R$ 39,3 bilhões para turbinar o consumo

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Não há forma mais rápida e eficiente de aquecer a economia do que colocar dinheiro vivo na mão da população. Dada a baixa propensão do brasileiro a poupar, os destinos naturais de qualquer renda extra acabam sendo o pagamento de dívidas ou o consumo – ambos são positivos. De olho nesse efeito virtuoso, o governo decidiu liberar, a partir da segunda-feira 18, o saque do Fundo PIS/Pasep para 28,7 milhões de pessoas que trabalharam entre 1971 e 1988. Em média, cada um tem direito a R$ 1.370, totalizando R$ 39,3 bilhões até o dia 28 de setembro, quando termina o prazo. “Esses R$ 39 bilhões são valores preciosos, que não pertencem à Caixa Econômica Federal ou ao governo, mas ao próprio trabalhador”, afirmou o presidente Michel Temer, na quarta-feira 13, ao assinar o decreto.

 

No fim de 2016, o governo havia tomado medida semelhante para aquecer a economia. Na ocasião, o presidente Temer autorizou o saque das contas inativas do FGTS para 25,9 milhões de pessoas, injetando R$ 44 bilhões. Esse montante contribuiu para a expansão de 7,4% no comércio varejista ampliado (incluindo automóveis e materiais de construção) no ano passado. Em 2018, o varejo vem demonstrando bons resultados nas principais datas comemorativas (leia quadro abaixo). O desempenho do comércio em abril, divulgado na quarta-feira 13, superou as expectativas dos analistas, com expansão de 1,3% em relação a março, segundo o IBGE. Em 12 meses, a alta acumulada é de 7,0%, comprovando que o consumo ainda é o principal motor da gradual retomada do crescimento.

 

Um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que 25% dos recursos do FGTS (R$ 11 bilhões) liberados no ano passado foram efetivamente gastos no varejo. “Muitas famílias ainda estavam inadimplentes e priorizaram o pagamento de dívidas”, diz Fábio Bentes, economista-chefe da CNC. “Agora, apesar de o volume do PIS/Pasep ser menor, mais pessoas devem gastar, o que deve resultar na injeção de R$ 10 bilhões no varejo.” As consultorias ressaltam, no entanto, que o desempenho do comércio em maio e em junho será prejudicado pelas paralisações dos caminhoneiros em todo o País. O setor automotivo, por exemplo, deixou de vender 25 mil automóveis no mês passado devido à greve, o que representou uma queda de 7,1% nos licenciamentos em relação a abril.

 

Outro efeito que pode atrapalhar o consumo é a alta dos preços gerada pelo tabelamento do frete e pela valorização do dólar, que acumula ganhos de 12% no ano, frente ao real. “Os setores produtivo e industrial já sinalizaram que a variação para mais na logística de entrega encarecerá as mercadorias em percentuais que podem chegar a até dois dígitos de aumento”, diz, em nota, a Associação Paulista de Supermercados (Apas). “Aliado a isto, com a alta do dólar, não só a produção nacional, mas também produtos importados ou que levem matéria-prima importada no processo de fabricação sofrerão impactos nos preços.” Coloca-se em risco, assim, a preservação do poder de compra das famílias, que dependem de uma inflação baixa para continuar consumindo.

 

A liberação extraordinária de recursos para a população era uma das últimas cartas na manga que a equipe econômica possuía. Havia uma expectativa de que, em meados do ano, o crédito já estaria crescendo num ritmo mais veloz e com juros bem mais baixos. Na prática, isso ainda não aconteceu na intensidade desejada. O Banco Central fez o papel dele ao reduzir fortemente a taxa básica (Selic), mas os bancos comerciais não repassaram integralmente o benefício a consumidores e empresas. Com o crédito caro e um mercado de trabalho ainda retraído – há 13,4 milhões de desempregados –, os brasileiros continuam consumindo de forma cautelosa. Para os empresários, o grande nó está na retomada da confiança, que foi interrompida pela incerteza eleitoral.

 

No topo das pesquisas estão três candidatos que empunham agendas consideradas populistas ou com alto grau de incerteza. São eles: Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). Antes do sufrágio, haverá 30 dias de Copa do Mundo, que costuma beneficiar o varejo de alimentos e bebidas e de artigos esportivos, mas prejudica os demais segmentos. Com essa ajuda bilionária do PIS/Pasep, a CNC projeta um crescimento de 5% do setor neste ano, apesar das perdas com as paralisações dos caminhoneiros. Trata-se de um bom resultado que, somado à expansão de 4% em 2017, representa um alívio. “Mas ainda estamos na metade do abismo, pois o comércio perdeu 20% do seu faturamento médio mensal durante a crise, no período de 2014 e 2016”, diz Bentes.

 

Fonte: ISTOÉ Dinheiro

 

 

 

 


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