O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 1,5% no 1º trimestre, na comparação com os 3 últimos meses de 2019, segundo divulgou nesta sexta-feira (29) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado reflete apenas os primeiros impactos da pandemia de coronavírus e coloca o país à beira de uma nova recessão, uma vez que a expectativa é de um tombo ainda maior no 2º trimestre.
A retração nos 3 primeiros meses de 2020 veio dentro do esperado pelo mercado e interrompe uma trajetória de 3 anos de lenta recuperação da economia brasileira, que já mostrava perda de ritmo na virada do ano, e ainda se encontrava distante do patamar anterior ao do início da recessão de 2014-2016.
A queda no 1º trimestre foi o primeiro resultado negativo para o PIB desde o final de 2018, uma vez que o IBGE revisou os dados do 4º trimestre de 2018 para um recuo de 0,1%, ante leitura anterior de estabilidade.
Na comparação com o 1º trimestre de 2019, a queda foi de 0,3%. No acumulado em 12 meses, registrou aumento de 0,9%, comparado aos trimestres imediatamente anteriores. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,803 trilhão no período entre janeiro e março.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.
Após despencar 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016, a economia brasileira registrou taxa de crescimento de 1,3% em 2017 e em 2018, desacelerando para um ritmo de 1,1% em 2019. Agora, com o choque provocado pela pandemia, a retomada deverá demorar mais para ser alcançada.
O IBGE revisou os dados do PIB de 2019. No primeiro trimestre, cresceu 0,2%, ao invés do resultado nulo divulgado anteriormente. No 2º trimestre, a alta foi mantida em 0,5%. Já nos dois últimos trimestres a revisão foi para baixo: no 3º trimestre, a alta foi de 0,5%, e não 0,6%, e a do 4º trimestre foi de 0,4%, ante 0,5% da divulgação anterior.
O que mais pesou na queda do PIB
De acordo o IBGE, a retração da economia neste começo de 2020 foi causada, principalmente, pelo recuo de 1,6% nos serviços, setor que representa 74% do PIB. Foi a maior retração do setor desde o 4º trimestre de 2008 (-2,3%).
A indústria também caiu (-1,4%), enquanto a agropecuária cresceu (0,6%), impulsionada pela safra da soja que tem, inclusive, perspectiva de recorde para esse ano.
Veja os principais destaques do PIB no 1º trimestre:
• Serviços: -1,6% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2016 e maior retração desde 2008)
• Agropecuária: 0,6%
• Indústria: -1,4% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2018), quando foi -0,4%
• Indústria extrativa: -3,2%
• Construção civil: -2,4%
• Comércio: -0,8%
• Consumo das famílias: -2% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2016)
• Consumo do governo: 0,2%
• Investimentos: 3,1% (reverteu queda de 2,7% no trimestre anterior)
• Exportação: -0,9%
• Importação: 2,8%
Consumo das famílias tem maior queda desde 2001
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias desabou 2%, interrompendo uma sequência de 12 trimestres seguidos de alta.
"Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001", destacou a pesquisadora do IBGE, acrescentando que o consumo das famílias pesa 65% do PIB.
O poder de compra das famílias foi afetado neste começo de ano pela combinação de crescimento do desemprego, queda da renda, aumento do endividamento e incerteza provocada por novas ondas de contaminação da doença.
Investimentos revertem queda do trimestre anterior
Por outro lado, os investimentos tiveram alta de 3,1% no 1º trimestre, revertendo assim a queda registrada no trimestre anterior (-2,7%), puxados pela importação líquida de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás. Já o consumo do governo teve variação de 0,2%, o que segundo o IBGE mostra um cenário de estabilidade.
A taxa de investimento foi de 15,8% do PIB, acima do observado no mesmo período de 2019 (15%), mas ainda bem abaixo do patamar acima de 21% registrado em 2013. Já a taxa de poupança foi de 14,1% no primeiro trimestre de 2020, ante 12,2% no mesmo período de 2019.
No setor exterior, as exportações de bens e serviços tiveram contração de 0,9%, enquanto as importações cresceram 2,8% em relação ao quarto trimestre de 2019.
"As exportações foram bastante prejudicadas pela demanda internacional. Um dos países muito importantes para a gente que tem afetado nossas exportações é a Argentina. E a China também, que no primeiro trimestre foi o primeiro país a fechar as fronteiras. Então as nossas exportações foram bastante afetadas", avaliou Rebeca, acrescentando que a cadeia de produção brasileira começou a ser afetada já em fevereiro.
Já a importação teve como principais destaques a aquisição de máquinas e equipamentos, sobretudo para o setor de petróleo e gás, e de metalurgia.
Com a redução do saldo externo de bens e serviços, a necessidade de financiamento da economia brasileira cresceu para R$ 58,3 bilhões ante R$ 57,5 bilhões no mesmo período do ano anterior.
Perspectivas sombrias para 2020
Como o resultado do PIB do 1º trimestre refletiu apenas as primeiras semanas de isolamento social e das medidas de restrições para conter o avanço da Covid-19, que começaram em meados de março, a expectativa é de uma retração ainda mais profunda da economia entre os meses de abril e junho, uma vez que indicadores já divulgados mostraram abalos ainda mais profundos, tanto na produção e no consumo como no mercado de trabalho e na renda.
Questionada sobre as perspectivas para retomada do crescimento, Rebeca disse que é preciso aguardar para saber como as atividades vão se comportar nos próximos meses. Ressaltou, porém, a importância da retomada do mercado de trabalho para aquecer a economia como um todo, sugerindo que não há sinais de retomada do setor. "O mercado de trabalho, em geral, não costuma se recuperar tão rápido", observou.
O mercado passou a projetar um tombo de 5,89% para o PIB neste ano, segundo o relatório "Focus" do Banco Central, e a maior parte dos analistas dá como certa a entrada no país em uma nova recessão, definida tecnicamente por 2 trimestres seguidos de retração da atividade. Caso a expectativa se confirme, será o pior desempenho anual desde 1901, pelo menos.
Para o Banco Fator, por exemplo, há risco inclusive da recessão se estender até 2021. "O risco de o cenário da pandemia ser pior do que se espera é elevado. Desde logo, é difícil que o afastamento seja completamente eliminado no terceiro trimestre. Assim como não se pode esperar que não haja idas e vindas no afastamento, ainda que sem uma segunda onda", avaliou o economista José Francisco de Lima Gonçalves.
Nesta semana, o Brasil se tornou o novo epicentro mundial da Covid. Já são mais de 26 mil mortos e quase 442 mil casos confirmados. O Brasil é o segundo país no mundo com o maior número de casos confirmados da doença, atrás dos Estados Unidos.
Fonte: G1