A falta de liderança do governo na condução de reformas e a desaceleração da economia global derrubam otimismo do empresário industrial. Índice de expectativa acumula queda de nove pontos desde janeiro.
“Observamos o governo chegando ao final do quinto mês de mandato e o presidente não se mostra o líder que se esperava, se posicionando de forma ambígua em relação à reforma da Previdência”, avalia o professor de economia e finanças do Ibmec-RJ, Marcelo Mello.
Nesta segunda-feira (20), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou o índice de expectativas do empresário industrial. Embora ainda se mantenha acima da linha de 50 pontos, o que aponta otimismo em relação aos próximos seis meses, o indicador teve o quarto mês seguido de queda e chegou a 60,8.
Para Mello, a articulação política fraca da gestão Jair Bolsonaro tem dado ao Congresso um protagonismo maior na condução da agenda de reformas. “Há uma interlocução entre o [presidente da Câmara] Rodrigo Maia e o [ministro da Economia] Paulo Guedes, mas o ideal seria que o presidente tomasse a liderança para fazer as reformas essenciais.”
O economista destaca que a aprovação do projeto seria apenas o primeiro passo rumo à recuperação econômica do País. “Tem muitas outras coisas para se fazer, como a reforma Tributária e a privatização de estatais. O empresário precisa de um horizonte de longo prazo para investir, não são medidas pontuais que vão impulsionar a geração de emprego e atividade econômica.”
Ele entende que, em função dessa convergência de fatores negativos, é natural que as expectativas do industrial comecem a cair. “Muita gente já começa contabilizar 2019 como um ano perdido. Mas, se a reforma for aprovada nos próximos dois meses, esse sentimento pode mudar.”
Mello acredita que, apesar do aumento do pessimismo em relação a uma retomada econômica, o mercado ainda acredita na aprovação da reforma da Previdência. “O próprio Legislativo tem em conta a atual situação fiscal do Brasil e sabe que não há outra alternativa, independente da liderança do presidente.”
O economista visualiza que com a aprovação do texto, a economia pode ganhar uma injeção de ânimo. “Acredito que isso vai ocorrer e gerar energia para que outras reformas sejam aprovadas. Um crescimento de PIB abaixo de 1,5% seria pífio, mas ainda assim é melhor do que a crise pela qual o País passou.”
Confiança
A CNI divulgou nesta segunda-feira (20) o índice de confiança do empresário industrial de maio. O indicador, que leva em contas uma avaliação do cenário atual e as expectativas para os próximos seis meses, registrou queda de 1,9 ponto e totalizou 56,5. O resultado foi pior entre as pequenas (55,1) e médias empresas (55,7). As grandes atingiram 57,5 pontos.
O índice com pior desempenho foi o de condições atuais, que chegou a 47,8 pontos, ficando pelo segundo mês consecutivo abaixo da linha de 50 — o que indica piora da situação corrente. A avaliação das atuais condições da economia brasileira caiu de 49,4 para 45,6 pontos. Já as expectativas para o País recuaram de 60,7 para 58 pontos.
De acordo com o economista da CNI, Marcelo Azevedo, o ICEI costuma aumentar na passagem de dezembro para janeiro e, com mais intensidade, em períodos de mudança de governo. “Uma queda na incerteza melhoraria o índice. O andamento da reforma da Previdência seria muito importante para uma recuperação da confiança e poderia sinalizar o andamento de outras reformas importantes. ”
Fonte: DCI