Ex-ministro e economistas defendem taxa Selic real de 2% ao ano já em 2017

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Para entrevistados, juro elevado atrapalha retomada econômica, aumenta dívida do setor público e prejudica setores produtivo no País; entretanto, há projeções de que não haverá cortes até 2017

 


São Paulo - O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira e economistas entrevistados pelo DCI defenderam que a Selic seja reduzida já nos próximos meses. Para eles, a taxa de juros real, hoje próxima dos 7% ao ano, deveria cair para 2% ao ano em 2017.
 
"Temos países no hemisfério norte com taxas reais zeradas ou no negativo. Para a nossa realidade, 2% ao ano seria mais que o suficiente", afirmou Bresser-Pereira.
 
Segundo o ex-ministro, a Selic elevada atrai capital estrangeiro, causando uma apreciação cambial que acaba por controlar a inflação. "É um sistema perverso, porque permite uma política fiscal frouxa" avaliou.
 
Ele disse ainda que o interesse de rentistas impede que a taxa de juros seja reduzida. "Enquanto algumas pessoas ganham muito dinheiro com isso, o povo brasileiro e a indústria são prejudicados."
 
Professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Nelson Marconi seguiu a mesma linha. Para ele, uma taxa de juros nominal de 9% ao ano seria "razoável para uma economia com problemas fiscais como a brasileira".
 
O especialista afirmou que a Selic tem efeito apenas parcial para controlar o avanço dos preços. Ele disse também que é muito alto o custo do combate à inflação com o uso da taxa de juros. "Isso porque há grande indexação com outras variáveis econômicas [como a dívida pública]", explicou.
 
Marconi destacou o impacto negativo para a indústria. De acordo com o entrevistado, o setor seria a principal vítima da valorização cambial decorrente da Selic elevada.
 
Já José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendeu que a taxa de juros atual poderia levar a economia brasileira a um "ponto de ruptura". "As empresas estão endividadas e sem caixa para pagar encargos financeiros. Em algum momento, pode haver uma onda de falências, que prejudicaria o próprio sistema financeiro", indicou.
 
Com a Selic alta, os juros de outras operações também são ampliados. Segundo nota divulgada ontem pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), os juros no cartão de crédito já superam 451% ao ano.
 
Para Oreiro, o Banco Central (BC) deveria atrasar o objetivo de reduzir a inflação ao centro da meta no ano que vem. "Esse alvo poderia ficar para 2018, com início imediato da redução na Selic", afirmou.
 
O economista também disse "não haver dúvida" de que a taxa de juros precisa ser reduzida. "Temos uma recessão que deve chegar a 7% em dois anos, com uma taxa de juros real de quase 7%. Não há nenhuma justificativa para isso", avaliou o especialista.
 
Nova tentativa
 
Entre 2011 e 2012, o BC promoveu seguidos cortes na Selic, que chegou a alcançar 7,25% ao ano. Para muitos economistas, esse teria sido um dos motivos para o avanço dos preços e o início da recessão.
 
Entretanto, Edgard Pereira, professor de economia da Unicamp, afirmou que outros pontos, como a falta de concorrência e a alta indexação, estão por trás dos problemas econômicos. O especialista defendeu, ainda, a redução da Selic, para estimular a atividade econômica e impedir um maior avanço do endividamento público.
 
Mas as estimativas de analistas financeiros indicam que a taxa de juros deve seguir alta neste ano. De acordo com o último relatório Focus, a Selic encerrará 2016 em 13,75% ao ano. Para 2017, a expectativa está em 11% ao ano.
 
Se as previsões se concretizarem, a taxa real cresceria ainda mais. De acordo com os analistas, a inflação oficial deve terminar 2016 em 7,36% e 2017 em 5,12%.
 
Os entrevistados participaram, ontem, do 13º Fórum de Economia da FGV.
 
Fonte: DCI


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