No ano passado, a indústria de lácteos freou o repasse de preços aos consumidores
O consumo de lácteos costuma diminuir no país em períodos de inflação e desemprego altos. Apesar disso, o iogurte tem mostrado certa “resiliência” na crise atual: o produto conquistou espaço nobre na cesta de perecíveis dos brasileiros e, assim como frangos, linguiças e queijos, passou a ser um dos itens que os consumidores demoram mais para abandonar, indicam dados da empresa de inteligência de mercado Kantar.
Mas, resiliência do produto à parte, a indústria de laticínios terá um desafio nada desprezível em 2022: manter a fidelidade dos consumidores de iogurte, posição consolidada na década passada, e aumentar as vendas em um momento em que precisa repassar os custos represados do último ano.
Os preços do leite cru – principal matéria-prima para esses fabricantes – e as despesas com energia, combustível e embalagens, entre outras, têm pesado nas planilhas de custos. “O ano passado será lembrado pelas altas no campo, pela baixa rentabilidade para o produtor e, também, pela dificuldade dos laticínios em repassar aos derivados o aumento do preço do leite cru”, afirma Natália Grigol, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em boletim recente.
Na média Brasil, o preço do leite pago ao produtor – ou seja o desembolso da indústria – ficou em R$ 2,2596/litro no intervalo de janeiro a novembro, 18,1% acima da média do mesmo período de 2020 (dado deflacionado pelo IPCA de novembro). Nesse mesmo intervalo, os laticínios receberam apenas 1,7% a mais pelo UHT e 1,9% pelo muçarela, cita o Cepea.
A tendência é que o iogurte continue a ser um dos itens perecíveis mais presentes na lista de supermercado dos brasileiros, avalia Carolina Silvestre, diretora da divisão Worldpanel da Kantar. “O iogurte continue a ser um dos itens perecíveis mais presentes na lista de supermercado dos brasileiros, avalia Carolina Silvestre, diretora da divisão Worldpanel da Kantar. “O iogurte está entre os produtos que o brasileiro demora mais para abandonar por considerá-los importantes”, explica.
Entre outubro de 2020 e setembro de 2021, dado mais recente coletado pela empresa, a comercialização de iogurtes no país totalizou 592 mil toneladas, volume 1,3% maior que o dos 12 meses anteriores. O avanço, pequeno, é sintoma do cenário macroeconômico desfavorável, mas, em receita, o segmento movimentou R$ 6,6 bilhões, ou 13% a mais na mesma comparação. De outubro de 2019 a setembro de 2020, o volume havia diminuído quase 4%.
Esse aumento de receita foi resultado direto da alta de preços, diz a diretora da Kantar. Apenas no terceiro trimestre do ano passado, o preço médio das unidades comercializadas aumentou 11,6%.
Arte: Valor
Mesmo com a perda de poder de compra dos brasileiros, o iogurte ainda está na lista de supermercado de mais de 70% das famílias do país, de acordo com a Kantar. No verão de 2021, informa a empresa, o alcance chegou a 72,8%.
Neste verão, estação em que o consumo do produto costuma crescer, a demanda deverá seguir firme, diz Carolina Silvestre. Quem consome e tem condições de manter o produto na lista de compras, explica, reduz o volume de compra ou troca de marca antes de abrir mão do produto.
Fonte: Valor