O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), que mede a inflação para famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos, registrou aumento de 2,4% nos 12 meses encerrados em julho.
Divulgado na última sexta feira pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV), o IPC-C1 recuou no confronto com a medição de junho, quando o índice subiu 2,43%. Entretanto, a inflação da baixa renda deve voltar a crescer nos próximos meses, puxada pelo aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis.
"Se o governo tivesse alterado apenas a alíquota da gasolina, o impacto do imposto sobre os mais pobres não seria tão grande, mas a mudança na cobrança do diesel deve ter consequência mais importante", afirma André Braz, pesquisador do IBRE.
Esse impacto do diesel se deve ao efeito indireto que o combustível tem sobre os preços de alimentos - com o encarecimento do transporte, os produtores de milho, por exemplo, tendem a cobrar mais pelo grão. "E a alimentação é o ramo com peso maior para o orçamento das famílias com renda de até 2,5 salários mínimos", complementa o entrevistado.
Ainda assim, segue ele, a não ser que a situação climática do segundo semestre seja ruim, o grupo alimentação deve terminar 2017 com queda de preços. "Nos primeiros seis meses do ano, as chuvas ajudaram e deram força à supersafra, o que gerou preços mais baixos no agronegócio. Esse quadro só deve mudar se o efeito do diesel mais caro for combinado com algum problema climático durante os próximos meses", diz Braz.
Em julho, houve deflação de 0,36% no grupo Alimentação, que também recuou em junho (-0,78%). No mês passado, a principal influência para este ramo foi a queda de 30,37% no preço da batata-inglesa. Seguiram a mesma trajetória a laranja-pera (-9,67%), o leite tipo longa vida (-2,72%) e o feijão-carioca (-6,85%).
Outro possível efeito indireto do diesel mais caro é o aumento das tarifas de ônibus urbano, indica Braz. "É mais um item que pesa para o bolso dos mais pobres", afirma ele.
Projeções
Se nenhuma mudança relevante ocorrer nos próximos meses, como uma seca prolongada a desvalorização do real, a tendência é que o IPC-C1 termine este ano com alta acumulada de 3%, indica Braz. "Sem o aumento do PIS/Cofins, o índice chegaria a dezembro abaixo dos 3%."
Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o especialista projeta avanço de 3,5% em 2017, que, sem a elevação do tributo, poderia ficar perto dos 3%. "Os preços vão continuar abaixo da meta do governo [4,5%], mesmo se a situação piorar."
Economista da GO Associados, Luiz Fernando Castelli segue a mesma linha. "Aparentemente, não teremos problemas com a próxima safra. Assim, a inflação da baixa renda deve continuar inferior ao IPCA, que deve subir 3,6% neste ano". Antes da alteração tributária, a projeção era de avanço de 3,2% em 2017.
No relatório Focus apresentado na semana passada, os analistas de mercado estimaram que o IPCA vai alcançar alta de 3,4% até dezembro.
Nos 12 meses encerrados em junho, o índice registrou alta de 3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As estatísticas de julho serão divulgadas nesta quarta-feira.
Na prática
A desaceleração do IPC-C1 traz vantagens para as famílias com renda mais baixa, mas o elevado desemprego impede uma percepção melhor dessa trajetória dos preços.
"Com os índices de preços mais baixos, os reajustes salariais conseguem cobrir a inflação com maior facilidade. O problema é que, por causa do alto desemprego, muitas famílias seguem sem fontes de renda, então a queda da inflação acaba não sendo percebida", explica Castelli.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mensal, do IBGE, mostrou que a taxa de desemprego recuou para 13%, no trimestre encerrado em junho. Ainda assim, mais de 13 milhões de brasileiros continuavam sem trabalho no período.
Castelli destaca que o recuo dos índices também favorece o consumo das famílias - especialmente de alimentos, cujos preços estão caindo - e a quitação de dívidas.
Eletricidade mais cara
A desaceleração do IPC-C1 acumulado em 12 meses aconteceu apesar de uma alta de 0,31% do índice, em julho, depois de uma deflação de 0,45% no mês anterior.
Além da alimentação, o grupo Vestuário também registrou uma diminuição nos preços em julho (-0,01%). Todos os demais avançaram no período. Destaque para Habitação (1,36%), Comunicação (0,4%) e Educação (0,31%).
Entre os itens com maior relevância no período, chama atenção a alta de 6,5% na tarifa de eletricidade residencial, que havia recuado 7,05% em junho. "Isso aconteceu por causa da troca da bandeira verde pela amarela", explica Braz. Segundo ele, a mudança para a bandeira vermelha deverá afetar os preços de agosto.
Já com o efeito do novo PIS/Cofins, a gasolina subiu 2,96% em julho, após deflação de 3,05% no mês anterior. Também tiveram aumentos expressivos o tomate (21,83%), a cebola (21,79%) e o condomínio residencial (2,74%).
Fonte: DCI São Paulo