Mercado pode estar recusando reajustes de preços, o que poderá provocar queda na produção mais adiante
Renata Veríssimo, BRASÍLIA
Depois de um processo de ajuste concluído no fim do ano passado, os estoques da indústria voltaram a crescer e estão acima do planejado. A informação, revelada pela Sondagem Industrial do segundo trimestre, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), acendeu o alerta. Para a CNI, embora ainda tímido, o acúmulo de estoque pode significar queda no ritmo da produção, apesar do bom desempenho do segundo trimestre.
“É o primeiro sinal de alerta porque significa que as expectativas de venda das empresas não se concretizaram, o que pode estar traduzindo um arrefecimento do processo de crescimento econômico”, disse o chefe de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca. “Certamente, se esse movimento continuar, as empresas vão reduzir o ritmo de crescimento da produção para que os estoques voltem a se ajustar ao planejado.”
Para Fonseca, o mercado pode não estar aceitando o aumento dos preços na indústria, que tem tentado repassar a elevação do custo da matéria-prima. A sondagem revela que o alto custo da matéria-prima ganhou importância entre os principais problemas da indústria. Esse item já é o terceiro maior problema para o setor.
A pesquisa também aponta maior dificuldade de acesso ao crédito. É a primeira vez que o índice das grandes empresas verifica dificuldades de financiamento. O economista da CNI atribui o fato ao aperto da política monetária. “Pode estar havendo uma contração da liquidez”, afirmou.
A sondagem do segundo trimestre é a primeira após o início, em abril, do processo de alta dos juros. Mas ainda não capta os efeitos da decisão do Banco Central na semana passada, que aumentou a taxa básica (Selic) de juros em 0,75 ponto porcentual.
Segundo a CNI, a dificuldade de acesso ao crédito é outro sinal de um futuro arrefecimento do crescimento da indústria. O impacto do aumento dos juros deve ser maior no último trimestre do ano.
No segundo trimestre de 2008, a produção cresceu fortemente, mas a expansão do emprego e da utilização da capacidade instalada tem sido ainda mais intensa. Segundo o documento, o nível de utilização da capacidade instalada passou de 75%, no primeiro trimestre, para 77%, no segundo trimestre.
O uso do parque industrial cresceu principalmente entre as pequenas empresas, que demoram mais tempo para entrar no processo de recuperação da atividade industrial como resposta ao aumento da demanda.
EXPECTATIVAS
Apesar da preocupação com uma possível retração da economia, a Sondagem Industrial mostra que a indústria ainda está otimista com o mercado doméstico e pessimista com o comércio internacional. Pelo sexto trimestre consecutivo, os industriais esperam queda nas exportações nos próximos seis meses.
Fonseca disse que o real valorizado ante o dólar explica a piora das expectativas. Entre os setores que esperam queda nas exportações estão têxteis, vestuário, couros, calçados, madeira, móveis e veículos.
Veículo: O Estado de S. Paulo
Publicado em: 01/08/2008 - 07:57