Consumo consciente crescerá depois da crise

Leia em 3min 30s

São Paulo - Questões como saudabilidade e posicionamento da marca foram deixadas, na crise, em segundo plano na decisão de compra do brasileiro, que pautou suas escolhas principalmente pelo preço. Com a retomada da economia,  no entanto, os critérios devem voltar a influenciar o consumo de uma forma mais consistente.     

 

A avaliação é do CEO do Instituto Ipsos no Brasil - uma das maiores empresas globais de pesquisa de mercado -, Marcos Calliari. "Com a melhora da economia, a questão do preço perde um pouco de importância e é muito provável que vejamos a retomada de outros critérios - que na crise foram relegados ao segundo plano", disse ao DCI, durante evento da companhia realizado ontem.

 

O executivo citou como exemplo a questão da saudabilidade, da conveniência e da identidade da marca com causas que o consumidor acredita. "O brasileiro vai passar não apenas a olhar a marca mais barata, mas também aquela que  mais se aproxima de suas crenças, em aspectos como a  saudabilidade, preocupação com a diversidade e responsabilidade social. Além de questões  como a conveniência e praticidade", diz.

 

Atualmente, mesmo ainda no fim da recessão,   uma parcela dos brasileiros  já tem  levado em  conta  o posicionamento da marca na hora de escolher qual produto comprar, segundo estudo divulgado ontem pela Edelman Significa. O levantamento mostra que 56% dos brasileiros  compram motivados por causas e que 67%  não consomem  uma marca se ela se omitir sobre uma questão que teria obrigação de abordar, em sua interpretação.

 

A tendência, na visão de Calliari, do Instituto Ipsos,  é que questões de responsabilidade social ganhem uma importância ainda maior para os consumidores quando o desemprego e a queda da renda pararem de pressionar seus bolsos. 

 

O momento da retomada, portanto, será fundamental  do ponto de vista mercadológico. "Primeiro   veremos quais hábitos adquiridos na crise serão mantidos; e segundo vamos descobrir os  grandes atributos que passarão a ser  considerados na escolha de uma marca, em detrimento de outra", diz.

 

No contexto, as empresas terão que investir  mais nas questões ligadas a responsabilidade social, uma vez que o consumidor  deve pressionar com maior intensidade as marcas nesse sentido. "Vai ser uma questão quase  de sobrevivência", afirma o CEO do Ipsos. 

 

Visão das marcas

 

Durante o evento, o tema foi debatido por grandes marcas de bens de consumo, como L'Oréal e Ambev, que se posicionaram de maneira semelhante a do especialista. Diretor de consumer & market insights da L'Oréal, Jorge Kodja afirmou que a empresa tem olhado cada vez mais para questões ligadas a diversidade e sustentabilidade e que para isso é fundamental que a companhia seja transparente com o consumidor e defenda as causas de forma legítima - visão que vai em linha com os dados do estudo da Edelman.

 

"O consumidor está nos cercando de todos os lados e vai cobrar um nível de transparência com os dados  cada vez maior, porque ele tem um número muito grande de informações nas mãos", afirmou. O executivo acrescenta que com a penetração  maior dos smartphones na população brasileira, o consumidor tem acesso de forma rápida a informações sobre a procedência dos produtos, e sobre as práticas da companhia em temas  considerados importantes por ele. 

 

O gerente de consumer insights da Ambev, Bruno Rigonatti, vai na mesma linha e afirma que é fundamental consistência em relação a tudo que a empresa faz. "Quando você assume um discurso você vai ser cobrado por ele. A empresa tem que estar preparada também para os reveses", diz.

 

O CEO do Instituto Ipsos, Callieri, resume bem a nova dinâmica do consumidor e das marcas - que já cresceu nos últimos anos e que deve acelerar ainda mais após a retomada da economia brasileira: "A reverência do consumidor às marcas chegou ao fim. Se antes havia uma desigualdade na relação entre consumidores e marcas, hoje não existe mais."

 

 

 

Fonte: DCI São Paulo


Veja também

Vendas do varejo na capital paulista sobem 1,5%

São Paulo - As vendas do comércio varejista cresceram 1,5% em setembro em relação a agosto, ...

Veja mais
IGP-M desacelera alta a 0,30% na 2ª prévia de outubro por preços no atacado, diz FGV

São Paulo (Reuters) - O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) desacelerou a alta a 0,30 por cento ...

Veja mais
Investimento cresce após 14 quedas consecutivas

São Paulo - Depois de cair por 14 meses consecutivos, o indicador mensal de Formação Bruta de Capit...

Veja mais
IPCA-15 sobe 0,34% em outubro, diz IBGE

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflaç...

Veja mais
Comércio de São Paulo prevê aumento de 5% a 10% na contratação de temporários

São Paulo - Confiante na recuperação da economia e de olho nas novas normas trabalhistas, o com&eac...

Veja mais
Arrecadação cresce dois meses seguidos e governo planeja gastar mais este ano

Brasília - Pelo segundo mês consecutivo, a arrecadação do governo federal cresceu mais do que...

Veja mais
Brasil avança em ranking de expansão da indústria, mas segue fora do top 30

São Paulo - Após amargar a 47ª colocação num ranking com 48 países no ano passad...

Veja mais
IGP-10 acelera alta a 0,49% em outubro com pressão maior no varejo e no atacado, diz FGV

São Paulo - A maior pressão dos preços tanto no varejo quanto no atacado impulsionou o Índic...

Veja mais
Expectativas em relação à economia estão mais ancoradas neste semestre

São Paulo - O indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV), que antecipa reversão de ciclos ec...

Veja mais