Recessão derruba preços e inflação caminha para ficar dentro da meta

Leia em 4min 10s


Consumo e investimento seguem fracos e puxam custos para baixo novamente; expectativas são de que a trajetória de queda intensifique os cortes na taxa básica de juros já na reunião de janeiro

 

 

São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) desacelerou para 0,19% em dezembro, o menor resultado para o mês desde 1998. Os efeitos da crise econômica devem puxar a inflação para baixo do teto da meta, neste ano, e para cerca de 4,5%, em 2017. Divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15, uma prévia do índice de preços do mês, mostrou deflação nos grupos artigos de residência (-0,52%), habitação (-0,28%) e alimentação e bebidas (-0,18%).

 

"Como falta credibilidade na economia, as pessoas têm evitado consumir, o que favorece a queda dos preços", justificou Paulo Dutra, coordenador do curso de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). O entrevistado também destacou o desempenho ruim do investimento no País. "A Formação Bruta de Capital Fixo, que poderia trazer algum estímulo para os preços, segue negativa", acrescentou o especialista. Com isso, seguiu Dutra, a inflação oficial deve ficar abaixo do teto da meta do governo (6,5%) no acumulado deste ano, e chegar ao centro da meta (4,5%) nos 12 meses do ano que vem.

 

Segundo nota divulgada ontem pelo Itaú Unibanco, o IPCA de dezembro ficará em 0,30%. A projeção anterior do banco era de 0,5%. No novo cenário, a inflação avançará 6,29% neste ano. Em outra análise apresentada ontem, o Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) também apostou no recuo dos preços. Já levando em conta o último IPCA-15, o estudo apontou que a intensificação da trajetória de queda da inflação deve levar o índice ao centro da meta em 2017.

 

"[No ano que vem] teremos ainda uma economia crescendo lentamente, com um mercado de trabalho pouco dinâmico. As pessoas continuarão com um poder aquisitivo reduzido, o que, novamente, puxará a inflação para baixo, sobretudo dos bens e serviços livres", avaliou Maria Andréa Parente Lameiras, autora da análise. Entretanto, foi feita a ponderação de que existem riscos "baixos" para a consolidação desse quadro. Entre eles, está o futuro da economia dos Estados Unidos com a presidência de Donald Trump.

 

"Pode ocorrer alguma desvalorização cambial decorrente de medidas adotadas pelo novo governo norte-americano, com impacto nos preços comercializáveis. Além disso, o recente acordo entre os produtores de petróleo pode gerar uma alta nos preços domésticos dos combustíveis, cuja regra de reajuste passou a refletir as cotações internacionais." Outro fator que poderia colocar em cheque o recuo da inflação é o clima. Nos últimos anos, a ausência de chuvas fez os preços de alimentos e energia avançarem. Este cenário, porém, não deve se repetir nos próximos meses, prevê Dutra. "Tudo indica que o Brasil terá condições climáticas melhores no próximo ano", comentou ele. "A seca não deve ser um problema. Parece que São Pedro decidiu nos ajudar."

 


Redução dos juros

De acordo com especialistas entrevistados pelo DCI, um dos principais efeitos do arrefecimento dos preços deve ser uma redução maior da taxa Selic pelo Comitê de Politica Econômica (Copom). Hoje, os juros estão em 13,75% ao ano.

"O resultado de ontem foi mais uma surpresa positiva para a inflação e deve fortalecer a trajetória de queda da Selic", analisou Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos. Ela afirmou que a desaceleração do IPCA-15 consolida a expectativa de um corte de 0,5 ponto percentual em janeiro, quando ocorre a próxima reunião do comitê. "Uma baixa de 0,75 ponto percentual é possível, mas não deve ocorrer." Dutra concordou com a projeção e indicou que uma queda elevada da Selic não deve afetar a trajetória dos preços, por considerar maiores os efeitos da recessão econômica sobre a inflação.

 

 


Em queda

O IPCA-15 deste mês mostrou recuos na comparação com o resultado de novembro deste ano (0,26%) e de dezembro do ano passado (1,18%). Com os últimos dados, o índice fechou 2016 em 6,58%. A queda do grupo alimentação e bebidas, que teve o maior impacto para a desaceleração do IPCA-15, foi puxada por diminuições nos preços do feijão-carioca (-17,24%), da batata-inglesa (-15,78%), do tomate (-10,58%) e do leite longa vida (-5,40%). Também favoreceu o arrefecimento dos preços a baixa de 1,93% no item energia elétrica, que pertence ao grupo habitação. Segundo o IBGE, o recuo se deve à mudança na bandeira tarifária, de amarela para verde, no dia 1º deste mês. Já no grupo artigos de residência a queda foi influenciada pelos itens TV, som e informática, que recuou 2,41%, e eletrodomésticos, que diminuiu 1,08%.

 

 

 


Fonte: DCI - São Paulo

 

 


Veja também

Trigo supera expectativa de produtividade no Rio Grande do Sul

Com uma amostra de 255 municípios que cultivam trigo no Rio Grande do Sul, que cobrem em torno de 86% da á...

Veja mais
Ceia em restaurantes atrai clientes no Natal

O hábito de reunir a família em restaurantes do Grande ABC na noite de Natal ganha, a cada ano, mais adept...

Veja mais
Supermercados estão otimistas para 2017

  76% dos estabelecimentos acreditam que o ano que vem será melhor que 2016   Pesquisa realizada pel...

Veja mais
Consumidores devem gastar em média R$ 168 na festa de Natal

  7 em cada 10 entrevistados (75,4%) pretendem dividir as despesas; mais da metade (53,4%) ainda não sabe q...

Veja mais
Prévia da inflação oficial é a menor para dezembro desde 1998, diz IBGE

A prévia do IPCA-15 fechou o ano em 6,58%.   O Índice de Preços ao Consumidor - Amplo 15 (IP...

Veja mais
Preços nas lojas virtuais recuam 0,81%

- O Índice Fipe Buscapé, que mede a variação de preços no comércio eletrô...

Veja mais
Movimento do comércio já caiu 5,4%

São Paulo - O Movimento do Comércio no acumulado nos últimos 12 meses (desde dezembro de 2015 at&ea...

Veja mais
Importações chinesas caem 48%

A China importou 140 mil toneladas de açúcar em novembro, queda de 48% em relação ao mesmo p...

Veja mais
Confiança do consumidor mostra alta de 1,8 ponto em Campinas

  Campinas - O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de Campinas apresentou uma leve alta de 1,8 p...

Veja mais