Após gafe sexista, AB InBev adota estratégia ‘neutra’ no Super Bowl.
A Bud Light pisou na bola com #UpForWhatever (#Disposta a tudo, em tradução livre), a campanha de marketing que chamava a bebida mais popular dos EUA de “a cerveja perfeita para eliminar o ‘não’ do seu vocabulário à noite”. Choveram críticas por fazerem ouvidos moucos ao problema da violência sexual.
Agora, a Anheuser-Busch InBev NV está tentando ganhar as mulheres de volta com uma campanha publicitária no Super Bowl que tem como eixo a noção de que se juntar ao redor de uma Bud Light bem gelada pode ajudar a resolver os problemas do mundo, inclusive diferenças salariais. E a MillerCoors, maior concorrente americana da AB InBev, diz que atrair mais clientes mulheres é fundamental para recuperar os 10% do mercado que a cerveja perdeu para o vinho e bebidas destiladas na última década. Juntas, as duas empresas vendem 72% da cerveja nos EUA
— A objetificação das mulheres está acabando — disse Jorn Socquet, vice-presidente de marketing da AB InBev nos EUA.
— Achamos que é o momento certo — disse Britt Dougherty, diretor sênior de marketing da MillerCoors. — Estamos passando por uma feminização da cultura.
Tornar a cerveja “menos sexista” poderia acrescentar cerca de cinco milhões de barris, nos próximos cinco anos, aos 206 milhões de barris vendidos anualmente nos EUA, disse ela, e aumentar a receita de uma indústria que está se reformulando. A AB InBev está planejando comprar a SABMiller Plc, com sede em Londres, enquanto que a SABMiller anunciou que está vendendo sua participação na MillerCoors para a Molson Coors Brewing Co., com sede em Denver, nos EUA e em Montreal, no Canadá.
Bonecas quase nuas
Anos de anúncios mostrando as mulheres quase como bonecas brincando quase nuas para o prazer dos homens ajudaram a limitar o consumo de cerveja entre as mulheres a 25% das vendas nos EUA. Conquistar as mulheres com novas mensagens será difícil, disse Allen Adamson, ex-presidente da empresa de marcas Landor Associates.
— Tentar convencer as mulheres a beberem cerveja é um desafio antigo, por isso é um caminho difícil — disse Adamson. — Depois de anos sendo muito sexista e com muito foco nos homens, não dá para dizer agora: ‘Esqueçam tudo isso!’. Vai demorar um bom tempo sair desse lugar que eles mesmos criaram”.
A campanha #UpForWhatever, que foi atacada por críticos incluindo John Oliver, do programa da HBO “Last Week Tonight”, foi “fundamentada em conhecimentos substanciais sobre o desejo da geração Y de diversão espontânea e projetada para ser neutra em termos de gênero”, disse Socquet.
— No entanto, o trabalho em si foi excessivamente focado no ‘viva o hoje, não o amanhã’ e não alcançou o desempenho esperado entre todos os públicos-alvo.
Embalagens coloridas
Socquet disse que espera aumentar as vendas para mulheres com bebidas doces e embalagens coloridas.
Por isso, lançaram Bud Light Lime-A-Rita, um coquetel em lata que coloca a cerveja mais vendida dos EUA em uma mistura que imita os três ingredientes da margarita — tequila, Cointreau (ou triple sec) e suco de limão. As vendas dos sete sabores da Lime-A-Ritas da Bud Light caíram muito neste ano, segundo a Insights da Beer Marketer.
Dougherty disse que para mulheres ou homens o sabor não importa tanto, que o principal é que a cerveja possa ser o centro de uma reunião social, uma razão para sair.
— Estamos percebendo que, na verdade, não é que as mulheres não gostam de cerveja, é que nós só precisamos ter certeza de que estamos mostrando o benefício social — disse ela. — Aprender a gostar da cerveja tem um valor social para os homens, porque eles saem com os amigos, é como eles criam seus vínculos.
Mesmo assim, MillerCoors programou o lançamento da Henry’s Hard Soda (ale de laranja e gengibre) em janeiro, para se unir à Redd’s Apple Ale, cerveja com sabor de frutas e sem glúten, como produtos com maior apelo às mulheres.
O objetivo final, não há nenhuma dúvida, é aumentar as vendas, afirmou Socquet. Uma campanha publicitária pode incluir todos os gêneros, ser amada por todos e até mesmo dar água na boca de telespectadores apáticos, mas se não vender cerveja, não cumpriu seu objetivo.
Veículo: Jornal O Globo - RJ