O Ministério da Agricultura (Mapa) deve publicar nesta semana edital para leilão de um milhão de toneladas de milho dos estoques públicos em resposta ao pleito de suinocultores, que enfrentam alta de custos e queda dos preços do quilo vivo. Porém, a medida é considerada insuficiente pelo setor.
O preço do cereal, que responde por 50% dos custos de produção, aumentou 30% de janeiro a abril. Ontem, o valor da saca de 60 quilos chegou a R$ 39,51 em Campinas (SP), segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O Mapa pretende realizar leilões comuns para a venda do grão, com oferta inicial de 200 mil toneladas, mas que poderá chegar a um total de um milhão de toneladas. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), porém, solicitou ao Ministério a realização de leilões de Valor de Escoamento de Produção (VEP). Essa modalidade prevê o pagamento de um prêmio para que o grão chegue a determinados estados. A última vez que o Mapa lançou mão dessa medida foi em 2014. “Não temos intenção de realizar esse tipo de leilão”, afirma o coordenador da Secretaria de Política Agrícola do Mapa, Sávio Pereira.
Ele afirma que esse tipo de operação envolve subsídio do governo em um momento de limitação de orçamento. “A melhor forma de atender à demanda dos suinocultores é o leilão tradicional”, argumenta.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem 1,3 milhão de toneladas em estoques, grande parte concentrados no Centro-Oeste. A demanda pelo grão, contudo, está na região Sul, que responde por 60% da produção de aves e suínos. “O produtor do Sul do País não consegue pagar o frete, que pode chegar a R$ 17 por saca, para trazer esse grão para seu estado”, argumenta o assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos da CNA, Victor Ayres.
Conforme o dirigente, também é necessário ampliar o limite para as vendas a balcão, das atuais 14 toneladas para 40 toneladas mensais por cadastro. O Mapa, porém, afirma ter limitações de oferta para atender ao pedido e deve realizar leilões de 200 mil toneladas para o Nordeste, mantendo o teto atual de compra.
“Essas medidas precisam ser tomadas agora. Não adianta o governo ter estoque público e não utilizar quando precisa”, defende o assessor da CNA. Ayres ainda destacou a necessidade do retorno da linha de crédito de custeio para a retenção de matrizes. A linha vigorou até 30 de junho de 2017, com limite de R$ 2 milhões por beneficiário e prazo de reembolso de três anos.
“Acreditamos que essa linha deve ser permanente”, diz. A CNA também pediu ao Banco do Brasil a prorrogação dos financiamentos da suinocultura com vencimento em 2018. “A intenção é impedir que o produtor fique inadimplente”, justifica Ayres.
Cenário
As demandas são alternativas para que os suinocultores possam se manter em atividade em meio a um cenário delicado para o setor. Por um lado, a alta nos preços do milho vem sendo sustentada pela quebra na safra de grãos na Argentina, que deve produzir 7 milhões de toneladas a menos do que no ciclo anterior, associada à queda na estimativa de produção brasileira de milho neste ciclo. A Conab projeta uma produção total de 88,6 milhões de toneladas, recuo de 9,4% ante a 2016/2017.
Ao mesmo tempo, o preço do quilo vivo do suíno recuou 25% de janeiro a abril, em razão da maior oferta no mercado interno. “Uma série de fatores contribuiu para esta redução de preço, quase todos relacionados ao aumento da oferta no mercado interno sem aumento no consumo”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos, Marcelo Lopes.
O principal motivo para o aumento da oferta é a queda das exportações após a suspensão dos embarques para o mercado russo, em novembro. A Rússia é o principal cliente brasileiro do setor. “A redução da oferta de carne suína no mercado interno só pode ser resolvida com a retomada do ritmo de exportações.”
Fonte: DCI