São Paulo - As importações brasileiras subiram 9,42% entre janeiro e maio, na comparação com igual período de 2016, mas as compras de bens de capital no exterior não acompanharam essa trajetória. Pelo contrário, essas aquisições caíram 18,58% neste ano.
Mesmo a valorização do real em relação aos primeiros meses de 2016, quando a taxa de câmbio chegou a superar os R$ 4, foi insuficiente para aquecer a demanda por máquinas e equipamentos no Brasil. De acordo com especialistas consultados pelo DCI, esse é um mau sinal para a retomada econômica.
Coordenador do curso de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Paulo Dutra afirma que o endividamento das empresas, a alta capacidade ociosa e a instabilidade política impedem um avanço desse segmento no País.
"Não há perspectiva para um aumento da produção industrial no curto prazo", afirma ele. "Só devemos ver uma expansão das fábricas daqui a dois ou três anos, caso o próximo presidente do País faça um bom trabalho."
Em um primeiro momento, segue o entrevistado, a recuperação econômica dependerá de bons resultados de outros setores, como o agronegócio e do uso da capacidade ociosa atual.
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano se encaixam nesse cenário. O avanço de 1% da atividade econômica, na comparação com os três últimos meses do ano passado, foi garantido pela supersafra agrícola, mas não teve relação com os investimentos, já que a formação bruta de capital fixo (FBCF) teve queda de 1,6% no período.
Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), as importações de bens de capital totalizaram US$ 6,011 bilhões entre janeiro e maio, um recuo superior a US$ 1 bilhão no confronto com os cinco primeiros meses de 2016, quando foram gastos US$ 7,382 bilhões.
E não é só no exterior que a busca por bens de capital recua neste ano. Entre janeiro e abril, houve diminuição de 21,9% no consumo aparente (inclui importações e aquisições internas) de máquinas e equipamentos, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
A entidade esperava um aumento de 5% no consumo nacional de bens de capital neste ano. Mas, com a piora do cenário político, as projeções mudaram. "Na melhor das hipóteses, teremos estabilidade na comparação com 2016", diz Maria Cristina Zanella, gerente do departamento de competitividade da Abimaq.
Para que o setor volte a crescer, indica ela, é necessária uma "retomada considerável" do consumo, que possa extinguir a capacidade ociosa atual.
Ajuda do câmbio
Situação diferente é vista pelas outras categorias de importações, que avançaram entre janeiro e maio deste ano. O principal aumento foi registrado para combustíveis e lubrificantes. Com uma alta de 25,1%, os gastos no segmento chegaram a US$ 6,581 bilhões.
Subiram, também, as compras de bens intermediários (14,1%, para US$ 37,092 bilhões) e de bens de consumo (5,8%, para US$ 9,141 bilhões) no mesmo período.
Na visão dos especialistas, o principal motivo para esses aumentos é a valorização do real na comparação com o ano passado. Além disso, um leve avanço do consumo das famílias pode estar favorecendo essas importações.
"O rendimento do brasileiro se manteve estável e é ajudado pelo câmbio. Mas essa alta [das importações] não parece sustentável, já que seguimos com outras limitações, como o alto endividamento [das famílias]", avalia Dutra.
Entre os produtos, lideraram as importações, entre janeiro e maio, os aparelhos transmissores ou receptores (US$ 2,824 bilhões), medicamentos para medicina humana e veterinária (US$ 2,568 bilhões) e partes e peças para veículos automóveis (US$ 2,075 bilhões).
Somadas todas as categorias, as aquisições no exterior chegaram a US$ 58,092 bilhões até o mês passado.
Dados de junho
Os números preliminares deste mês, divulgados ontem pelo Mdic, mostram uma manutenção da trajetória atual das importações. Nas duas primeiras semanas de junho, houve alta de 3,1% nas compras, no confronto com igual período de 2016. Destaque para os avanços de bebidas e álcool (178,1%), combustíveis e lubrificantes (66,9%) e adubos e fertilizantes (50,1%). Por outro lado, foi registrada queda nas aquisições de equipamentos mecânicos (-50,7%).
Como houve aumento maior das exportações no período, de 20,4%, a balança comercial avançou mais, alcançando um saldo positivo de US$ 31,248 bilhões. Até a segunda semana de junho do ano passado o superávit era de US$ 21,057 bilhões.
Fonte: DCI São Paulo