Empresas de bens não-duráveis preveem crescer 10,6%, diz FGV
A indústria de bens de consumo não-duráveis, como alimentos e bebidas, espera ter em 2010 a mais intensa elevação de faturamento em cinco anos. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a pedido da Agência Estado, mostra que o setor projeta para este ano faturamento 10,6% maior do que o de 2009 - estimativa acima da média geral da indústria, que espera aumento 10,1% nas vendas este ano; e superior às projeções de todas as outras categorias de uso da indústria da transformação para 2010.
De acordo com a pesquisa, a expectativa de faturamento da indústria de consumo não-duráveis ficou acima das estimativas de aumento de vendas para 2010 de bens de consumo duráveis (8,2%); bens de capital (10,0%); material de construção (10,0%) e bens intermediários (9,9%). "O ano de 2010 tem acenado com perspectivas muito melhores do que as de 2009", comentou o diretor do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Denis Ribeiro.
Ele lembra que, no ano passado, toda a indústria da transformação sofreu com os impactos negativos da crise global. No caso da indústria de alimentos, a expectativa da Abia é de que os números finais de produção nacional mostrem elevação de 1,3% ante 2008 - bem abaixo da alta de 4,2% verificada em 2008, ante o ano anterior. "Mas esse aumento de 1,3% é um resultado razoável se o compararmos com o PIB (Produto Interno Bruto) de 2009, que deve encerrar o ano entre zero e 0,5%", acrescentou.
Um fator que pode impulsionar o faturamento da indústria de alimentos é a recuperação gradual da demanda no mercado externo, na avaliação de Ribeiro. Por conta da crise, as exportações da indústria de alimentos em 2009 devem encerrar o ano com vendas em US$ 30 bilhões, 7% abaixo do desempenho de 2008. "Esperamos que o desempenho das vendas externas em 2010 fique próximo ao de 2008, que foi em torno de US$ 33,3 bilhões", disse.
O otimismo da indústria de bens de consumo não-duráveis para as vendas em 2010 também é originado de outro fator: a influência da demanda doméstica. De acordo com Ribeiro, em torno de 80% da produção da indústria de alimentos é voltada para o mercado interno. Para o analista da consultoria Tendências, Bernardo Wjuniski, a crise em 2009 poderia ter sido muito pior para a indústria da transformação, não fosse a participação consistente do mercado doméstico. "O mercado interno foi o que "segurou" a crise", resumiu.
Wjuniski observou que, para 2010, o mercado doméstico deve continuar a sustentar a trajetória de faturamento da indústria. Setores voltados à demanda doméstica, como o de bens de consumo não-duráveis, serão novamente beneficiados.
Para 2010, Rogério Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), aposta em bons desempenhos tanto em bens de consumo não-duráveis quanto em bens de capital, um dos setores mais afetados pela crise. "Este ano vai ser bom para todas as categorias de uso da indústria da transformação", disse.
Mas Souza considerou que, no caso da indústria de alimentos e de segmentos de bens de consumo não-duráveis, as expectativas melhores são mais visíveis. Isso porque 2009, apesar da crise, contou com números razoáveis de mercado de trabalho e de renda real, o que não prejudicou muito o poder aquisitivo dos trabalhadores, principalmente aqueles com ganhos mais baixos, moradores das regiões Norte e Nordeste.
Veículo: O Estado de S.Paulo