'Black Friday verde e amarela' terá efeito limitado no comércio, avaliam economistas

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A criação da Semana do Brasil, que vem sendo chamada de Black Friday verde e amarela, tentativa para estimular as vendas durante uma data nacional, pode ter um valor simbólico, mas deve ter efeito limitado para o desempenho do varejo. Na visão de economistas, a campanha no máximo causará uma antecipação do período de compras.

 

- Você tem um deslocamento da demanda, mas não um aumento das vendas. As pessoas podem, por exemplo, antecipar as compras do Dia das Crianças. É mais um simbolismo do que um potencial para mudar o patamar de vendas - explicou Luiz Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.

 

Para Leal, uma mudança do patamar de vendas do varejo depende do aumento da massa de salário, difícil em um cenário de desemprego elevado. Mesmo a liberação dos R$ 500 das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que começa em setembro, só deve ter um efeito mais significativo na demanda do consumidor no último trimestre do ano.

 

- Talvez vejamos um evento na Black Friday, em novembro, que vai coincidir com a liberação do FGTS. Aí sim podemos ter uma mudança de patamar e um crescimento na comparação com o ano anterior - disse.

 

Vendas menores que em 2018

 

As vendas no varejo restrito (exclui veículos e materiais de construção) têm ficado abaixo do esperado por economistas. No acumulado do primeiro semestre, o crescimento é de apenas 0,6% na comparação com igual período do ano anterior.

 

"Esse cenário reforça a nossa visão de que o consumo continua crescendo moderadamente, impulsionado pela expansão do crédito à pessoa física e leve crescimento da massa salarial", avaliaram os economistas do Itaú Unibanco.

 

Alimentos: Fabricantes de iogurte e chocolate apostam na venda porta a porta

 

Nas contas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mesmo com a liberação do FGTS, o varejo restrito deve crescer no ano apenas 1,3%, abaixo dos 2,3% registrados em 2018.

 

Para Carlos Tadeu de Freitas, economista-chefe da CNC, a iniciativa é positiva e a liberação dos recursos do FGTS, mesmo que boa parte seja destinada para o pagamento de dívidas, é positiva para o segmento do comércio. No entanto, reconhece que a economia ainda está fraca.

 

- Mas hoje já temos sinais de que o comércio está reagindo. Há mais facilidade para a tomada de crédito - disse, lembrando que isso beneficia a venda de bens duráveis (geladeiras, televisões).

 

Pequenos comerciantes reclamam

 

Nem todas as lideranças do varejo estão contentes com a ‘Black Friday’ patriótica. A Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), que representa pequenos varejistas de centros comerciais, reclamou não ter sido lembrada nos preparativos da semana.

 

Segundo a entidade, as associadas da Ablos respondem por 55% das vendas do segmento de vestuário em shoppings no país. Apesar do tamanho, o grupo ficou sabendo da Semana do Brasil pela imprensa.

 

Por isso, não deu tempo de negociar descontos com fornecedores nem de bolar estratégias de marketing para alavancar as vendas. Segundo Junior, apenas 30% dos associados vão aderir à campanha.

 

– Setembro seria uma época boa para uma campanha dessas porque há pouco risco de as vendas agora roubarem o movimento do Natal. Só que precisaríamos ter tido de 60 a 90 dias de preparativos – diz Tito Nessa Junior, presidente da Ablos e fundador da rede de lojas de roupas TNG.

 

De acordo com Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da consultoria para o varejo GS& Gouvêa de Souza e conselheiro do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), centro de pesquisas para o varejo, que idealizou a Semana do Brasil junto ao governo, a ideia da campanha é elevar a confiança do consumidor.

 

Para Gouvêa de Souza, num cenário como o atual, de juros mais baixos e redução do endividamento das famílias, a confiança é a única etapa ainda necessária para um aumento nas vendas no Brasil, que ainda patinam para recuperar o patamar pré-crise de 2014.

 

Indagado sobre as críticas da Ablos sobre o pouco tempo para os preparativos, Gouvêa de Souza admite que a campanha começou a ser gestada no fim de julho e que cresceu de maneira espontânea e às pressas.

 

– No ano que vem, queremos fazer diferente e dar mais tempo para todos os segmentos participarem – disse.

 

Fonte: O Globo

 


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