A desindustrialização é um velho fantasma, que desperta polêmica no Brasil. Uma corrente de economistas acredita que o processo está em curso, provocado pela valorização do real. Outro grupo defende que é impossível falar em desindustrialização em um País com uma economia interna pujante. Os dois lados têm bons argumentos.
Para o coordenador do grupo de indústria do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), David Kupfer, o perigo de desindustrialização é real, principalmente no cenário global de pós-crise. "Hoje mais exportadores estão de olho no mercado brasileiro", disse.
Com a grande entrada de recursos no País, o câmbio está se valorizando, reduzindo a competitividade da indústria brasileira, que passa a importar cada vez mais insumos e peças e a enfrentar concorrência acirrada de produtos acabados que vêm do exterior.
Kupfer lembra que, antes da turbulência internacional, as importações brasileiras cresciam a taxas de 50%. "Por conta da recuperação da economia, em um contexto internacional de fraco crescimento, podemos retomar em 2010 esse ritmo de importações, prejudicando a balança comercial."
Para o economista, o maior problema é de longo prazo. Na sua avaliação, o real forte vai provocar uma perda de "adensamento" das cadeias produtivas, transformando as empresas brasileiras em simples montadoras de produtos.
INDÚSTRIA AVANÇA
O economista do banco Santander, Cristiano Souza, tem uma posição completamente diferente da do seu colega da UFRJ. Ele afirma que não existe desindustrialização em um País em que a produção cresceu, em média, 4,6% ao ano entre 2004 e 2008. No mesmo período, o emprego na indústria avançou 1,4% por ano.
"Não dá para falar disso no Brasil", afirmou. Ele argumenta que o impacto da concorrência externa não é tão expressivo, porque a economia brasileira ainda é relativamente fechada. Além disso, o mercado interno pujante vai garantir um bom desempenho para a indústria no próximo ano.
Segundo o economista, alguns setores, como calçados ou têxteis, estão sendo prejudicados pelos importados, mas a situação é a mesma nos mais diversos países, por conta da alta competitividade dos asiáticos. "Não é um problema de câmbio. Se o dólar estivesse em outro patamar, a situação não seria muito diferente."
Veículo: O Estado de S.Paulo