Para especialistas, comportamento do governo reflete hábitos brasileiros

Leia em 3min 20s

Pesquisa do Itaú Unibanco mostra que a população do País prefere o consumo à poupança, não conhece a diferença entre endividamento e inadimplência e vê investimento como ação de risco.

Altos índices de endividamento, imediatismo nos gastos, em geral, e preferência pelo consumo à poupança: características que acompanharam consecutivos governos brasileiros teriam suas raízes em comportamentos da própria população do País.

O estudo Escolhas e Dinheiro, apresentado ontem pelo Itaú Unibanco, mostra vários traços do relacionamento entre o brasileiro e o dinheiro. O trabalho ressalta especialmente a importância do consumo no País, tanto para o governo quanto para a população.

Caio Megale, economista do Itaú, afirma que as atitudes do governo são um reflexo dos hábitos dos brasileiros. "E para as pessoas, o ideal é consumir, comprar alguma coisa palpável e deixar lá na sua casa", completa.

Adriano Gomes, professor da ESPM, inverte a ordem: "o comportamento do governo pode ser refletido pela sociedade no cotidiano".

Entretanto, o especialista pondera que "o governo tem maior consciência do que faz, tem a chave do cofre e tem condições objetivas para tomar atitudes".

Outra característica mostrada pelo estudo da instituição financeira é a preferência do brasileiro pelo consumo imediato em detrimento da poupança. Enquanto que a ideia de consumir rapidamente foi atrelada pelos entrevistados à de economizar, a ação de poupar é considerada arriscada. O confisco da poupança durante o governo Collor seria o grande causador dessa relação.

Megale acredita que "a renda per capta do brasileiro ainda é baixa e dá pouco espaço para que ele poupe e tenha uma vida confortável". O especialista lembra que o comportamento também é visto no governo e completa: "é um círculo vicioso, países que poupam pouco acabam crescendo pouco também".

Para Gomes, "a preferência pelo consumo traz aparência de riqueza, é imediata, ainda que não haja produção efetiva de riqueza". O professor afirma também que "uma riqueza real está ligada a uma ampliação dos investimentos" e que o governo brasileiro precisaria ampliar em 10% a atual de investimento taxa para chegar a condição sustentável de desenvolvimento".

De acordo com o estudo do Itaú Unibanco, o investimento também é associado a uma operação arriscada pela população, na maioria das vezes sendo ligado à compra de ações na bolsa de valores. "A ideia de multiplicar a reserva pela rentabilidade praticamente não faz parte do entendimento ou da prática", afirmam os pesquisadores responsáveis.

Ainda segundo a pesquisa, "poucos percebem como o dinheiro e os juros podem trabalhar a seu favor". De acordo com levantamento da Fecomércio RJ, 85,8% brasileiros que poupam preferiam usar a caderneta de poupança em 2014. Outros 10,4% guardam dinheiro na própria casa e apenas 2,5% aplicam em fundos.

Contas a pagar

O total das dívidas em relação à renda das famílias brasileiras chegou a 46% em julho de 2015, segundo dados do Banco Central (BC). E o alto endividamento é colocado pelos especialistas como mais um traço compartilhado por governantes e governados do País.

"É quase que um traço cultural ter endividamento", afirma Gomes. O professor lembra, porém, que ter dívidas "não é algo ruim, não é um indicador que permita dizer se há boa ou mal gerência. Mas a qualidade dos gastos poderão indicar se haverá ou não geração de renda para saudar esses compromissos". Para ele, "o brasileiro [governo e população] se endivida muito para o curto prazo, o que pode não gerar renda para quitar essas mesmas dívidas depois".

O estudo mostra que os brasileiros atrelam a ideia de estar endividado com o estado de inadimplência. Entretanto, nem sempre a aquisição de crédito é vista como obtenção de uma dívida.

Megale corrobora que "as pessoas não enxergam o crédito como uma dívida" e explica: "quando alguém toma um crédito e o paga, esse alguém não fala como se tivesse pago uma dívida. Mas quando essa pessoa toma um crédito e depois não faz o pagamento, fala-se em dívida".

 



Veículo: Jornal DCI


Veja também

Porto Alegre tem a maior inflação semanal entre as capitais, diz FGV

                    ...

Veja mais
Preços ao consumidor sobem e podem apoiar alta dos juros

Os preços aos consumidores nos Estados Unidos subiram em outubro, após dois meses seguidos de queda, com a...

Veja mais
Crise traz oportunidades, diz economista Ricardo Amorim, no Encontro de Valor ABAD

Diante de um cenário de desvalorização de ativos e baixa confiança nas áreas pol&iacu...

Veja mais
Com alta menor no atacado, IGP-10 sobe 1,64% em novembro

                    ...

Veja mais
Balança comercial tem superávit de US$ 1,010 bilhão na 2ª semana de novembro

                    ...

Veja mais
Pela primeira vez, mercado prevê inflação acima de 10% neste ano

A mediana das projeções para o IPCA do ano que vem chegou ao teto da meta no Relatório de Mercado F...

Veja mais
Vendas no varejo caem 15,15% na 1ª quinzena de novembro, diz ACSP

As vendas no varejo da capital paulista registraram baixa de 15,15% na primeira quinzena de novembro, na comparaç...

Veja mais
Brasileiro deve gastar 5,5% menos no Natal este ano, diz Boa Vista

O consumidor deverá reduzir gastos com presentes de Natal, revela Boa Vista SCPC. Uma pesquisa nacional realizada...

Veja mais
IPCA de 2016 pode chegar a 6,50%

          Veículo: A Tribuna - Santos/SP...

Veja mais