Juros do cheque especial e do cartão de crédito voltam a subir em novembro

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O brasileiro voltou a pagar mais caro pelo cheque especial e o cartão de crédito rotativo em novembro. Os juros médios do cheque especial, que vinham caindo desde março, subiram 5,3 pontos percentuais, passando de 300,4% em outubro para 305,7% no mês passado. Também houve alta na taxa média do cartão de crédito rotativo, de 2,4 pontos percentuais, o que significou uma elevação de 253,2% para 255,6%. Em outubro, a taxa média do cartão havia caído de 259,9%, em setembro, para 253,2%.

 

Os números foram divulgados, nesta quinta-feira, pelo Banco Central, e mostram que, apesar das medidas tomadas pela autoridade monetária, em conjunto com os bancos, para reduzir o custo do dinheiro, as taxas cobradas pelas instituições nessas modalidades de crédito continuam as mais elevadas do sistema financeiro nacional. Sem contar que a taxa básica de juro (Selic), de 6,5% ao ano, é a mais baixa da história.

 

Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor Executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), diz que a explicação para as altas está nas características dessas duas taxas: são linhas pré-aprovadas, à disposição do cliente, e sem competição, já que uma está vinculada ao banco do qual a pessoa é cliente e a outra à administradora do cartão.

 

- São linhas de crédito sem competição, vinculadas a serviços que a pessoa já usa. Logo, na hora de acessar não tem como pesquisar qual seria melhor contratar. Também por ser pré-contratada, o risco de inadimplência é maior e o banco não tem garantia nenhuma. Esse risco também cresce por conta do cenário, que é de endividamento e desemprego altos por parte das famílias - explica Miguel.

 

Filipe Pires, professor de Finanças do Ibmec/RJ, destaca que há um grande peso da sazonalidade sobre essas altas:

 

- A partir de novembro aumenta o uso de cartão de crédito e cheque especial devido às compras para as festas de fim de ano e de viagens para as férias. Como cresce o volume de transações, cresce o risco de inadimplência. Então, o mercado de crédito eleva esses juros para tentar inibir o consumo e se proteger. O problema é que poucos brasileiros têm conhecimento das taxas cobradas no rotativo. Então, é uma medida que pode não ter efeito.

 

Ele disse que a tendência é que essas duas taxas permaneçam mais altas até março, devido aos gastos com férias, material escolar e contas de início de ano, como renovação de matrícula, pagamento de IPTU e IPVA, que costumam elevar o uso do cartão de crédito e cheque especial.

 

- As pessoas buscam consumo imediato e não têm condições de captar crédito por outras vias. Além disso, falta informação sobre as taxas de juros e planejamento. Então, muitas usam o limite do cartão de crédito como fonte extra de renda, o que é um risco grande.  - diz Pires.

 

O economista sugere a oferta de linhas de crédito para negativados com taxas de juros "mais amigáveis", como forma de inibir o uso maior do rotativo.

 

No caso do cheque especial, apesar da alta mensal, há uma queda acumulada de 17,3% no período de janeiro a novembro de 2018. Por outro lado, os juros médios do cartão de crédito subiram 18,3% no período de comparação. Esse último, está em nível próximo do registrado no primeiro mês de entrada em vigor das novas regras para uso da linha de crédito, há pouco mais de um ano, no qual clientes que estivessem no rotativo deveriam ser migrados para uma linha de parcelamento com taxas mais baratas. Antes disso, os juros médios rondavam os 500% ao ano.

 

Segundo o diretor da Anefac, a permanência de altos níveis de desemprego e inadimplência eleva o risco para quem empresta: as pessoas usam mais o cartão de crédito para empurrar as contas para frente.

 

Já os consumidores que optaram por pagar a fatura do cartão de forma parcelada foram contemplados com juros menores em novembro. A taxa média caiu de 166,1% para 162,5%. Também houve redução, em novembro, dos juros médios cobrados nos empréstimos bancários, na categoria de crédito pessoal, de 3,1%. Porém, no ano, há uma alta acumulada de 9,6%.

 

Crédito consignado

 

Para os servidores públicos e os trabalhadores do setor privado que recorreram ao crédito consignado, a situação está melhor. Os empréstimos para o funcionalismo tiveram uma pequena alta de 0,2 ponto percentual nas taxas de juros, de 22,4% para 22,6%, mas os juros acumulados em 2018 diminuíram 1,5%, de janeiro a novembro deste ano. No setor privado, os juros médios caíram 1,3 ponto no mês, de 38,5% para 37,2%. No ano, houve uma redução de 2,6%.

 

Entre as medidas já adotadas pelo BC e os bancos ao longo dos últimos meses, está a oferta automática de parcelamento mais barato para consumidores que usaram mais de 15% do limite disponível do cheque especial por 30 dias consecutivos. Além disso, quem não paga a fatura integral do cartão de crédito só pode passar 30 dias no rotativo. Depois, o valor atrasado migra para uma linha com juros mais baixos.

 

Uma das principais razões que impedem uma redução mais expressiva dos juros é o spread bancário (diferença entre o que as instituições financeiras pagam pelos recursos e o que cobram de seus clientes). No mês passado, a taxa ficou em 24,2% para pessoas físicas e de 9,1% para pessoas jurídicas.

 

Miguel, da Anefac, diz que essa alta é efeito calendário (novembro teve mais dias úteis que o mês anterior):

 

- Se a Selic não foi alterada e as taxas de juros médios caíram, os spreads não deveriam subir, não fosse esse efeito.

 

O Banco Central também identificou expansão de 1,7% das concessões de crédito no sistema financeiro nacional, o equivalente à liberação de R$ 330 bilhões pelos bancos. No acumulado do ano, as concessões aumentaram 11,8% para as pessoas jurídicas e 10,3% para as pessoas físicas.

 

Fonte: O Globo/RJ


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