Consumo e investimento seguem fracos e puxam custos para baixo novamente; expectativas são de que a trajetória de queda intensifique os cortes na taxa básica de juros já na reunião de janeiro
São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) desacelerou para 0,19% em dezembro, o menor resultado para o mês desde 1998. Os efeitos da crise econômica devem puxar a inflação para baixo do teto da meta, neste ano, e para cerca de 4,5%, em 2017. Divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15, uma prévia do índice de preços do mês, mostrou deflação nos grupos artigos de residência (-0,52%), habitação (-0,28%) e alimentação e bebidas (-0,18%).
"Como falta credibilidade na economia, as pessoas têm evitado consumir, o que favorece a queda dos preços", justificou Paulo Dutra, coordenador do curso de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). O entrevistado também destacou o desempenho ruim do investimento no País. "A Formação Bruta de Capital Fixo, que poderia trazer algum estímulo para os preços, segue negativa", acrescentou o especialista. Com isso, seguiu Dutra, a inflação oficial deve ficar abaixo do teto da meta do governo (6,5%) no acumulado deste ano, e chegar ao centro da meta (4,5%) nos 12 meses do ano que vem.
Segundo nota divulgada ontem pelo Itaú Unibanco, o IPCA de dezembro ficará em 0,30%. A projeção anterior do banco era de 0,5%. No novo cenário, a inflação avançará 6,29% neste ano. Em outra análise apresentada ontem, o Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) também apostou no recuo dos preços. Já levando em conta o último IPCA-15, o estudo apontou que a intensificação da trajetória de queda da inflação deve levar o índice ao centro da meta em 2017.
"[No ano que vem] teremos ainda uma economia crescendo lentamente, com um mercado de trabalho pouco dinâmico. As pessoas continuarão com um poder aquisitivo reduzido, o que, novamente, puxará a inflação para baixo, sobretudo dos bens e serviços livres", avaliou Maria Andréa Parente Lameiras, autora da análise. Entretanto, foi feita a ponderação de que existem riscos "baixos" para a consolidação desse quadro. Entre eles, está o futuro da economia dos Estados Unidos com a presidência de Donald Trump.
"Pode ocorrer alguma desvalorização cambial decorrente de medidas adotadas pelo novo governo norte-americano, com impacto nos preços comercializáveis. Além disso, o recente acordo entre os produtores de petróleo pode gerar uma alta nos preços domésticos dos combustíveis, cuja regra de reajuste passou a refletir as cotações internacionais." Outro fator que poderia colocar em cheque o recuo da inflação é o clima. Nos últimos anos, a ausência de chuvas fez os preços de alimentos e energia avançarem. Este cenário, porém, não deve se repetir nos próximos meses, prevê Dutra. "Tudo indica que o Brasil terá condições climáticas melhores no próximo ano", comentou ele. "A seca não deve ser um problema. Parece que São Pedro decidiu nos ajudar."
Redução dos juros
De acordo com especialistas entrevistados pelo DCI, um dos principais efeitos do arrefecimento dos preços deve ser uma redução maior da taxa Selic pelo Comitê de Politica Econômica (Copom). Hoje, os juros estão em 13,75% ao ano.
"O resultado de ontem foi mais uma surpresa positiva para a inflação e deve fortalecer a trajetória de queda da Selic", analisou Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos. Ela afirmou que a desaceleração do IPCA-15 consolida a expectativa de um corte de 0,5 ponto percentual em janeiro, quando ocorre a próxima reunião do comitê. "Uma baixa de 0,75 ponto percentual é possível, mas não deve ocorrer." Dutra concordou com a projeção e indicou que uma queda elevada da Selic não deve afetar a trajetória dos preços, por considerar maiores os efeitos da recessão econômica sobre a inflação.
Em queda
O IPCA-15 deste mês mostrou recuos na comparação com o resultado de novembro deste ano (0,26%) e de dezembro do ano passado (1,18%). Com os últimos dados, o índice fechou 2016 em 6,58%. A queda do grupo alimentação e bebidas, que teve o maior impacto para a desaceleração do IPCA-15, foi puxada por diminuições nos preços do feijão-carioca (-17,24%), da batata-inglesa (-15,78%), do tomate (-10,58%) e do leite longa vida (-5,40%). Também favoreceu o arrefecimento dos preços a baixa de 1,93% no item energia elétrica, que pertence ao grupo habitação. Segundo o IBGE, o recuo se deve à mudança na bandeira tarifária, de amarela para verde, no dia 1º deste mês. Já no grupo artigos de residência a queda foi influenciada pelos itens TV, som e informática, que recuou 2,41%, e eletrodomésticos, que diminuiu 1,08%.
Fonte: DCI - São Paulo