Ainda que seja aprovado neste ano, o projeto de reforma da Previdência terá que ser sucedido por outras medidas bastante agudas para reverter a trajetória de crescimento da dívida pública, disseram ex-autoridades do Banco Central na última sexta-feira.
Para Gustavo Franco, ex-presidente do BC, e Eduardo Loyo e Afonso Bevilaqua, ex-diretores, a elevação dos déficits primários esperados para os próximos anos evidenciou que a economia brasileira tem dificuldades maiores do que as imaginadas até pouco tempo atrás e que a obediência ao teto de gastos vai exigir uma agenda de cortes de despesas mais prolongada.
Para Franco, agora estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos, a flexibilização da estabilidade do funcionalismo público, especialmente nos estados, e a saída do governo de alguns projetos vistos como estratégicos, como o submarino nuclear, devem ser considerados. "A reforma da Previdência não é bala de prata", disse ele durante o 8º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais. "Vai ter que criar algumas válvulas de escape para redução da rigidez orçamentária, principalmente nos governos estaduais".
Segundo Loyo, a recente piora nas projeções de déficits primários para este ano e o próximo mostrou que o quadro é pior do que se imaginava há alguns meses e que isso vai exigir uma reação à altura.
"A sensação é de que a dificuldade fiscal recrudesceu", considerou Loyo, ex-diretor de Estudos Especiais do Banco Central (BC) e hoje economista-chefe do BTG Pactual.
Nas contas de Bevilaqua, ex-diretor de Política Econômica do BC, esse esforço fiscal mais intenso poderá ter que ser estendido aos próximos dois governos, dado que mesmo num cenário positivo o orçamento terá que ser ajustado ao teto de gastos nos próximos 10 anos, mesmo com a reforma da Previdência. Um atraso de dois anos nesse plano faria o Brasil desperdiçar uma economia equivalente a 3% do PIB nos próximos 10 anos.
Crescimento contratado
Presente no sábado no evento da B3, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles disse que a economia brasileira deve fechar 2017 crescendo a um ritmo anualizado de 2%, refletindo vários dados setoriais que sinalizam que o PIB voltou a ganhar tração nos últimos meses. "A retomada da economia vai surpreender a muitos", diz.
Ele reafirmou sua confiança de que o projeto de reforma da previdência que está no Congresso será aprovado neste ano, sem grandes alterações. "A chance de aprovação da reforma da previdência é real", disse o ministro da Fazenda.
Para Henrique Meirelles, aprovar a reforma previdenciária é um interesse de todos os partidos, já que terá que ser feita de qualquer modo e ninguém vai querer assumir o peso político desse porte logo após a eleição.
Fonte: Reuters