Minas Gerais pode perder até 921.435 postos de trabalho em 2020 por conta dos reflexos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) na economia. O dado foi divulgado pela Fundação João Pinheiro (FJP) e evidencia o que poderá ocorrer em um cenário mais pessimista no Estado.
Quando se pensa em um quadro mais otimista, contudo, os números ainda permanecem alarmantes. De acordo com as informações da entidade, nesse cenário, 547.013 vagas de trabalho poderão ser fechadas neste ano. O que separa um cenário do outro é o tempo de duração das medidas de distanciamento social – quanto maior ele for, menor será o número de empregados no fim de 2020.
A pesquisa da entidade também mostra que os setores mais afetados em relação à perda dos postos de trabalho deverão ser comércio em geral, construção, serviços domésticos, educação e saúde privadas, alojamento e alimentação, transporte e armazenamento e confecção de artefatos do vestuário. Todos eles, ressalta a FJP, intensivos em mão de obra.
Conforme destaca o pesquisador da entidade, Glauber Silveira, a perda de empregos em Minas Gerais deverá ser a maior dos anos recentes. Nem mesmo na época da recessão, lembra, foram projetados números tão elevados. Até o fim do ano, frisa, cerca de 18% da população mineira poderá estar sem um trabalho.
Glauber Silveira explica também que o público mais afetado nesse sentido são as mulheres, as pessoas mais jovens, entre 18 e 24 anos, as pessoas que se autodeclaram pretas e aquelas que têm menor nível de instrução.
Na questão do gênero, explica ele, existe ainda um viés de discriminação. “Já é algo histórico. A remuneração das mulheres, por exemplo, é menor do que a dos homens, apesar de elas, em geral, terem melhor qualificação acadêmica”, diz. A possibilidade de as mulheres poderem se tornar mães também é algo que ainda dificulta a inserção do sexo feminino no mercado, lembra ele.
Em relação aos mais jovens, salienta, o que pesa é a menor experiência profissional. “Em um momento de turbulência, de incertezas, muitas empresas preferem demitir os mais jovens, aqueles em que elas investiram menos na formação, do que despedir um gerente, que está lá há mais tempo, por exemplo”, pondera.
A questão da cor, por sua vez, também passa pelo viés discriminatório, segundo Glauber Silveira, além do fato de que pretos e pardos costumam ter menos instrução formal e poder aquisitivo. Por fim, aqueles que têm menos qualificação também compõem os grupos dos que têm mais dificuldade para entrar e se manter no mercado de trabalho.
O pesquisador da FJP chama a atenção ainda para o fato de que as pessoas sem carteira assinada estão sendo bem mais impactadas de forma imediata em meio à crise causada pela disseminação do Covid-19. Isso porque não contam com a proteção trabalhista.
Perspectivas – Mesmo com todas as projeções e estudos, o cenário continua a ser de muitas incertezas. Conforme ressalta Glauber Silveira, os impactos do novo coronavírus só foram parcialmente colhidos até agora.
No entanto, o próximo ano poderá trazer um panorama um pouco melhor, já de recuperação. “Em 2021, com a retomada das atividades, o mercado de trabalho tende a voltar a contratar gradualmente”, ressalta.
No entanto, diz ele, ainda não é possível nem mesmo projetar quando teremos de volta aquele cenário de antes da pandemia, do início do ano. “Várias coisas ainda estão nebulosas. Vai depender de quando tempo o vírus vai permanecer ativo. Quanto mais rápido surgir um tratamento ou vacina, mais rápida será a recuperação econômica e do mercado”, finaliza.
Fonte: Diário do Comércio