A inflação no Brasil, muitas vezes, é tratada como um problema que ficou no passado. No entanto, conforme destaca a pesquisadora da área de economia aplicada do FGV Ibre Juliana Damasceno, o risco é real e permanente e tem de ser vigiado.
A pandemia do Covid-19 tem tornado essa realidade ainda mais evidente e pode ser uma das maiores responsáveis pela elevação maior dos preços no longo prazo, alerta a especialista. Isso está relacionado, em grande parte, ao endividamento público atual.
Outros profissionais consultados pelo Diário do Comércio concordam que o País poderá passar por um aumento da inflação daqui a uns dois ou três anos, embora descartem uma realidade como a que hoje vive a Argentina, por exemplo. No entanto, destaca o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec BH) Hélio Berni, a pressão maior nos preços vai depender da forma como o governo vai agir.
O professor lembra que os gastos públicos têm aumentado e há, atualmente, uma flexibilização do controle que tem sido feito ao longo dos cinco anos em cima do endividamento público. Existem muitas empresas quebrando por causa dos reflexos da pandemia do Covid-19 e pessoas estão perdendo seus postos de trabalho. A assistência financeira dada pela União existe hoje, mas poderá ter consequências mais tarde.
“Dependendo da maneira como o aumento do gasto for financiado, isso poderá gerar crescimento geral dos preços. Se o governo opta por aumentar a emissão de moeda para financiar esses gastos, pode gerar aumento da demanda agregada da economia e do nível geral de preço”, salienta ele.
O professor do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte, Ivan Melo, também chama a atenção para a possível emissão maior de moeda para financiamento do déficit e como isso poderá afetar os preços lá na frente. “Quanto mais moeda se emite, menor vai ser o seu valor e maior a inflação”, acrescenta.
Porém, esse não é o único fator preocupante. Juliana Damasceno ressalta também que com a dívida pública aumentando bastante, o mercado passa a ter medo de calote. Assim, há uma dificuldade de rolar a dívida. A medida que se toma, então, para pagar um título, é emitir mais título.
Com o risco de calote e o nível de dívida elevado em termos de Produto Interno Bruto (PIB), que atualmente está se aproximando dos 100%, o Tesouro encurta a dívida e paga a mais longa com a mais curta. “A dívida vai crescendo com o prazo mais curto. É preocupante”, diz a pesquisadora, que salienta, que, assim, a política monetária tem cada vez menos efeitos.
Possibilidades
Embora o risco do aumento da inflação seja real, ele não é para o curto prazo, lembra Juliana Damasceno. Atualmente, o que se tem é uma economia fraca, com pouca demanda e desemprego alto. Assim, consegue-se continuar baixando os juros.
Mas, mesmo falando do longo prazo, o professor Ivan Melo acredita que não chegaremos a ter uma inflação desenfreada.
“O real é uma moeda muito sólida. Não acredito que a gente vá ter uma inflação desenfreada, apesar de poder haver aumento da inflação. O Brasil tem fundamentos sólidos do controle da moeda e da inflação”, frisa.
Fonte: Diário do Comércio