Alimentos e atividade fraca devem manter inflação oficial mais contida no resto do ano

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Por Arícia Martins | De São Paulo


A alta de apenas 0,01% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, divulgada na sexta-feira pelo IBGE, foi provocada por fatores pontuais, mas também trouxe boas notícias que devem continuar ajudando a inflação nos próximos meses.

Segundo economistas, os preços mais comportados dos alimentos e os reflexos da fraqueza da atividade sobre alguns componentes do IPCA deixaram o balanço de riscos para o restante do ano um pouco mais favorável, a despeito de possíveis pressões adicionais que podem vir de reajustes de energia elétrica e da trajetória do câmbio.

O forte recuo do indicador oficial de inflação em relação ao aumento de 0,40% em julho foi influenciado principalmente pela saída de impactos relacionados à Copa do Mundo. Juntas, as deflações de 28,6% nas passagens aéreas e de 7,6% nas diárias de hotéis reduziram o IPCA do mês em 0,18 ponto percentual. Na medição anterior, esses dois itens haviam subido 21,9% e 25,3%, respectivamente, movimento que levou a inflação de serviços a deixar avanço de 1,1% em junho para queda de 0,05% em julho.

Embora uma descompressão dos serviços nessa magnitude não deva se repetir daqui para frente, Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, afirma que o desaquecimento mais significativo do mercado de trabalho deve trazer algum alívio para essa parte da inflação, que terá evolução mais benigna nos próximos meses e deve fechar 2014 com alta de 8,2%.

Nos 12 meses encerrados em julho, o conjunto que reúne preços como aluguel, cabeleireiro e empregada doméstica aumentou 8,47%, contra 9,2% até junho. Sem colocar na conta os itens passagens aéreas e hotel, a inflação anualizada de serviços também diminuiu nessa comparação, de 8,69% para 8,45%, calcula Adriana. "Ainda que a queda dos serviços em julho seja bem pontual, os preços desse setor já mostram algum arrefecimento, o que deve se intensificar ao longo do segundo semestre e no próximo ano, tendo em vista os sinais menos favoráveis do mercado de trabalho", diz a economista.

O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves de Melo, também avalia que o arrefecimento dos serviços no mês passado foi atípico, mas observa que já existem possíveis reflexos da demanda mais modesta sobre outro grupo do IPCA: na passagem de junho para julho, os artigos de vestuário saíram de alta de 0,49% para queda de 0,24%.

Normalmente, esses itens entram em deflação nesta época do ano devido às liquidações de fim de estação, mas, desta vez, a retração foi um pouco mais forte do que a sazonalidade do período, diz Melo. "Os preços de algodão estão caindo no mercado internacional, ao mesmo tempo em que a economia no Brasil está em desaceleração." Para o economista, os dados de emprego mais fracos podem contribuir para que o indicador oficial de inflação encerre o ano em 6,2%.

Após a divulgação do dado de julho, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otavio de Souza Leal, cortou a projeção para a alta do IPCA em 2014, de 6,3% para 6%. Em sua avaliação, o grupo alimentação e bebidas, que cedeu 0,15% no mês passado, será a principal influência para que o indicador fique mais próximo de 6% do que de 6,5% no fim do ano. Em terreno negativo há três meses, a continuidade da deflação dos preços agrícolas no atacado aponta que a variação dos alimentos no varejo seguirá em patamares bem baixos ao menos até setembro, prevê Leal.

Apesar do cenário mais tranquilo desenhado pelo IPCA de julho, três fatores são apontados como possíveis fontes de possíveis surpresas negativas para a inflação no segundo semestre: a correção das contas de luz, um possível reajuste da gasolina e a evolução do dólar. De janeiro a julho, a tarifa de energia elétrica residencial avançou 9,73% e, na estimativa da Tendências, deve chegar ao fim do ano com alta de 19,8%.

Cinco reajustes ainda estão previstos daqui até o fim do ano, lembra Adriana. Desses, o de maior efeito no IPCA é o da Light, que ocorre em novembro. Nessa lista, as cidades de Vitória e Belém têm peso menor sobre o indicador, mas como os índices de aumento a serem aprovados devem ficar entre 25% e 30%, também terão impacto relevante sobre a inflação, diz ela.

Para Melo, da Icatu, a inflação aquém do esperado de julho elevou a probabilidade de uma correção da gasolina ainda este ano. Em seus cálculos, um aumento de 8% nas refinarias chegaria às bombas com intensidade de cerca de 5%, adicionando 0,2 ponto ao IPCA do ano. Já Leal argumenta que a inflação mais baixa pode abrir espaço para uma depreciação maior da taxa de câmbio, que poderia flutuar em torno de R$ 2,30.

   

Veículo: Valor Econômico


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