não ter ainda uma percepção mais clara da baixa dos preços de determinados produtos, dados os hábitos adquiridos durante a crise.

 

"Muitas vezes, as pessoas trocam de marca e nem procuram saber mais se o preço de uma outra [que estava mais cara] subiu ou desceu", comenta Maria Andréia. "As famílias estão consumindo menos. Mesmo aquelas que não perderam o emprego, estão segurando as decisões de consumo. Os depósitos na caderneta de poupança cresceram, porque para elas o futuro ainda é incerto", completa a economista.

 

Já o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, destaca que a concorrência entre marcas aumenta neste cenário de crise, fazendo com que as mais caras baixem também os seus preços. Porém, as pessoas notam mais a elevação de preços dos produtos do que a queda dos mesmos, avalia Vartanian.

 

Maria Andréia pontua que a substituição por produtos mais baratos e o consumo contraído não levarão a uma queda maior dos preços daquela já antecipada. "Isso aconteceria caso a percepção fosse de agravamento da recessão, o que não é o caso. A expectativa é que o medo do futuro recue até o final do ano e que consumo fique estável, avançando em 2018", ressalta ela, acrescentando que a percepção dos preços mais baixos deve aumentar na medida em que a ocupação volte a subir, no próximo ano.

 

O coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV), Emerson Marçal, reforça que os consumidores ainda estão cortando gastos e convivendo com uma renda restrita. "A economia está se recuperando de forma muito lenta. Depois de quedas grandes, o normal seria a atividade registrar altas mais fortes, mas não é isso que está acontecendo", afirma Marçal.

 

A assessora econômica da FecomercioSP, Julia Ximenes, por sua vez, não atribui a redução dos preços dos alimentos a um problema de demanda. "Eu vejo isso como um efeito da safra agrícola recorde e da desinflação dos custos produtivos. Se a gente tivesse realmente um enfraquecimento da demanda, teríamos uma queda generalizada nos demais grupos do IPCA. Não é isso que está acontecendo", finaliza a economista da FecomercioSP.

 

Já Vartanian ressalta que a desinflação permitirá que a taxa básica de juros (Selic) chegue a 7,5% no final do ano. Segundo o professor, este processo incentivará uma retomada mais forte do crescimento econômico em 2018.

 

 

Fonte: DCI São Paulo

 

 

 


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