De acordo com a Ambev, que detém 70% do mercado brasileiro, enquanto em países vizinhos, como o Chile, as bebidas especiais já representam 15% dos negócios, no Brasil fatia é de só 10%
São Paulo - A indústria brasileira de cerveja deverá intensificar os investimentos nas bebidas premium para conseguir reverter a tendência de queda nas vendas nos próximos meses.
Dados do Sistema de Controle da Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal, mostram que a produção de cerveja vem caindo mês a mês na comparação com o ano anterior. Em julho, até sexta-feira (29), foram produzidos 888 milhões de litros de cerveja, o nível mais baixo para o mês dos últimos cinco anos. Um ano antes a marca foi de 985 milhões de litros.
Uma pesquisa realizada pela Consultoria Mintel indica que, apesar da retração econômica que vem puxando para baixo as vendas de cervejas, o brasileiro estaria mais interessado em consumir bebidas especiais.
"Há uma percepção do consumidor de que vale a pena pagar mais por conta do cuidado especial envolvido no processo de fabricação dessas cervejas", acrescenta o especialista da Mintel, Andre Euphrasio. De acordo com o levantamento, 18% dos entrevistados pagariam mais por cervejas envelhecidas em barris, mesmo processo realizado na produção de uísque, por exemplo.
O potencial de expansão do segmento premium e as elevadas margens de ganhos têm feito as cervejarias investirem cada vez mais nisso. Segundo o presidente da Ambev, Bernardo Paiva, a companhia vai dirigir esforços para o segmento nos próximos semestre. A gigante detém rótulos especiais como Bohemia, Budweiser e Stella Artois.
"Este segmento será um dos focos da companhia devido à tendência de crescimento e por trazer faturamento. Além disso, ainda é um segmento subdesenvolvido em relação a outros mercados da América Latina" afirmou o executivo à jornalistas na sexta-feira (29).
Ele explicou que em países como Chile as vendas na categoria premium representam 15% do mercado de cervejas, enquanto no Brasil essa participação chega a apenas 10%.
O analista Andre Euphrasio avalia que todas as cervejarias devem investir nesse potencial, visto a capacidade de geração de receita. "Todas as grandes cervejarias estão investindo fortemente nisso porque são produtos mais lucrativos. Mesmo com a recessão econômica, os consumidores ainda gastam com o premium para fazer um agrado a si mesmos", comenta ele.
A Ambev, por exemplo, registrou crescimento de dois dígitos na receita líquida e volume de premium no segundo trimestre sobre um ano antes, com a Budweiser liderando o segmento no Brasil. No mesmo período, a receita líquida consolidada da companhia subiu 3,2%, a R$ 10,4 bilhões.
Em teleconferência com analistas e investidores sobre os resultados do segundo trimestre de 2016, Bernardo Paiva considerou que os resultados melhoraram na comparação com o início do ano, mas as marcas de consumo massivo, como Brahma e Skol, ainda sofrem. Na visão dele, o cenário macroeconômico no Brasil ainda tem exercido pressão sobre a renda disponível e isso afeta diretamente essas marcas de maior volume em vendas.
A gigante global das bebidas teve lucro líquido de R$ 2,2 bilhões no segundo trimestre, queda de 22,4% contra igual período de 2015, devido puxado principalmente pelas quedas nas vendas em volume.
No relatório de resultados, a empresa reduziu sua expectativa para este a ano e agora prevê que a receita líquida fique estável em relação ao ano anterior, quando atingiu um montante de R$ 46,7 bilhões. "Não estamos satisfeitos com a velocidade de nossa recuperação, e tampouco com os resultados alcançados no primeiro semestre", ressalta.
Ao considerar o mercado brasileiro total, a Mintel estima que as vendas de cervejas atinjam R$ 89 bilhões neste ano.
Para a consultoria, até 2021, as vendas de cervejas terá crescimento de 42%, levando em conta a projeção para 2016. Tais valores devem ser atingidos em parte graças à tendência das cervejas premium, mas também terão influência do aumento de impostos.
Veículo: DCI