Brasil recua e contribui para a piora do clima econômico no continente

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São Paulo - O Indicador de Clima Econômico da América Latina (ICE) diminuiu 5,5 pontos no trimestre encerrado em julho. Com isso, o cálculo chegou aos 72 pontos, ficando 17 pontos abaixo da média registrada nos últimos dez anos.

 

Com um recuo de 20 pontos, na comparação com os três meses terminados em abril, o Brasil, que agora tem 59 pontos, colaborou para a queda do ICE. Divulgado ontem, o indicador é elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em conjunto com o instituto alemão IFO.

 

De acordo com a porta-voz do estudo, o recuo dos latino-americanos está ligado a questões "domésticas e políticas", já que o cenário global continua favorável, com preços elevados para commodities e o crescimento do comércio mundial.

"No caso do Brasil, pesou a crise política que começou após a divulgação do áudio do Joesley [Batista]. Já o Chile está em ano de eleição, com um quadro instável, e a Venezuela segue em uma situação complicada. Além disso, a corrupção afeta vários países da região, como o Peru", diz Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV).

 

Entretanto, ela chama atenção para a melhora do ICE mexicano, que chegou aos 90,1 pontos em julho, após marcar 71,6 pontos no trimestre anterior. "O receio de que o [Donald] Trump iria tomar medidas drásticas está perdendo força, o que favorece a percepção sobre o México", afirma Valls.

 

Sobre os melhores dados da América Latina, a entrevistada destaca que Paraguai (121,3 pontos) e Uruguai (118,7 pontos) não enfrentam grandes problemas externos e registram dados econômicos positivos neste ano.

No continente, o Brasil ficou acima apenas do Chile (46,4 pontos), do Equador (41,4 pontos) e da Venezuela, que ficou zerada pelo segundo trimestre consecutivo. Além de Paraguai e Uruguai, a Argentina (101,6 pontos) teve um bom resultado no trimestre.

 

Para o cálculo do ICE brasileiro, fez diferença a piora do Indicador de Expectativas (IE). Afetado pelo acirramento da crise política, o IE caiu para 134,6 pontos, depois de chegar a 189,3 pontos em abril. Já o Indicador da Situação Atual (ISA) diminuiu 3 pontos, para os 7,7 pontos.

 

Apesar da piora do ICE na América Latina, as trocas comerciais na região estão crescendo neste ano. "Isso acontece porque, apesar das complicações políticas, a maior parte dos países da região não vive um mau momento econômico", afirma Carlos Alberto Cinquetti, professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ele também ressalta um "aumento da busca" pelo comércio regional na América Latina.

 

Na opinião do entrevistado, a perspectiva para o local é boa, com um avanço do crescimento econômico e uma melhora das trocas comerciais. "Além disso, o discurso protecionista no hemisfério norte dá mais força aos acordos entre os latino-americanos", acrescenta ele.

 

De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), as exportações brasileiras para os países da América Latina geraram US$ 23,681 bilhões entre janeiro e julho deste ano, uma alta de 19,9% ante igual período do ano passado.

 

Estabilidade global

 

O ICE mundial não teve variação significativa na comparação com o trimestre encerrado em abril, mas se manteve em patamar elevado no confronto com 2016. Entre maio e julho, os destaques ficaram com a Alemanha (156,4 pontos), a Índia (146,3 pontos) e o Japão (126,6 pontos), enquanto que o Reino Unido (53,7 pontos) e África do Sul (48,7 pontos) tiveram dados piores.

 

Segundo Valls, a melhora do quadro econômico favorece alguns países desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, enquanto que a manutenção do crescimento elevado dá força aos dados de China e Índia. Por outro lado, continua ela, a saída da União Europeia (Brexit) ainda prejudica os números do Reino Unido, cujo ICE recuou para patamar inferior ao brasileiro.

 

Perspectivas

 

De acordo com nota divulgada pela FGV, vários países da América Latina devem encontrar uma situação mais favorável nos próximos meses. Um destes é o Peru. "Os estragos do El Niño já passaram e as turbulências causadas pelas denúncias de corrupção de ex-presidentes parecem estar sendo resolvidas", indica o documento. Para o Chile, devem ajudar a melhora do preço do cobre e a realização das eleições, que pode reduzir a instabilidade local. Já o "o aumento nos preços das commodities de metais" deve ajudar boa parte da região, inclusive o Brasil, nos próximos meses.

 

 

Fonte: DCI São Paulo

 

 

 


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