A produção de cervejas recuou 2,6% no Brasil em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a fabricação de refrigerantes caiu 2,9%, segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal. Apesar da queda, os indicadores surpreenderam positivamente o mercado, já que a base de comparação de janeiro do ano passado era muito alta.
Como em 2013 o Carnaval ocorreu em fevereiro, o mês de janeiro foi o mais forte do ano em produção, com alta de 14% na comparação anual. Por isso, muitos investidores estavam preocupados com uma possível queda de dois dígitos na produção de cervejas, segundo o analista Fernando Ferreira, do Bank of America Merrill Lynch (BofA).
As bases de comparação de fevereiro e março devem ser bem mais "fáceis", já que nesses meses do ano passado houve queda de 2,6% e 13%, respectivamente, na produção de cerveja, lembrou o analista em relatório.
Ferreira afirmou que as temperaturas acima de média em janeiro e a menor incidência de chuvas ajudaram a impulsionar o volume de vendas no mês passado. A previsão do tempo indica que as temperaturas devem continuar altas pelo menos até março, o que deve dar uma boa ajuda para as vendas do setor, concluiu o analista.
Após um ano de 2013 com queda na produção de cervejas no país, especialistas do setor acreditam que há espaço para um avanço nos volumes da bebida. O ambiente para aumento de preços, no entanto, pode ter ficado um pouco mais difícil.
Para o BofA, após a inflação da cerveja ter ficado significativamente acima da média por três anos, é esperado que a líder de vendas Ambev equilibre mais a relação entre volumes e preços.
No ano passado, a inflação da cerveja medida pelo IPCA ficou em 10,1%, acima tanto do índice geral, de 5,9%, quanto do IPCA de alimentos e bebidas, de 8,5%. Em paralelo, o volume vendido do produto no Brasil recuou 2%.
Neste verão, período em que tradicionalmente o preço da cerveja sobe, a Ambev lançou a campanha de marketing "Verão sem aumento", com o objetivo de estimular o aumento do volume. Segundo a empresa, que tem 70% do mercado, a adesão de varejistas à iniciativa ficou acima da expectativa.
Em recente entrevista ao Valor, o diretor de mercado do grupo Petrópolis, Douglas Costa, disse que espera um ano um pouco mais fácil para o setor de cervejas. Ele contou que, até agora, as vendas da dona da Itaipava estão cerca de 10% acima do registrado no mesmo período de 2013. O executivo, no entanto, ainda tem dúvidas se o setor vai apenas recuperar os volumes perdidos no ano passado ou terá fôlego para expansão.
Para o BofA, o mercado de cerveja pode apresentar um crescimento de cerca de 6% em 2014. A base de comparação, no entanto, é fraca. Para o longo prazo, o banco estima que os volumes possam evoluir entre 2% e 3% ao ano.
O J.P. Morgan prevê um aumento de 5% no volume vendido no país este ano, impulsionado pela Copa do Mundo e pelo verão prolongado.
De modo geral, 2014 está trazendo uma injeção de ânimo aos fabricantes. Mas o setor ainda vai precisar convencer o governo a adiar, novamente, o aumento dos impostos federais sobre bebidas frias. A definição sobre o tema sai em abril. Se os números do primeiro trimestre forem muito bons, vai ficar difícil conseguir outra postergação - a última foi em outubro.
Veículo: Valor Econômico