Quanto mais ricos, menos trabalho e mais rendimentos

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Grupo pequeno é dono de metade da renda total do país


BRASÍLIA. Quanto mais se avança rumo ao topo da pirâmide social no Brasil, o trabalho perde importância na renda, abrindo espaço para o capital. Enquanto no estrato dos 5% aos 10% mais ricos, 91% dos ganhos vêm da labuta propriamente dita, por meio de salários, aposentadorias e outras receitas do gênero, essa fonte não chega à metade do que fatura o 1% mais abastado.

Nesse grupo, 46% da renda vêm do trabalho; 26%, de receitas mistas (como lucros e dividendos); e 15% estão estritamente vinculados à remuneração do capital (aplicações financeiras e renda variável). Esta categoria representa só 1% nos ganhos dos 5% aos 10% mais ricos do país, que têm 4% do seu rendimento de fontes mistas, além de 91% relacionados ao trabalho. O resto fica pulverizado em itens de menor relevância.

Os números são parte do estudo inédito “A composição da renda no topo da distribuição”, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com a Universidade de Brasília (UnB). A pesquisa mapeou, pela primeira vez no país, o peso de cada fonte nos ganhos dos 10% mais ricos, a partir dos dados da Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física de 2006 a 2012.

Embora numericamente pequeno, esse grupo é dono de metade da renda total do país, determinando, portanto, muito da desigualdade brasileira. Conhecer a origem de suas receitas se torna fundamental para construir políticas estruturais de redução das disparidades, controle inflacionário e adequação tributária, aponta o economista Marcelo Medeiros, um do autores do trabalho, pesquisador do Ipea e professor da UnB.

Medeiros ressalta não ser exagero dizer que “quase toda a renda de capital do Brasil é ganha pelo 1% mais rico”. Essa incrível concentração – que já era prevista, mas agora está calculada com base em dados oficiais – tem efeitos nefastos para os setores produtivos no país, segundo o pesquisador. “O capital concentrado dificulta o comportamento produtivo e facilita o comportamento predatório, o que é muito ruim para quem quer produzir, sobretudo no caso das pequenas e médias empresas”, diz.

De acordo com o estudo, a cada ano que passa, a remuneração do capital tem mais peso na renda do topo da pirâmide. Entre os 10% mais ricos, a participação de salários e fontes semelhantes caiu de 70%, em 2006, para 64% do total em 2012. Já a proporção das receitas vindas só do capital dobrou, de 5% para 10%.

Tendência mundial
Medir por imposto é mais justo
BRASÍLIA. O trabalho do Ipea segue uma tendência global de usar dados tributários para medir melhor a desigualdade de renda e riqueza. O modelo foi popularizado pelos estudos do economista francês Thomas Piketty, autor de “O capital no século XXI”, que traz informações inéditas de 20 países para os últimos 200 anos.

O uso de informações tributárias tornou-se importante para que as pesquisas captassem melhor o que ocorre entre os mais ricos – um grupo dificilmente incluído nos levantamentos domiciliares usuais, feitos por meio de entrevistas.
Os resultados acabaram colocando o próprio sistema tributário no centro da discussão, afirma o economista Flavio Comim, pós-doutor pelas universidades de Cambridge e Harvard e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Começamos a entender que existem formas de renda, na base que não é assalariada, que escapam ao rigor tributário. Ou seja, é o Estado ajudando a ampliar o fosso social quando taxa menos o tipo de renda associado aos mais ricos”.

Marcelo Medeiros também não tem dúvidas sobre o papel do sistema tributário na engrenagem da desigualdade. “Se tributarmos o capital, só 1% das pessoas seriam afetadas, já que elas praticamente detém todo o ganho desse tipo no país. Mas a política tributária não leva em conta que é mais eficiente tributar mais na renda e menos na produção”.
No Brasil, a desigualdade é medida pela Pnad, do IBGE. A pesquisa pergunta, para quem estiver na casa, quanto é a renda familiar. Nem quem atende o entrevistador conhece, de fato, os valores. É comum também que ganhos como aluguéis não sejam lembrados.

Fonte: Jornal O Tempo


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