Indústria vai manter margem apertada para garantir volume

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São Paulo - Sem sinais de recuperação, a indústria de bens de consumo deve apertar mais as margens para tentar alavancar o volume de vendas no segundo semestre. Enquanto a demanda não reage, a saída para crescer é avançar sobre a concorrência - mesmo sacrificando o lucro.

 

"A recuperação não está vindo porque não há nenhum evento que possa justificar isso. A renda das famílias está contida, o setor público está travado e o mercado de trabalho está frio, com o aumento de vagas informais", avalia o economista-chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo Silveira. Segundo ele, as empresas vão seguir sacrificando as margens para manter o crescimento do volume. Na visão dele, uma melhora do ambiente econômico poderá vir apenas a partir do quarto trimestre, indicando uma possível retomada para o ano de 2018.

 

Já o economista do IEDI, Rafael Cagnin, avalia que o País passa hoje por um momento de "estancamento da crise", sem elementos que justifiquem uma aceleração do consumo. "Estamos com a cabeça fora da água, mas presos no fundo do poço", comparou. Especialmente para a ampliação da demanda, Cagnin observa que falta um longo caminho. "A queda dos juros precisa ser repassada para os empréstimos e chegar às famílias, por meio do refinanciamento das dívidas contraídas no passado. Esse é um processo lento, que, junto com a queda da inflação e a volta do emprego formal, vai recompor o consumo, mas não as perdas dos últimos anos", explica o economista.

 

O consultor da Lupoli Jr & Consultores Associados, José Lupoli Júnior, ressalta que, para crescer, as empresas estão ingressando numa armadilha perigosa: estão abrindo mão da margem para ganhar fatia de mercado.

"A única forma de recuperar e minimizar um pouco da perda de lucratividade é por meio da redução de custos", diz, ressaltando que, ao mesmo tempo em que eliminam as despesas no curto prazo, como pela redução dos investimentos, sacrificam o crescimento no longo prazo.


Bebida, vestuário e beleza

Diante do cenário incerto de recuperação econômica, gigantes nacionais e internacionais que atuam no Brasil confirma a perspectiva difícil. E o pior: não projetam melhora consistente no segundo semestre. "Estamos otimistas sobre o crescimento de longo prazo para o Brasil, mas no curto prazo mantemos a cautela", diz o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Ambev, Ricardo Rittes. A fabricante de bebidas avalia que a economia brasileira está se recuperando num ritmo lento, representando um desafio adicional para a indústria de cerveja no curto prazo.

 

Apenas em cervejas, a retração da Ambev foi de 1,3% em volume e de 3,3% da receita líquida. Em refrigerante e bebidas sem álcool, a queda ficou em 14% no volume e de 8,5% na receita. A Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) "enxerga alguns sinais de melhora, mas que ainda não há dados sólidos que comprovem uma recuperação". A Abir destaca que o consumidor vem buscando por marcas mais baratas para substituir as marcas de primeira linha, assim como substituindo os refrigerantes por suco em pó. "Esse é um comportamento natural e cíclico, decorrente da crise econômica", informou um executivo Abir.

 

Outro segmento que segue patinando é o de higiene pessoal e perfumaria. Maior fabricante nacional, a Natura registrou queda de 2,3% das vendas no Brasil entre abril e junho. "Continuamos bastante cautelosos (em relação ao Brasil)", afirma o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Natura, José Roberto Lettiere. Segundo ele, a inflação menor é um fator positivo para a empresa, que este ano dimensionou seus itens ao poder de compra das clientes.

 

Na área de calçados, a fabricante Grendene relatou que "com os dados observados no primeiro semestre não podemos confirmar que esteja em curso uma grande recuperação no consumo de calçados no Brasil". A Grandene registrou uma alta de 4,9% na receita líquida com o mercado interno no segundo trimestre, puxado pelo avanço de 14% dos preços médios, enquanto o volume de vendas recuou 8%.


Medicamentos

Entre as exceções do setor de consumo está o segmento farmacêutico. Principal empresa nacional do segmento, a Hypermarcas relatou um aumento da demanda no segundo trimestre. "A falta de produtos é um bom problema, pois isso significa que há demanda. O problema é quando temos um excesso de estoques", afirmou, durante teleconferência com analistas o presidente da Hypermarcas, Claudio Bergamo.

"Estamos trabalhando para que isso não venha a ocorrer novamente, elevando a nossa produção e os nossos estoques, que estavam baixos no primeiro trimestre", acrescentou.

 

Pedro Paulo Silveira comenta que elasticidade dos produtos da Hypermarcas sobre a renda é baixa, "pois as pessoas não deixam de comprar remédios quando ficam doentes". Já Lupoli avalia que a empresa se beneficia ainda da maior maior demanda por genéricos, que crescem em épocas de crise.

 


Fonte: DCI São Paulo

 


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