Com o país saindo a passos lentos da crise econômica, o tom do consumidor neste Natal foi de cautela. Após um ano de grandes incertezas na economia e na política, o brasileiro está mais otimista para 2019, mas isso não se refletiu no consumo. Segundo comerciantes e especialistas em varejo, o mote deste Natal foi comprar presentes baratos e, de preferência, pagos à vista.
E este é um comportamento que deve se repetir em 2019. A melhora nas expectativas só deve se refletir em gastos maiores quando houver uma melhora mais consistente no mercado de trabalho. Com o número de desempregados no país ainda acima de 12 milhões e muitos brasileiros trabalhando na informalidade, falta confiança para comprar. Nem mesmo a inflação baixa deu alívio no orçamento, já que o endividamento ainda é alto.
A Saara, tradicional comércio popular carioca, foi a opção de muitos consumidores antes da chuva que caiu nesta véspera de Natal. A professora particular Thaís Barreto, de 24 anos, só pôde comprar presentes para a filha e para o afilhado nesta segunda-feira, já que só recebeu os pagamentos pelas aulas no fim da semana.
A promotora de vendas Irinea Mello esperou o 13º salário cair na conta para comprar lembrancinhas de até R$10 para filho, nora e neto.
— Aqui é meu shopping — comentou.
Por volta da hora do almoço, quando a chuva começou a cair, o movimento que já não havia sido tão grande minguou. Segundo a gerente da Aidan Festas da Saara, Maria Rodrigues, o dia de maior movimento foi sexta-feira. Mesmo assim, as vendas caíram cerca de 20% em relação ao ano passado. A precaução do consumidor foi notada nas pesquisas da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
— O consumidor está mais cauteloso pela incerteza com o futuro do emprego e optando por usar o 13° salário para quitar dívidas, para não entrar em 2019 endividado — afirma Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC.
Este será o segundo Natal com crescimento de vendas consecutivo, estima a CNC, após quedas em 2015 e 2016. O avanço, porém, deve ser de 3,1%, abaixo dos 3,9% de 2017, alcançando faturamento de R$ 34,6 bilhões.
Natal da lembrancinha
A inflação média do país ficou abaixo de 4%, mas a alta do dólar e das tarifas administradas, como energia elétrica e combustíveis, fez a cesta de bens e serviços típicos do período natalino subir 4,5%, a maior expansão desde 2016. No ano passado, esta cesta teve recuo de 0,5% às vésperas do Natal, segundo estimativa da CNC.
— Os consumidores enxergam uma melhora na economia, frente a 2017. Estão mais otimistas, mas, na prática, isso ainda representa muito pouco. As pessoas querem presentear, mas falta folga no orçamento para isso. E, quanto menor a renda, mais gente planejando gastar menos no Natal — destaca Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do Ibre/FGV.
A sondagem da FGV mostra que, este ano, a intenção de compra do brasileiro subiu levemente sobre 2017, mas continua abaixo de 2014, ano em que teve início a recessão. Os mais pessimistas são os consumidores de menor poder aquisitivo. Na faixa dos que têm renda mensal de até R$ 2.100, 61,1% pretendem gastar menos, diz a pesquisa da FGV.
O Natal do “amigo oculto” ou da lembrancinha está desenhado ao considerar o preço médio do presente, que recuou 9,7% neste Natal, para R$ 94,40. Esse valor caiu em três das faixas de renda pesquisadas, com exceção da mais alta (acima de R$ 9.600).
Nos shoppings, a saída foi fazer sorteios para atrair clientes. Tanto o Plaza Shopping Niterói como o NorteShopping sortearam iPhones. No Botafogo Praia Shopping, o movimento foi maior ontem: o número de carros passando pelo estacionamento aumentou 8% em relação à semana passada. Outro indicador de alta foi a promoção que vai sortear uma viagem para Orlando, que registrou alta de 24% na participação ante a de 2017. (* estagiária, sob supervisão de Luciana Rodrigues )
Fonte: O Globo/RJ