Ainda que o começo do ano tenha trazido ao varejo a esperança da retomada, o cenário para a soma de 2018 segue delicado. Com a greve dos caminhonheiros, a renda comprometida e a baixa confiança do consumidor, o avanço do setor no ano fica atrelado a setores de necessidade básica – com as vendas condicionadas ao crédito podendo cair até 20% ante ao pico de vendas em 2014.
“Por mais que haja crescimento no setor do varejo, estamos falando de uma base de comparação muito fraca. Ainda falta muito para atingirmos recuperar o que perdemos”, afirmou ao DCI o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP), Guilherme Dietze.
Para ele, a retração em alguns segmentos do varejo pode ser de 20% em relação ao ano de 2014. O motivo é a renda pressionada do consumidor brasileiro e a taxa de desemprego, fatores que inibem a compra de bens de consumo – como por exemplo os eletrodomésticos.
“Estamos enfrentando um nível de confiança do consumidor em queda, uma taxa de desemprego muito elevada e restrição de crédito às famílias”, argumentou. Dietze também lembra que, por mais que a inflação esteja abaixo da meta do governo (4,5%), “o consumidor buscará promoções para o segundo semestre”, especialmente nos modelos de negócio de cash and carry.
Para ele, nem as datas comemorativas dos próximos meses – Dia dos Pais e das Crianças – darão fôlego para o setor, com todas as atenções dos varejistas voltadas para as datas posteriores à eleição, como Black Friday e Natal.
Na mesma linha, o sócio-diretor da consultoria Gouvêia de Souza, Jean Paul Rebetez, diz que a greve dos caminhoneiros “derrubou” o ensaio de recuperação do varejo – gerando um redução no bom humor do consumidor e aumento brusco de preços. “Acredito que ninguém se comprometerá em grandes financiamentos. Os produtos de linha branca, por exemplo, não devem apresentar crescimento acentuado”, afirmou.
Dólar e política
O economista da FecomércioSP diz que outro fator relevante no curto e médio prazo o setor é a alta do dólar – principalmente nos segmentos dependentes de importação. O resultado pode pressionar o patamar atual de preços destes produtos e atrapalhar os planos dos comerciantes para o período de Natal.
Ainda nessa linha, Rebetez considera que lojas de material esportivo – as quais dependem em grande parte de importação – devem sentir com mais intensidade o aumento no preço até o final do ano. Porém, ele lembra que muitas empresas têm ainda estão com estoques grandes, com a possibilidade de “controlar” valores inflados pelo do câmbio.
Para o diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Nuno Fouto, o ambiente político pode é um dos grandes vilões contra a evolução das vendas do varejo para o segundo semestre.
“O mercado não tem o porquê retroceder mais. Uma das coisas que atrapalha a retomada é a instabilidade política. Com a eleição presidencial se definindo e o cenário mais claro, as coisas devem se equilibrar”, antecipa Fouto.
Ele explica que, em função do “vácuo” na economia criado pela paralisação de maio, o desempenho do varejo deve ser menor do que o registrado em 2017. Segundo Fouto, os sinais de uma retomada “consistente” serão vistos só em 2019.
Segundo a última edição do Índice de Confiança do Consumidor, realizado pela Fundação Getúlio Vargas, o otimismo em relação à evolução da economia para so próximos seis meses caiu 3,6 pontos – chegando a 107,1 pontos –, o menor patamar desde agosto de 2017 (105,7 pontos).
Embora as atenções estejam voltadas para a eleição de outubro, ele diz que as datas comemorativas Black Friday e o Natal devem oxigenar o setor. “Vemos muitas promoções no segundo semestre, independentemente da sazonalidade. Ele pondera que os bens de consumo – como eletrodomésticos – comercializados nesses períodos podem ser afetados pelo câmbio. “O segundo semestre, geralmente, é mais forte em termos de venda que o primeiro”, diz.
Fonte: DCI