O Ministério da Economia reviu ontem sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 a uma contração de 4,7%, contra alta de 0,02% vista em março, em um reflexo do profundo impacto da paralisação das atividades no País por conta dos esforços para desacelerar a disseminação do novo coronavírus.
“É a maior queda da série histórica que começou em 1900. Isso, por si só, nos mostra a severidade do problema que estamos lidando”, afirmou o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.
Nas contas da Secretaria de Política Econômica (SPE), a recomposição para valores pré-crise, de dezembro de 2019, virá somente em 2022, em um processo de retomada que não será tão rápido como chegou a aventar o ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Nossa recuperação tende a não ser em V. Recuperação tende a ser mais no formato em U”, afirmou o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, em coletiva virtual de imprensa.
A revisão para um tombo superior a 4% havia sido antecipada pela Reuters. O novo número pressupõe que as políticas de distanciamento social vão durar apenas até o fim de maio.
Caso esses esforços de distanciamento se prolonguem até o final de junho, “certamente haverá queda maior do que 6% do PIB”, pontuou o subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles.
A SPE estimou que cada semana adicional de isolamento produz uma perda para a economia de R$ 20 bilhões.
Para a inflação medida pelo IPCA, a perspectiva agora é de alta de 1,77% em 2020, ante expectativa anterior de 3,05%. Nesse caso, os principais responsáveis pelo recuo na estimativa são os desempenhos esperados para bens industriais e serviços.
“O recuo para a projeção anual não será maior devido à aceleração recente apresentada pelo grupo Alimentação no Domicílio, que engloba, genericamente, alimentos vendidos por mercados e estabelecimentos similares”, ressaltou a SPE, em nota.
Os novos dados fazem parte da grade de parâmetros que irá fundamentar a revisão para o comportamento das contas públicas no próximo relatório bimestral de receitas e despesas, a ser publicado até o dia 22.
No boletim Focus mais recente, economistas ouvidos pelo Banco Central pioraram sua expectativa para o PIB neste ano a uma contração de 4,11%, contra queda de 3,76% antes. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu, em abril, uma retração de 5,3% para o Brasil em 2020, enquanto o Banco Mundial estimou um recuo de 5%.
Para o primeiro trimestre deste ano, período ainda não inteiramente afetado pela crise do coronavírus, a projeção da Secretaria de Política Econômica (SPE) é de recuo de 1,3% do PIB sobre o trimestre anterior.
Para o segundo trimestre, a perspectiva é de queda de 7% do PIB, seguida por retomada de 3,6% no terceiro trimestre e uma expansão de 1,7% nos últimos três meses de 2020.
Olhando à frente, a SPE vê o PIB anual com expansão de 3,20% em 2021, com o desempenho desacelerando em 2022 a uma alta de 2,60%, seguida por crescimento de 2,5% tanto em 2023 como em 2024.
“Dessa forma, o crescimento para o próximo ano recompõe parcialmente a recessão deste ano, porém, ainda assim, espera-se que o PIB só alcance o seu valor pré-crise em 2022”, disse a secretaria.
Em função do mergulho esperado para o PIB neste ano, a equipe econômica irá divulgar amanhã suas novas estimativas fiscais para este ano, que refletirão uma piora na expectativa de déficit primário, déficit nominal e endividamento público, adiantou Waldery.
“Resultado primário que nós estimamos vai ser acima de 7%, possivelmente acima de 8% (de déficit em relação ao PIB), o mais grave da história”, disse.
Políticas – Sobre as medidas de socorro durante a crise, em especial a duração do auxílio emergencial de R$ 600, os membros da equipe econômica ressaltaram na coletiva que as ações do governo são transitórias e que foram desenhadas para ter começo, meio e fim.
“Isso no tempo devido será analisado”, afirmou Waldery, quanto a eventual extensão ou reformatação do auxílio.
Já em relação ao uso de recursos públicos para investimentos, o secretário especial de Fazenda afirmou que o time de Guedes não descarta essa iniciativa, desde que ela seja feita buscando a máxima eficiência.
Sachsida, por sua vez, disse que a elevação do investimento público pode ser feita “pontualmente”, mas com respeito à regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas ao avanço da inflação do ano anterior. Para tanto, é necessário que gastos sejam remanejados dentro do Orçamento, destacou ele.
Fonte: Diário do Comércio