Economia: retomada pode retornar à estaca zero

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No momento em que o Brasil parecia enfim retomar o fôlego e começava a se recuperar de uma das piores crises econômicas já vividas, eis que a Operação Lava Jato atinge o presidente Michel Temer (PMDB), aprofundando a crise política e institucional que já se arrasta pelo País. Há pouco mais de um ano à frente do governo, Temer conseguiu avançar com importantes pautas no Congresso Nacional, mas se vê agora diante de um mandato estremecido.

 

“Não renunciarei”, garantiu ontem, em pronunciamento oficial quanto à delação de Joesley Batista, um dos sócios da JBS, que, em março deste ano, gravou o presidente dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara  Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

 

“Hoje temos uma grande bomba e estamos catando os cacos”. Assim o presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Roberto Bretas, resumiu o cenário do Brasil um dia após o mais novo escândalo político – desta vez envolvendo o presidente Michel Temer - abalar o País. Se há pouco mais de um ano a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff era vista por muitos como a “luz no fim do túnel” para a retomada do crescimento, agora a situação parece voltar à estaca zero e novamente a economia nacional se vê ameaçada pelo “fantasma” da estagnação.

 

De acordo com Bretas, com as denúncias contra o peemedebista, a expectativa é de que haja uma nova paralisação do País. Ou seja, até que seja encontrada uma solução para mais um capítulo da crise política que afeta o Brasil nos últimos anos, nada de se falar em investimentos e muito menos de se esperar por uma recuperação econômica, que vinha sendo projetada pelos diferentes setores para o segundo semestre deste ano.

 

“A economia agora entra em estágio de letargia. Aquilo que o mercado esperava com relação às reformas trabalhista e da Previdência, que posteriormente seriam acompanhadas de uma série de outras reformas, isso para totalmente. O governo perdeu a capacidade de governar, de organizar a base parlamentar que tinha, e o mercado vai reagir com pânico”, alertou o presidente do Corecon-MG.

 

“Pé no freio”-  Com a confiança abalada, Bretas afirma que a tendência é de que os investidores internos e externos coloquem ainda mais o “pé no freio”. Até porque, segundo o presidente do Corecon-MG, antes do escândalo existia uma euforia muito difundida de que a economia brasileira vinha dando sinais de recuperação, mas na realidade não era bem este o cenário. Para ele, muito provavelmente a retomada não ocorrerá neste ano.

 

“Não vamos ter segundo semestre de crescimento, porque o risco aumentou. Crescimento significa investimento, mais gastos, consumo, e quando você tem mais risco, isso não vai acontecer. Estamos em uma situação hoje na qual a retomada ficou mais difícil”, advertiu.

 

O cientista político e professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lucas Cunha, ponderou que a insegurança política gerada com a possibilidade do envolvimento do chefe máximo do Executivo no escândalo de corrupção afeta diretamente as expectativas de inversões e retornos no Brasil. Cunha acredita que os investimentos que puderem ser paralisados assim serão. “Os aportes externos também passarão longe do País, porque, nessa conjuntura, com toda a imprensa internacional repercutindo a crise, certamente isso vai afastar os investimentos da economia brasileira”, avaliou.

 

Para o especialista, ainda não é possível, porém, medir as consequências econômicas do novo escândalo. Cunha destacou que a crise política já vinha acontecendo e havia uma impressão de que ela tinha acabado, o que não ocorreu. “Sou pessimista quanto ao ambiente econômico do País. Até às novas eleições, vamos padecer de um problema de legitimidade muito grande por parte do governo”, diz o cientista político.

 

O presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRC-MG), Rogério Marques Noé, acredita que ainda é muito cedo para fazer qualquer tipo de avaliação. Entretanto, ele reconhece que quando há falta de credibilidade, o recuo do investidor é instantâneo. “Estamos vivendo um impacto imediatista em função dos dados apresentados, que fizeram a economia voltar atrás. O dólar subiu, as bolsas caíram e o investidor de fato recuou, sendo que a nossa economia vinha em uma ascendente, o bom humor estava voltando ao mercado”, destacou.

 

O conselheiro seccional da Ordem dos Advogados do Brasil – seção Minas Gerais (OAB-MG) – e especialista em direito constitucional, Fernando Jayme, afirmou que o País está novamente no meio de uma gravíssima crise política. Para ele, os impactos do escândalo com Temer são imprevisíveis.

 

“A situação é grave e, a curto prazo, não vai ter uma solução, porque uma solução política neste caso depende de uma solução jurídica, e sabemos que o ritmo de um não é o mesmo que o do outro. O mercado vai sofrer um pouco com essa situação de indefinição, com a paralisação das reformas e a instabilidade política. Tudo isso vai comprometer bastante o andamento das atividades normais do nosso cotidiano”, previu.

 

“A situação de Temer está pior que a da Dilma. Ele não dura por muitos meses. É questão de tempo. Ele pode falar o que quiser, mas não vai ficar. Tem as condições políticas e a economia, que pesam muito”, concluiu.

 

 

 

Fonte: Diário do Comércio de Minas 


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