Projeções do mercado para o câmbio recuam e favorecem inflação menor

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Economistas do mercado financeiro cortaram suas projeções para a taxa de câmbio no final de 2019, de R$ 3,75 para R$ 3,70, de uma semana para outra. Há um mês, a expectativa era de dólar a R$ 3,80.

 

Com isso, o cenário para a inflação do ano, que já é benigno, perdeu mais um fator de pressão. Inclusive, o Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado ontem, mostrou que as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2019 caíram de 4,00% para 3,94%.

 

A maioria dos economistas também passou a ver a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 6,50% este ano. Na semana passada, a mediana das previsões indicavam Selic de 7%. O Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por decidir sobre os juros, reúne-se entre hoje e amanhã.

 

Um dos fatores que mexeu com as previsões veio do setor externo, comenta a economista da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro. “Os bancos centrais pelo mundo estão dando sinais de que farão ajustes mais moderados nas taxas de juros. Com isso, os agentes de mercado que antes viam uma maior pressão na inflação via câmbio estão revisando suas estimativas”, afirma Ribeiro.

 

No último dia 31, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu manter os juros entre 2,25% e 2,50%, alegando que será “paciente” para realizar novas altas, diante de pressões inflacionárias e do cenário global.

 

“Com a projeção de câmbio para baixo, isso reduz as pressões inflacionárias aqui no Brasil, especialmente porque provoca viés de baixa nos preços das commodities”, destaca Ribeiro. Ela lembra que esse cenário, somado a um dinamismo econômico muito baixo, indica um cenário de inflação mais tranquilo do que se esperava para o ano. “Diante disso, nossa expectativa é de que a Selic só volte a subir em março de 2020. O mercado trabalha com janeiro de 2020”.

 

Patricia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos, reforça que as probabilidades de aumento de juros nos Estados Unidos se reduziram e que isso, por sua vez, diminui os riscos de desvalorização do real. “Contudo, eu acredito que, mais importante do que o setor externo, será a nossa lição de casa na parte fiscal. Sem as reformas, a moeda nacional pode voltar a se desvalorizar”, diz Pereira. Ontem, o dólar comercial fechou abaixo de R$ 3,70, a R$ 3,6699.

 

O coordenador do IPC do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), André Braz, acrescenta que o bom comportamento da inflação também é resultado de fatores climáticos que têm beneficiado a produção agrícola. “Desde 2017, a agricultura não vem se apresentando como um desafio. Temos tido boas safras e choques climáticos pouco significativos”, afirma Braz.

 

Além disso, o especialista comenta que o baixo nível de crescimento da economia, após a forte recessão entre 2015 e 2016, e o consequente enfraquecimento da demanda interna, fez com que grupos de preços que rodavam tradicionalmente acima da média do IPCA, recuassem. É o caso dos preços dos serviços e dos bens duráveis que, antes da crise, acumulavam altas de 7% a 8%. No final de 2018, o IPCA de serviços, por exemplo, fechou com variação de 3,36%.

 

“O nível de desemprego ainda é muito alto, o que diminui o consumo de serviços e dos bens duráveis”, diz Braz. Segundo ele, mesmo que ocorra variações maiores nos preços dos administrados, como combustíveis e energia, isso não será um grande problema para o IPCA, no geral, tendo em vista o cenário mais controlado para os preços livres.

 

Estimativas até março

 

Somente para o mês de janeiro, a Tendências Consultoria prevê alta de 0,50% para o IPCA, variação acima da mediana do mercado financeiro, que aponta aumento de 0,38%. De acordo com Ribeiro, essa projeção maior se explica pelo avanço dos preços do transporte público nas cidades brasileiras. “Enquanto em dezembro, o item ônibus urbano registrou alta de 0,13%, em janeiro o aumento deve ficar em torno de 1,1%”, prevê Ribeiro.

 

Já nas estimativas da Mongeral Aegon Investimentos, o IPCA de janeiro deve vir em 0,40%, mas subir 0,48% em fevereiro, puxado pelos preços da educação, explica Pereira. Nas previsões de Braz, por sua vez, o IPCA de janeiro deve ficar mais próximo de 0,30%.

 

Já no Boletim Focus, os economistas do mercado financeiro reduziram de 0,40% para 0,38% as suas previsões para a inflação de janeiro. Um mês antes, o percentual projetado estava em 0,37%. Para fevereiro, a projeção foi de 0,41% para 0,36% e, para março passou de 0,35% para 0,34%.

 

Fonte: DCI


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