Marcas premium puxaram os volumes e a receita total cresceu 36% no segundo trimestre
Apesar das temperaturas mais baixas no segundo trimestre deste ano em comparação a anos anteriores e as restrições ainda impostas pela pandemia da covid-19, o volume de cerveja da operação da Ambev no Brasil registrou um crescimento de 12,7%, para 20,22 milhões de hectolitros. O volume é 10,9% superior ao do mesmo período de 2019 e 14% acima de 2018.
A empresa atribui o aumento das vendas aos lançamentos, que representaram mais de 20% do faturamento, liderado pela Brahma Duplo Malte, destacou a empresa em seu relatório de resultados. “Nosso portfólio de marcas premium cresceu aproximadamente 35%, impulsionado por Corona, Becks, Stella Artois e Original”, acrescentou. A receita líquida da divisão cresceu 25,8%, para R$ 6,45 bilhões, com a receita por hectolitro saltou 11,6%.
Acima das expectativas
Globalmente, o desempenho da Ambev no segundo trimestre superou as expectativas do mercado, cuja previsão já era de números fortes. A fabricante das cervejas Brahma, Skol e Budweiser registrou um crescimento de 19% no volume total de cerveja, com apenas o Canadá apresentando dificuldades — por lá, o volume caiu 0,9%. Dos 10 mercados em que atua, sete cresceram acima do segundo trimestre de 2019, quando não havia a covid-19.
A receita total cresceu 36,2%, para R$ 15,71 bilhões e o lucro líquido atribuído aos acionistas foi de R$ 2,89 bilhões, 135% acima do mesmo período de 2020. O resultado líquido, porém, foi beneficiado por um crédito tributário de R$ 1,60 bilhão, sendo R$ 1,22 bilhão registrados em outras receitas operacionais e R$ 385 milhões em receitas financeiras.
Não alcoólicos
Se o resultado da divisão de bebidas não alcóolicas da Ambev no primeiro trimestre foi melhor do que o previsto, mas ainda considerado aquém do potencial, no segundo trimestre a direção da empresa observou “uma recuperação saudável” do negócio.
O volume da divisão havia crescido apenas 0,8% no primeiro trimestre ante mesmo período de 2021. Agora, o crescimento do segundo trimestre ante mesmo período do ano anterior foi de 26,1%, para 6,49 milhões de hectolitros. Ante o primeiro trimestre deste ano, o avanço do segundo trimestre foi de 0,15%. A divisão é dona de marcas como Guaraná Antártica e Sukita.
“O retorno gradual do consumo fora de casa ajudou o crescimento do volume de nossas marcas premium, especialmente em embalagens one-way [sem retorno], impulsionando positivamente o mix de marcas. Nossa plataforma BEES [de conexão com pequenos comércios] continuou a se expandir e nos conectar com mais clientes, o que nos permitiu alcançar o nosso maior número de compradores de [não alcóolicos] “, afirmou a companhia em seu relatório de resultados.
Margens pressionadas
Como previsto por analistas em seus relatórios, as margens da companhia ficaram mais pressionadas neste trimestre. A margem bruta consolidada caiu 0,7 ponto percentual, para 49,3%. As ações da companhia caíam 3% no fim desta manhã, influenciadas por esse indicador.
Parte dessa queda é explicada pelo aumento do custo dos produtos vendidos (CPV) por hectolitro em 15,7%, devido aos impactos esperados de câmbio e commodities. A linha de despesas gerais, administrativas e de vendas cresceu 35,6%, afetada por acréscimos de remuneração variável, despesas de distribuição e investimentos em vendas e marketing.
A margem Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), no entanto, também ficou acima das previsões. O Credit Suisse previa margem Ebitda de 22% e o BTG P actual de 28%. A margem Ebitda registrada foi de 33,7%, 4,9 pontos percentuais acima do segundo trimestre de 2020.
Presidente da Ambev comenta a alta das marcas premium
O crescimento das marcas de maior valor agregado, o chamado portfólio premium, é algo que deverá ser mais estrutural e de longo prazo, afirmou Jean Jereissati, presidente da Ambev, na tarde desta quinta-feira (29), em teleconferência de resultados.
O segmento teve crescimento de 35% no trimestre, “um bom crescimento”, nas palavras do executivo.
