O Banco Central e a Fazenda agiram bem ao aproveitar a piora da crise global para corrigir as distorções no nível do câmbio e dos juros brasileiros, sendo fundamental impedir uma reversão dessas conquistas quando a situação externa melhorar, ressaltaram ontem vários economistas reunidos na Fundação Getulio Vargas (FGV), no 5º Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB). Ao mesmo tempo, eles também enfatizaram que esse mix mais favorável enfrenta limites para impulsionar a economia, dada a fraca demanda externa e a baixa confiança dos empresários.
A professora Daniela Prates, do Instituto de Economia da Unicamp, destacou a importância do real mais desvalorizado, mas observou que a eficácia é menor num quadro de fragilidade global. Com isso, o espaço para uma alta expressiva das exportações fica comprometido. Daniela lembrou, contudo, que o câmbio mais depreciado tem um papel relevante para proteger o mercado interno de um aumento exagerado das importações. Para ela, é fundamental evitar a repetição do que se deu em 2009, quando o real se valorizou com força, depois de ter se depreciado bastante no período que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.
Ela ressaltou também a ação do Banco Central de trazer os juros brasileiros para níveis baixos, corrigindo uma grande distorção da economia brasileira. De agosto do ano passado para cá, a Selic caiu de 12,5% para 8% ao ano.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, por sua vez, vê a nova combinação de juros e câmbio como mais favorável do que a vigorou durante grande parte dos últimos anos, mas acha que real precisa sofrer uma desvalorização mais acentuada e os juros têm que cair ainda mais. Para ele, com um câmbio próximo a R$ 2,70, "o Brasil poderia crescer o dobro do que cresce hoje". Bresser disse, porém, que colocar o câmbio nesse nível é difícil. Uma das dificuldades é que isso exigiria um imposto sobre exportações de algumas commodities, algo de implementação complexa.
Professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Bresser também acha que há espaço para reduzir ainda mais a Selic, ainda alta para padrões internacionais. "Estou feliz com a mudança de política, porque temos agora um Banco Central Nacional. Antes, havia um BC estrangeiro no país, mas é preciso avançar mais."
Professor da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) e pesquisador do grupo de Desenvolvimento Econômico, Sistema Financeiro e Restrição Externa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabricio Missio apresentou um estudo em que mostrou evidências de que um câmbio moderadamente desvalorizado impulsiona o crescimento. Segundo ele, uma moeda depreciada ajuda a aumentar os lucros das empresas, o que eleva a sua capacidade de investir em pesquisa e desenvolvimento e de importar máquinas que permitam a incorporação de novas tecnologias.
O economista Pedro Rossi, da Unicamp, também elogiou o novo mix de câmbio e juros, mas alertou para a falta de confiança dos empresários como um obstáculo a uma retomada mais forte da economia, o que inibe investimentos.
Para ele, é preciso que o governo aumente o investimento público e incentive o privado. Rossi, que vê no mercado interno a chave para a retomada da economia, destacou ainda a importância do câmbio mais desvalorizado para proteger o país de uma importação exagerada. Se a moeda fica apreciada demais, parte expressiva da alta do consumo é atendida por bens importados, o que tira o espaço de crescimento da produção doméstica - algo que marcou a economia em 2011. (SL)
Veículo: Valor Econômico