IGP-M acumula alta recorde e continuará acelerando no 1° tri de 2021

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Bem em ano de pandemia, o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), medido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), acumulou alta de 25,71% entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2021, o maior percentual da série histórica iniciada em janeiro de 2017.

 

A alta do dólar e das commodities no mercado internacional puxaram o indicador para cima. O índice de maior peso do indicador, o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), que equivale a 60% do total e monitora preços no atacado, foi o que mais pressionou o IGP-M, explica Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

 

A desvalorização cambial do real frente ao dólar, de 25% em 2020, mais a alta do preço em dólar de commodities agrícolas e industriais importantes, como milho, trigo, minério de ferro, cobre e alumínio, fez o IPA, sozinho, subir mais de 60% em 12 meses, segundo André Braz, coordenador dos Índices de Preço do Ibre/FGV.

 

Esses aumentos, segundo o economista, pressionaram muito a indústria que compra insumos, e esse repasse de custos pressionou o varejo e o consumidor de forma mais visível nos alimentos.

"Em 2020, eles foram os vilões da inflação, com o encarecimento de carnes e da ração de suínos e bovinos, que se alimentam de derivados de milho e soja, que são os grãos mais caros", explica.

 

E não há uma expectativa de queda de preços no curto prazo, afirma Braz, já que há uma incerteza muito grande sobre a inflação, relacionada à covid e a uma política de vacinação um tanto confusa.

Sem contar a política fiscal, onde o governo não arrecada tudo o que precisa para pagar contas, e esse déficit fiscal faz com que a relação dívida-PIB (Produto Interno Bruto) seja de praticamente 100%.

 

Esta, porém, não é variável de longo prazo, afirma, mas essas duas fontes de incerteza ajudam a manter a taxa de câmbio entre R$ 5,20, R$ 5,40, encarecendo produtos importados. "Elas sustentam o problema vivido de forma mais aguda em 2020: o país ficou mais competitivo, porém forçando o desabastecimento doméstico."

 

O economista da FGV reforça que, com a pressão de custos em torno do IGP-M, é provável que haja espalhamento maior da inflação do consumidor. "Ele só não foi mais rápido e dinâmico porque o pais vive um desemprego alto, a economia caminha lentamente, e esse baixo apetite nos protege um pouco de repasses agudos de preços", diz.

 

Na prática, para o varejo, segundo Alfieri, da ACSP, a alta do indicador que reajusta os aluguéis pode levar muitos lojistas, principalmente de shoppings, a sair e aumentar os índices de vacância se não houver renegociação, como já veio acontecendo ao longo de 2020. "O ideal seria usar o IPCA ou o IPC-Fipe", afirma.

 

Se para quem é lojista ainda dá para tentar trocar de ponto, para o consumidor o cenário é outro, lembra o economista. Ainda mais com o fim do auxílio emergencial, e a falta de perspectiva de um novo programa de transferência de renda. "A alta dos alimentos transferida para os preços impacta mais quem ganha menos."

 

Uma tendência a curto prazo 

 

Mas a pergunta é: será que o IGP-M vai continuar em trajetória de alta e pressionará ainda mais o bolso de quem vende - e principalmente, do consumidor na ponta?

Braz, do Ibre/FGV, acredita que essa seja uma tendência, a princípio, para o 1º trimestre já que, no mercado externo, as grandes commodities que pesam muito no IPA continuam a fazer pressão inflacionária nos IGPs.

 

"Quando chega aqui, coincide com a desvalorização do câmbio e muita volatilidade, aumentando o efeito de alta lá fora", diz. "E a gente não vê outra tendência senão de alta, pois o preço continua subindo em dólar."

O economista do Ibre reforça dizendo que esse cenário não deve mudar ao longo desses três primeiros meses. Mas além desse horizonte, fica difícil antecipar o que pode acontecer.

 

"Depende de como a pandemia vai se comportar no mundo, e também no Brasil, claro", afirma.

No médio e longo prazos, os impactos no IGP-M dependem do andamento das Reformas no Congresso, que podem dar confiança e segurança no equilíbrio das contas públicas e estabilizar o dólar, diz Alfieri, da ACSP.

 

Mas também há uma expectativa de uma safra recorde, que pode equilibrar o preço dos alimentos. "O governo deve continuar apoiando o setor agropecuário para produzir novos recordes", sinaliza.


Fonte: Diário do Comércio


 


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