A menor inflação nos alimentos deve colaborar para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) ficar abaixo do centro da meta de 4,5% ao ano estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2018.
Em fevereiro último, o IPCA ficou em 0,32%, no menor patamar para o mês desde 2000, quando registrou 0,13%. Em 12 meses até o segundo deste ano, o indicador acumula alta de 2,84%, abaixo do piso da meta, que é de 3% no fechamento de 2018.
Na avaliação de especialistas consultados pelo DCI, o clima favorável com chuvas regulares pelo País deverá contribuir para a maior produção de alimentos, aumentando a oferta e mantendo os preços mais comportados nos próximos meses.
“Não me surpreenderia se a produção agrícola fosse boa novamente [como em 2017] e inflação de alimentos ficasse muito contida neste ano”, observa o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-SP), Walter Franco Lopes. Ele calcula que a inflação anual ficará entre 3% a 3,05% em 2018.
No mês passado, houve deflação de 0,33% no item alimentos e bebidas no IPCA nacional. Entre os destaques, os preços das frutas recuaram 1,13%, e de carnes, baixa de 1,09% no período.
Esse recuo nos preços dos alimentos foi espalhado nas principais capitais, com exceção de Brasília (+0,20%), e do Rio de Janeiro (+0,11%). “Essas duas capitais são importadoras de alimentos, e o custo do frete – do transporte – acaba impactando”, avalia o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Alberto Ajzental.
Em nota, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) ressaltou a contribuição dos alimentos para o ritmo menor da inflação. O item alimentação no domicílio teve queda ainda maior, de 0,61%.
Entre os alimentos observados, a queda mais expressiva foi do alho (-7,94%), seguido por cenoura (-3,88%), batata inglesa (-3,57%) e tomate (-3,29%). “Reflexo principalmente do aumento da oferta, pois estes produtos ainda estão em fase de plena colheita ou de safra recém-encerrada”, destacou a confederação.
“O açúcar foi outro produto com queda expressiva. Os motivos desse barateamento foram a elevada oferta internacional, reforçada pela perspectiva de recuperação da produção de países como Índia e Tailândia, e dos altos estoque do produto no mercado interno”, relatou a CNA.
O economista do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil, Mauricio Nakahodo, notou que a deflação de 0,38% no item vestuário em fevereiro também contribuiu para patamar comportado do IPCA.
“As promoções e liquidações de verão no mês [fevereiro] influenciaram na queda dos preços. Uma elevação [nesse item] irá depender de como será o inverno no Brasil”, lembrou.
O MUFG revisou sua projeção para o IPCA para 3,8% neste ano. A estimativa anterior era de 4,35%. “A maior oferta de alimentos contribui para uma inflação mais moderada dos alimentos, de 5% para 3,8% durante o ano”, disse.
Nakahodo ainda considera que o bom volume de chuva aumentou os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, prolongando a bandeira verde, ou seja, sem cobrança adicional de tarifas. “Por isso, revisamos a previsão para a energia elétrica de 5% para 3,5%”, afirma o economista.
Na previsão dele, a inflação de serviços pode recuar de 4,5% para 4%. “A taxa de desemprego está em patamares elevados, e a geração de postos é mais no setor informal. A renda menor influencia no poder de consumo das famílias”, argumentou Nakahodo.
Reflexo nos juros
Depois da publicação do IPCA de fevereiro, cresceram as expectativas de uma nova redução da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) em 21 de março. “Nossa previsão é de queda de 0,25 ponto percentual para 6,5% ao ano”, prevê Nakahodo. O professor Alberto Ajzental, da FGV, também acredita em juros de 6,5% na próxima reunião.
No entanto, o economista do MUFG prevê que a Selic volte a 7% ao final deste ano, com leves elevações nos meses de outubro e de dezembro.
Fonte: DCI