A recente escalada do dólar frente ao real, que subiu 10,1% em 30 dias, pode resultar em um desabastecimento do varejo popular em novembro. Com os importadores mais receosos em fazer compras da China por conta do câmbio, os tradicionais itens para decoração de Natal poderão não chegar às gôndolas em tempo.
“As importadoras trabalham com um prazo de seis meses entre fazer o pedido no exterior e a entrega no Brasil. Em maio deveriam ser feitos os pedidos de decorações natalinas, que abasteceriam as lojas populares em novembro, mas a desvalorização do real e a falta de confiança na economia podem deixar os importadores mais conservadores nos pedidos”, explica o especialista em comércio exterior e sócio da TrandMarx, Augusto Henrique Hupffuer.
Na avaliação do executivo, o problema no abastecimento deve ficar concentrado no varejo popular, uma vez que as empresas que importam produtos de maior valor agregado possuem mais facilidade de se proteger da oscilação cambial. “As grandes relojoalherias, por exemplo, trabalham com hedge cambial e têm maior estabilidade, mesmo na flutuação do dólar. O problema é que as pequenas importadoras não possuem capital para sustentar medidas assim.”
Para além do problema cambial, a pedra do sapato do importador Benjamim Izidoro são as incertezas políticas. “Eu importo produtos da China há 20 anos. Incertezas com câmbio sempre acontecem, o problema é que agora temos pouca segurança política, e sei que isso afeta diretamente a intenção de compra do consumidor”, comentou ele.
A empresa, que abastece mais de 30 pequenos lojistas na região da 25 de Março, em São Paulo e outros 15 no Saara, no Rio de Janeiro, terá menos variedade de produtos este ano. “Vou ter que colocar o pedido ainda este mês e vou diminuir a variedade de produtos antecipando que o lojista também estará mais conservador no final do ano.”
Efeito cascata
Com a possibilidade de estoques menores para venda de artigos ligados ao Natal no final deste ano, há a possibilidade dos preços chegarem mais caros nas gôndolas. “O valor unitário crescerá pela alta do dólar, mas também por conta da oferta menor”, estima a gerente de comprar das lojas de artigos populares Bem Barato.
A rede, que tem três lojas em Goiânia (GO), arcará também com os custos logísticos do transporte dos produtos. “Nossas mercadorias ficariam até 15% mais caras em função do custo logísticos [quando comparado com o preço em São Paulo]”, conta ela.
A gerente garante ainda que, somando esse custo à alta do dólar e a preços maiores por conta da oferta menor de produtos podem inviabilizar o abastecimento da empresa. “Não adianta colocar um produto caro. As pessoas vão preferir comprar via internet. Minha vantagem competitiva é o preço e a comodidade de levar o produto na hora. Se não tiver esse apelo, a compra não faz sentido”, desabafa.
A executiva também esta avaliando a possibilidade de procurar fornecedores locais para substituir os produtos que seriam trazidos da China. “O problema é que as opções são menores. É possível que eu precise negociar com dezenas de fornecedores para obter um mix similar ao que eu comprava direto com a importadora SM Artigos de Festa.”
Copa do Mundo
Apesar das incertezas com o futuro, na Importadora SM Artigos de Festa o otimismo é pautado no mundial da Rússia, que começa no mês que vem. O gerente de importação da empresa, Cauê Miragonni, conta ter embarcado 15 contêineres de produtos como bandeiras, vuvuzelas, sprays, balões e até peruca com a temática do torneio de futebol.
“Vamos abastecer boa parte do comércio de rua, e temos notado uma busca muito grande por parte de lojas que querem preparar a decoração para a data”, comenta. A perspectiva é que as vendas em junho saltem 35% na comparação com o ano passado, mas ainda ficarão um pouco abaixo do registrado em 2014, quando a Copa aconteceu no Brasil.
Sobre as vendas de artigos ligados ao período natalino, Miragonni se mostrou menos preocupado. “Ano passado as vendas [de artigos par a Natal] não foram tão boas, o que significa que ainda tenho itens como pisca-pisca, bolas decorativas e árvores de Natal em estoque”, contou, ressaltando que as vendas para o fim de ano vão ser pontuais, com maior esforço para comprar itens de menor valor agregado para colocar nas gôndolas.
Fonte: DCI