Apesar de 90% dos clientes garantirem que pagariam mais por produtos de maior valor agregado, 54% dos entrevistados pela Nielsen dizem que só podem gastar mais com aquisição de alimentos
São Paulo - Frente a uma economia reticente, o brasileiro tem considerado mais sua condição financeira como um empecilho para consumir produtos premium. De acordo com pesquisa global realizada pela Nielsen, nove a cada dez brasileiros se sentem dispostos a pagar mais em um item de alta qualidade, contudo, 54% afirmaram que só têm condições de gastar mais com alimentos.
"90% das pessoas estão mais dispostas a comprar, mas isso não significa um público maior. Ainda são poucos que conseguem ter o acesso", afirma o coordenador da área de Retail Services da Nielsen, Jonathas Rosa.
De acordo com ele, o cenário ainda é muito mais aspiracional que de conversão em vendas. "O consumidor está inclinado a comprar, mas precisamos de condições econômicas e financeiras para isso, porque sem isso ele não vai conseguir."
"Antes a principal preocupação do consumidor era saúde e bem-estar e a macroeconomia era o terceiro. Hoje a economia está em primeiro lugar, seguido por preço do produto, emprego e saúde", diz.
Segundo Rosa, hoje os níveis de consumo chegaram a patamares de cinco ou seis anos atrás. "Precisamos recuperar o básico [condições econômicas]". Hoje, 86% das categorias do varejo, estão estáveis ou em declínio.
Frente a esse cenário desafiador, as marcas de produtos premmium não devem sentir grandes mudanças de consumo. "Ainda não devemos grandes transformações no mercado, mas as marcas vão continuar investindo nos produtos", de acordo com ele, o investimento vale a pena porque muitos consumidores deixaram em grande volume, mas passaram a consumir melhor. "Por exemplo, quem deixou de ir a bar, mas vai ao supermercado e compra uma cerveja mais diferenciada", conta.
Sobre os 90% dos consumidores estarem dispostos a pagar mais por um produto premmium, Rosa lembra da ascensão recente da Classe C, que tinha passado a consumir produtos mais caros , mas parou momentaneamente em função da recessão.
"Quando ele [o consumidor da classe C] voltar a consumir, isso deverá ser de forma mais consciente, porque com a recessão na economia o brasileiro aprendeu a planejar melhor o orçamento e ficar menos endividado", esclarece.
Luxo
Se por um lado os produtos premium foram mais atingidos pela crise, no mercado de luxo esse reflexo não foi sentido, segundo o consultor em gestão da Inside Business Design, Marcelo Scharra. "As pessoas que gastam R$ 20 mil ou R$ 30 mil em uma roupa está menos sujeito ao impacto da crise, até porque muitas vezes seu ganho está atrelado ao luxo e menos a questões produtivas."
Questionado sobre a retomada das viagens internacionais - que pode levar o consumidor das classes AB a fazerem compras no exterior, ele comenta que o impacto não deve ser muito relevante. "Hoje o luxo está cada vez mais personalizado e algumas coisas devem ser compradas no País, por exemplo, um banco de couro diferenciado no carro ou um vestido sob medida", disse.
Daqui para frente, a tendência é que as marcas comecem a criar estratégias de personalização em grande escala, de olho nesse público que busca produtos exclusivos. "Já vemos marcas com couros de cores personalizadas ou bolsas com as iniciais do cliente e essa é a tendência e o desafio das empresas de agora em diante." Para conseguir realizar esse tipo de personalização, o executivo comenta que as marcas devem começar a investir em programas de satisfação e sucesso do cliente. "Conseguir que um cliente realize uma recompra é mais barato que atrair um cliente novo", cita.
Para isso, o uso de big data e inteligência artificial será uma grande tendência entre os investimentos. "Além de mapear o comportamento do consumidor com o produto, a Internet das Coisas também ajuda mapear o que acontece com o produto", conta, dando como exemplo um carro de luxo. "Se consigo medir o consumo de combustível e a velocidade média posso alertar ele sobre quando é necessário trocar o óleo ou fazer uma revisão, antes que o carro dê um problema e deixe o cliente insatisfeito. Muitas concessionárias já fazem isso", exemplifica.
Uma outra forma de usar a tecnologia à favor da marca é a localização do cliente. "Posso verificar os lugares que os clientes que compram o produto mais frequentam e enviar mensagem push para outras pessoas falando da marca", diz, ressaltando que o desafio é usar as informações para anteceder e resolver os problemas individuais em grande escala
Vivian Ito
Fonte: DCI - São Paulo