São Paulo - A manutenção da taxa de câmbio em um patamar próximo dos R$ 3,00 pode prejudicar o desempenho da balança comercial no próximo ano. É o que afirmam especialistas consultados pelo DCI.
De acordo com eles, o forte avanço das exportações entre janeiro e agosto de 2017, que teve como principal causa o aumento das cotações de diversas commodities, evitou que a valorização da moeda brasileira, na comparação com igual período do ano passado, prejudicasse as trocas internacionais.
Entretanto, esse cenário não deve se repetir em 2018, afirmam os entrevistados. "Não teremos uma alta sustentada de tantos produtos básicos no ano que vem, então o câmbio vai voltar a fazer diferença", diz José Nicolau Pompeo, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
Na visão do entrevistado, os esforços de vários países para desvalorizar as moedas causa uma "guerra de divisas" no mundo. Nesse conflito, segue ele, a situação do Brasil não é boa. "Como não temos a tecnologia e a produtividade necessárias para enfrentar as nações desenvolvidas, precisaríamos de uma taxa de câmbio próxima dos R$ 3,50 para conseguir concorrer", afirma Pompeo.
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), as exportações brasileiras geraram US$ 145,9 bilhões entre janeiro e agosto de 2017, uma alta de 18,1% na comparação com igual período de 2016. Com isso, a balança comercial teve superávit de US$ 48,1 bilhões, o maior patamar da série histórica, iniciada em 1989.
Para 2018, porém, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, indica que o saldo comercial terá um "impacto negativo" para o Produto Interno Bruto (PIB). "A tendência é que as importações cresçam mais do que em 2017 e que as exportações diminuam", diz ele.
Sobre o desempenho das vendas internacionais, Castro indica que as commodities devem ter "cotação menor" durante o ano que vem e que os produtos manufaturados serão prejudicados pela valorização da moeda brasileira.
"A tendência é que o real ganhe força nos próximos meses, já que o aquecimento da demanda interna e as concessões [do governo federal] devem atrair mais recursos do exterior", indica ele. "Se alguma reforma for aprovada, essa valorização será ainda maior."
Castro diz também que a leve alta das vendas de manufaturados, em 2017, se deve a operações intercompany com a Argentina. "São vendas de matrizes para filiais". Com a melhora da demanda interna, projetada para 2018, ele afirma que essas empresas poderão optar por vender no Brasil. "Seria mais um motivo para o recuo das exportações."
De acordo com o relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), a taxa de câmbio deve fechar 2017 em R$ 3,20 e alcançar os R$ 3,30 até o final do ano que vem.
Para Castro, contudo, o patamar ideal fica próximo dos R$ 3,80. "É o necessário para compensar os problemas enfrentados no Brasil, como a falta de infraestrutura e o excesso de burocracia", afirma ele.
Por outro lado, o entrevistado diz que a aprovação de reformas estruturais, como a tributária e a da Previdência, poderá diminuir a exigência de uma taxa de câmbio elevada no futuro. "Em alguns anos, a nossa competitividade vai melhorar por causa da nova CLT", exemplifica ele, ao falar sobre a mudança na lei trabalhista, já sancionada pelo governo.
Recuo do câmbio
No começo do ano passado, durante um dos picos da crise política, a taxa de câmbio chegou a superar os R$ 4,00. Depois, com o afastamento da então presidente Dilma Rousseff e a perspectiva da aprovação das reformas, o real ganhou força e se manteve entre R$ 3,10 e R$ 3,20 em 2017.
Em conjunto com o leve aquecimento da demanda interna, essa valorização do real estimulou as importações, que chegaram a US$ 97,8 bilhões entre janeiro e agosto, uma alta de 7,3% ante o ano passado. Mesmo com esse avanço, as aquisições de bens de capital diminuíram em 2017.
Para o ano que vem, os entrevistados projetam uma melhora das compras, inclusive de máquinas e equipamentos. "O consumo interno vai aquecer e o câmbio vai continuar favorável", afirma Pompeo.
Fonte: DCI São Paulo