Queda da Selic ameaça o rendimento da poupança e da renda fixa

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Com a taxa básica de juros (Selic) em um novo piso histórico, de 5% ao ano, é preciso ficar atento para a rentabilidade das aplicações mais conservadoras, como poupança e fundos de renda fixa. Se o ritmo de queda da Selic se mantiver, elas vão começar a perder para a inflação. A expectativa do mercado é de que a taxa básica fique entre 4,5% e 4% no fim do ano. Especialistas em finanças pessoais reconhecem que, para minimizar perdas, o investidor vai ter que pesquisar melhor as opções no mercado e começar a correr um pouco mais de risco se quiser um retorno maior.

 

Os depósitos na caderneta passaram a render 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), atualmente zerada, a partir de maio de 2012 quando a taxa básica fica abaixo de 8,5% anuais. Logo, após o Banco Central reduzir os juros básicos para 5% ao ano, a poupança passou a render 3,5% ao ano e poderá cair para 3,15% se a Selic for reduzida para 4,5%, ou para para 2,8%, se essa taxa chegar aos 4% anuais. Enquanto isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 2,89% no acumulado em 12 meses até setembro. Pelas estimativas do mercado, esse indicador da inflação oficial deverá encerrar o ano em 3,29%, passando para 3,66%, em 2020.

 

Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), reconhece que, se a Selic continuar sendo reduzida, o dinheiro na caderneta vai perder poder de compra. “A poupança ainda é um bom investimento, mas o ganho está cada vez menor. Mas ela ainda é mais rentável do que vários fundos de renda fixa e do que o Tesouro Selic, porque não paga taxa de administração nem Imposto de Renda”, comparou. A mordida do Leão pode variar de 15% até 22,5%, dependendo do prazo da aplicação, e, no caso das taxas de administração, elas costumam ser mais altas quando o valor investido é menor, podendo chegar até 5% ao ano, consumindo qualquer rendimento. “Daqui para frente, de um lado, os bancos vão ter que reduzir taxas de administração e, de outro, as pessoas vão ter que se arriscar um pouco mais, como investir em fundo de ações”, explicou.

 

Na avaliação da superintendente de educação financeira a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Ana Leoni, com esse novo patamar da Selic, está ocorrendo uma mudança no mercado financeiro. “O cenário será mais desafiador tanto para os gestores quanto para os investidores. As pessoas vão precisar pesquisar mais os investimentos e deixar o dinheiro aplicado por mais tempo para melhorar a rentabilidade”, destacou Ana.

 

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) registrou alta de 22% no acumulado do ano até outubro, mas é um dos investimentos mais arriscados para o pequeno investidor. O ideal, segundo Erica Santos, sócia-fundadora da Ella’s Investimentos, é começar investindo em fundos multimercado ou de ações, que permitem aplicações a partir de R$ 500. No caso dos fundos de ações, alguns chegaram a pagar mais de 40% no ano e, na média, se valorizaram 30% em 12 meses, pelos cálculos de Erica. Enquanto isso, as aplicações de renda fixa pagando 100% do CDI tiveram ganhos de 4,9% na mesma base de comparação, destacou.“Além de pesquisar as taxas de administração e de rentabilidade, o  ideal é diversificar as aplicações para minimizar os riscos”, explicou.

 

Pelos cálculos do economista e especialista em finanças pessoais Fábio Gallo, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), é preciso ficar muito atento às taxas de administração dos fundos para não perder dinheiro e evitar aplicações que paguem menos de 100% do CDI. “Todos os fundos tradicionais com taxas acima de 0,5%, com essa nova Selic, ficarão no vermelho. Portanto, vamos ter que aprender a lidar com essa nova realidade”, alertou.

 

Ele lembrou que existe uma taxa extra que ninguém presta atenção, que é o come cotas, que é descontada duas vezes por ano nos fundos, podendo comprometer o todo o ganho da aplicação. “Todos esses fatores precisam ser considerados na hora de procurar um investimento”, orientou.

 

De olho nos rendimentos

 

Confira quanto renderam as principais aplicações no mês passado

 

Rentabilidade (em %)

 

Ativo - Outubro - Em 2019 - Em 12 meses

CDI - 0,48 - 5,17 - 6,21

Poupança - 0,32 - 3,66 - 4,43

IMA- - 3,36 - 23,57 - 26,74

IRF-M - 1,70 - 11,85 - 14,69

Ibovespa - 2,36 - 22 - 22,64

Idiv - 1,52 - 28,95 - 39,23

Ifix - 4,01 - 18,73 - 24,51

Dólar - (-)3,85 - 3,34 - 7,70

Euro - (-)1,66 - 0,63 - 6,01

Ouro - (-)0,45 - 28,38 - 39,11

 

Fonte: Economatica/Infomoney

 


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