Apesar da projeção de tombo recorde no 2° trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu menos do que o da maioria das economias da zona do euro e de outros países da América Latina como México, Colômbia, Chile e Peru, segundo levantamento da Austin Rating. O dado oficial do PIB brasileiro, que será divulgado no próximo dia 1° de setembro, deve mostrar uma contração de até 10% na economia.
A prévia do ranking do desempenho do PIB das maiores economias do mundo mostra que em 18 países a queda no 2° trimestre foi superior a 10% na comparação com os primeiros 3 meses do ano. Em diversos países a retração foi recorde, em meio aos abalos e restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus.
As maiores quedas entre os 38 países do ranking que já divulgaram dados oficiais do período entre abril a junho foram no Peru (27,2%) e Reino Unido (20,4%). Na zona do euro, os países com retração mais drástica da atividade econômica foram a Espanha (-18,5%), Portugal (-13,9%) e França (13,8%). Nos Estados Unidos, o recuo foi de 9,5% e, na Alemanha, o tombo foi de 9,7%. Já na China, houve alta de 11,5%.
A estimativa atual é que economia brasileira mostre um tombo recorde em torno de 8% a 10% no 2° trimestre, frente aos 3 meses anteriores, o que colocará o país oficialmente em recessão. Levantamento do G1 mostrou que, de 12 consultorias e instituições financeiras consultadas, 10 esperam um tombo de até 10% – patamar em linha com o da última projeção do governo.
A Austin estima uma queda de 10,1% do PIB do Brasil no 2° trimestre, o que deixaria o Brasil na 23° posição do ranking, considerando também as projeções para outros países que ainda não divulgaram os números oficiais. No 1° trimestre, o Brasil teve retração de 1,5% e ficou na 16ª posição no comparativo entre as maiores economias.
"Se o resultado oficial vir abaixo de 9% como espera parte do mercado, a queda será menor também que a registrada pelos Estados Unidos", afirma Alex Agostini, economista-chefe da agência classificadora de risco de crédito, que faz periodicamente o ranking.
Veja a prévia do ranking do PIB dos países no 2° trimestre:
China: 11,5%
Hong Kong: -0,1%
Taiwan: -1,4%
Finlândia: -3,2%
Coréia do Sul: -3,3%
Indonésia: -4,2%
Lituânia: -5,1%
Letônia: -7,5%
Japão: -7,8%
Israel: -8,1%
Eslováquia: -8,3%
República Tcheca: -8,4%
Holanda: -8,5%
Suécia: -8,6%
Polônia: -8,9%
Estados Unidos: -9,5%
Alemanha: -9,7%
Tailândia: -9,7%
Bulgária: -9,8%
Ucrânia: -9,9%
Áustria: -10,7%
Chipre: -11,6%
Bélgica: -12,2%
Romênia-12,3%
Itália: -12,4%
Cingapura: -13,1%
Chile: -13,2%
França: -13,8%
Portugal: -13,9%
Hungria: -14,5%
Colômbia: -14,9%
Filipinas: -15,2%
Malásia: -16,5%
México: -17,1%
Espanha: -18,5%
Tunísia: -20,4%
Reino Unido: -20,4%
Peru: -27,2%
Perspectivas
Entre os fatores que explicam uma queda menos acentuada do PIB do Brasil no 2° trimestre, a Austin cita o bom desempenho da agropecuária, a alta das commodities metálicas e também o socorro do governo às empresas e famílias, que ajudaram a atenuar os efeitos da pandemia, que já deixou mais de 115 mil mortos no país.
No Brasil, as despesas autorizadas para gastos relacionados à pandemia já somam mais de R$ 510 bilhões e devem alcançar, segundo cálculos do banco Itaú, 7,9% do PIB, percentual superior ao desembolsado por outros países.
"Mas também é importante registrar que o país demorou para fazer a quarentena, bem como saiu mais rápido que os demais países", destaca Agostini, citando a abertura prematura de setores da economia no Brasil.
Apesar da reação de diversos segmentos nos últimos meses, analisas têm alertado para o risco de perda de fôlego da economia brasileira na reta final do ano e de até mesmo uma retração no 4° trimestre, em meio ao encerramento ou enxugamento de medidas de alívio dos reflexos da pandemia no país e desemprego em alta. A avaliação é que o PIB só deverá recuperar o patamar pré-pandemia em 2022.
Para o ano de 2020, o mercado reduziu a previsão para o tombo PIB do Brasil de 2020, revisando a estimativa de uma redução de 5,52% para 5,46%, segundo última pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda-feira (24). Para 2021, a projeção é de um avanço de 3,5%.
A Austin estima queda de 5,1% em 2020 e expansão de 3,3% no ano que vem.
"Infelizmente, a recuperação no Brasil será mais lenta em relação as demais economias, com destaque para as economias emergentes, em virtude de o Brasil estar algum tempo em processo de recuperação fraca devido aos desarranjos do lado fiscal, que acumula déficit anual desde 2014, bem como os entraves entre Executivo e Legislativo que afetam a aprovação das reformas estruturantes, além das recentes discussões sobre a manutenção do teto de gastos", avalia.
Fonte: G1