“O que vimos durante a pandemia foi justamente a resiliência do core [marcas principais]. O crescimento do premium é algo mais estrutural e de longo prazo. Estamos investindo muito nas marcas antes de qualquer aumento de participação, para, de fato, ter um negócio sustentável no longo prazo.”
Ele diz que a companhia está empolgada, porque está crescendo rapidamente de “maneira muito sustentável”. “Posicionamento de marca crescendo de maneira sustentável e o aumento de volume vem na sequência”, disse.
Questionado sobre o cronograma de inovações para o segundo semestre, ele afirmou que o que há de mais relevante é a aposta em saúde e bem-estar. “Queremos ter mais produtos”, disse, citando como exemplo o lançamento nacional da cerveja de baixa caloria Michelob Ultra na época dos Jogos Olímpicos. A marca chegou primeiro ao mercado catarinense, depois ao paulista e foi expandindo.
Confiantes
Jereissati reforçou a visão otimista da companhia, que no segundo trimestre deste ano registrou recorde de volume produzido.
“Nosso momento é real e será colocado à prova no segundo semestre, mas estamos confiantes”, disse.
Em relatório, a equipe do BTG Pactual escreveu: “Um ano após o início da pandemia, e com várias iniciativas comerciais produzindo o que parecem ser resultados excelentes até agora, os volumes e os preços estão se recuperando mais do que poderíamos ter imaginado. Mas embora pareça que parte disso possa ser estrutural também acreditamos que parte não é.”
“Nossa fatia de mercado é muito forte e achamos que Brasil está num novo nível de volumes e participação de mercado. A reabertura [de bares, restaurantes e outros serviços] tende a ser positiva para nós e estamos otimistas quanto a isso. Geograficamente, as tendências estão a nosso favor”, argumentou Jereissati, na teleconferência.
Questionado se a empresa conseguiria manter o ritmo, dado que a indústria de cerveja também começa a melhorar com a retomada dos serviços, o executivo afirmou que a expansão da indústria tem sido puxada pelos volumes da companhia. Ambev registrou um avanço de 12,7% no volume de cervejas no Brasil.
“O que estamos vendo é que a cerveja, no Brasil, está saudável na abordagem com o consumidor, não está perdendo share [participação de mercado].” Ele afirma que a companhia foi “ousada” a, pouco antes da pandemia da covid-19, ter decidido acelerar a abordagem em novos canais e ocasiões de consumo em mercados com diferentes níveis de amadurecimento.
“No final, é uma combinação da indústria com a inovação, como, por exemplo, a Stella Artois sem glúten, que traz mais consumidores. Fico otimista em termos de indústria para o segundo semestre.”
BEES
Criada recentemente pela Ambev, o BEES, plataforma de venda B2B para pequenos comerciantes, conseguiu registrar bons números no segundo trimestre e segue como aposta da cervejaria para ampliar seus negócios.
“No Brasil, o BEES agora é usado por mais de 70% dos nossos clientes ativos — e também nos ajudou a atingir um número recorde de compradores de cerveja e NAB [não alcóolicos] em junho”, escreveu a empresa, em seu relatório de resultados.
Questionado na teleconferência de resultados, o presidente da companhia afirmou que “o mercado endereçável é enorme”.
Segundo ele, isso se dá porque o mercado é bastante fragmentado e o líder nessa indústria tem de 3% a 4% de participação. “Trazemos um nível de serviço que é inédito e não tem paralelo. Tem muito menos a ver com concorrência e muito mais a ver com serviço melhor para o pequeno varejista.”
Reforma do IR
O diretor financeiro da Ambev, Lucas Lira, disse que ainda é muito cedo para especular como a reforma do imposto de renda vai evoluir e quais impactos pode ter nos negócios da companhia.
De acordo com a versão mais atual da proposta, alguns setores, incluindo o de bebidas, perderiam alguns incentivos fiscais que estão em vigor. O presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) afirmou que a diretoria de relações com investidores tem recebido perguntas sobre o tema.
Ele aproveitou para destacar que o resultado neste trimestre, cujo lucro chegou a R$ 2,89 bilhões, foi beneficiado por um crédito tributário de R$ 1,6 bilhão, sendo a quantia de R$ 1,22 bilhão registrada em outras receitas operacionais e R$ 385 milhões, em receitas financeiras. Esses créditos estão relacionados à exclusão do ICMS na base de cálculo
Fonte: Valor Econômico