Indústria tenta minimizar queda no consumo, mas margem continua ruim

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                                 Quadro de retração econômica dificulta repasse de preços e, apesar das vendas sazonais no segundo semestre, as fabricantes brasileiras de bens de consumo terão fracos resultados no ano



São Paulo - As estratégias das fabricantes de bens de consumo para driblar a economia desfavorável não serão suficientes para evitar perdas no segundo semestre. A melhora do cenário para o setor deve vir apenas na segunda metade de 2016."Algumas empresas do setor de bens de consumo ainda não apresentaram queda no desempenho, mas, de maneira geral, as companhias refletem um segundo trimestre ruim, como já era esperado considerando a conjuntura econômica", afirma o economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira.

Para ele, o desempenho das fabricantes tende a piorar nos próximos meses, apesar das tentativas de mitigar os efeitos da queda no consumo com a redução dos custos e mudança no mix de produto."Tirando o efeito da sazonalidade no segundo semestre, o desempenho será ruim, impactado pela inflação", diz.

O cenário para as empresas, na avaliação de Silveira, deve melhorar de forma substancial apenas no segundo semestre de 2016. "Para os próximos meses uma tendência favorável continua sendo de desvalorização do real, o que ajuda na competição frente ao mercado externo, mas que por outro lado impacta negativamente o custo de alguns setores com matéria-prima importada".

A M. Dias Branco, fabricante de alimentos dona das marcas Adria e Basilar, tem praticado descontos de 2% a 3% para alguns clientes do varejo para tentar compensar a desaceleração no consumo."Temos trabalhado no mix de produtos e efeito promocional para tentar promover um giro maior nos pontos de venda, considerando a atual situação macroeconômica", disse o diretor de relações com investidores da M. Dias Branco, Geraldo Luciano Mattos.

Com a estratégia, a receita líquida de abril a junho avançou 0,3% sobre um ano antes, para R$ 1,12 milhão. Nos seis primeiros meses, entretanto, a receita líquida da companhia caiu 2%, impactada pela retração de 3% nos volumes.

Já a BRF conseguiu ampliar a receita com produtos processados no País em 15,2%, somando R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre. Apesar do crescimento no período, a companhia vê um cenário desafiador devido a desaceleração do consumo e alta dos juros, inflação e desemprego."Conseguimos perceber em algumas categorias uma desaceleração, isso de certa forma denota um acirramento da concorrência [no setor]", ressaltou o presidente da BRF, Pedro Faria, em teleconferência com analistas recentemente.

A Unilever também tem tido dificuldade no mercado brasileiro, do ponto de vista macroeconômico e de infraestrutura. Segundo a fabricante a falta de água, principalmente na Região Sudeste, impactou as vendas produtos para lavar roupa, cabelos e sabonetes.A concorrente Procter&Gamble (P&G) foi outra que notou recuo nas vendas de linhas de cuidados para família na América Latina, no segundo trimestre de 2015.

Rentabilidade

Na avaliação do analista da Lecca Investimentos Luís Eduardo da Costa Carvalho as fabricantes de bens de primeira necessidade, tradicionalmente, sofrem menor impacto da desaceleração do consumo. Mas ele pondera que as estratégias adotadas até agora para contornar a queda nas vendas podem não funcionar para os próximos meses.

"Num primeiro momento, é normal a empresa trabalhar com uma margem menor para não perder volume de venda. Mas com a alta constante dos custos de produção será preciso repassar. No final, a fabricante perde margem e volume, piorando o desempenho", explica o analista da Lecca.

A Hypermarcas - farmacêutico e de higiene e beleza - tem apostado cada vez mais na precificação dos produtos como estratégia para ganhar espaço frente a concorrência, mas já sinaliza a preocupação com a rentabilidade."A volatilidade no cenário macroeconômico nos pegou de surpresa. E para nós o que afeta mais [os preços] no curto prazo é o efeito câmbio. Como o real desvalorizou rápido, temos que ir repassando os aumentos de custo e isso leva um tempo, cerca de um ano", revelou o presidente da companhia, Claudio Bergamo, em conferência recente com analistas. "Se o câmbio pular de novo, vamos ter que correr atrás", acrescentou ele.

A Natura, que também sofre impacto da variação cambial nos custos, deve reajustar novamente os preços nos próximos meses. Até junho a companhia aplicou dois reajustes, em linha com a inflação.
"Podemos fazer alguma coisa [aumento] em um ou outro produto para reposicionar, nós vamos ser extremamente cirúrgicos nisto, mas não dá para adiantar o que nós faremos já para este segundo semestre", comentou o diretor presidente da Natura, Roberto Lima, em conferência com analistas.

No caso da Ambev foi o reajuste de preços que puxou a alta de 3,8% na receita líquida interna da empresa no segundo trimestre ante um ano antes. O volume, entretanto, recuou 7,9% no período."A receita líquida por hectolitro cresceu impulsionada por nossas iniciativas de gestão da receita, um forte benefício de mix premium em todas as nossas operações e pelo maior peso da distribuição direta no Brasil", detalhou a fabricante no último balanço divulgado.



Veículo: Jornal DCI


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